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Terpenos para iniciantes



14/09/2023


Com prazer escrevo minha primeira coluna para esse canal que busca a democratização da medicina canabinoide em momento em que de fato isso tem ocorrido.
Como generalista tenho uma visão de manter o uso dos fitocanabinoides longe do charlatanismo ao mesmo tempo em que popularizo o conhecimento, e com certeza parte dessa visão inclui a necessidade do médico, e do paciente, conhecerem o perfil de terpenos da medicação prescrita.

Primeiro é essencial que o colega de profissão saiba o que é o COA (Certificado de Análise) e dentro dele busque a análise de terpenos. Nem todo óleo tem COA e é muito menor o número de medicações que possuem análise de perfil de terpenos.

Mas o que são terpenos?

De maneira superficial: terpenos são substâncias voláteis que estão presentes na planta com o intuito de afastar pragas. Para os seres humanos os terpenos são eficazes para agir no princípio de sinergia botânica, reduzindo a quantidade necessária de outros canabinoides pelo chamado “Efeito Entourage”. Até 2020 tínhamos cerca de 96 terpenos listados.

De maneira técnica: os terpenos provém de compostos orgânicos derivados de ligações carbônicas que formam os isoprenos. Pares de isoprenos são necessários para formarem os terpenos e assim sendo se apresentam em monoterpenos, diterpenos e sesquiterpenos (os mais comuns).

Os terpenos mais presentes na planta são os monoterpenos Pineno, Limoneno e Mirceno, porém são altamente voláteis e podem se perder em etapas de secagem e estoque, assim o terpenos que mais sobram na planta seriam os sesquiterpenos, tendo como seu principal representante o Cariofileno.

Como aqui a intenção é facilitar, prometo que esse é o mais tecnicamente profundo que iremos.

Para que serve cada um deles:

Acredita-se que uma concentração acima de 0,05% de terpenos já seja suficientemente terapêutica, sugiro que reflitam sobre esse número sempre que virem um COA.

Agora vou listar os mais conhecidos

1) D-limoneno: é um precursor de outros monoterpenos e o segundo terpenoide mais distribuído na natureza, presente no limão e em óleos essenciais cítricos. Possui atividade ansiolítica por aumento de serotonina e dopamina e já foi empregado em estudos fase II para câncer de mama.

2) Beta-mirceno: o terpeno mais presente na cannabis, tem atividade anti-inflamatória por via da prostaglandina (PGE-2), propriedade analgésica (via liberação de opioides endógenos pelo receptor alfa2-adrenérgico) e relaxante muscular em estudos com animais. Também tem efeito antitussígeno relatado.

3) Alfapineno: o terpenoide mais comum na natureza, possui atividade anti-inflamatória via PGE-1, além de inibir acetilcolinesterase e por tal motivo pode ser um bom associado para evitar redução cognitiva.

4) D-linalol: um monoterpenoide que tem propriedades químicas similares a lavanda, que conhecidamente tem atividade ansiolítica, sedativa e anticonvulsivante (essa última demonstrada em animais)

5) Betacariofileno: é o sesquiterpenoide mais presente na cannabis principalemente após a descarboxilação por calor. Também presente na pimenta preta, é um agonista de receptor CB2, possui atividade anti-inflamatória via PGE-1 assim como ação analgésica e ansiolítica.

6) Cariofileno: comprovadamente agonista pleno do receptor CB2 possui provável efeito útil a dermatites de contato, fisiopatologicamente falando.

Essa foi uma apresentação introdutória a esse tema tão vasto. Com o texto espero que fique claro que existem motivos tangíveis para a diferença de qualidade e custo entre os óleos, já que com a expansão vertiginosa do mercado canábico é gritante a necessidade de se conhecer o estado da arte residente na prescrição dos diferentes compostos menores da planta.

Sobre as nossas colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

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Felipe Neris

Formado em 2017, atuando como médico generalista desde então, membro e pós-graduando da Sociedade Brasileira de Estudos Canabinoides, membro-fundador AMBCANN (Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia).