Quais coisas um cirurgião-dentista precisa saber antes de começar a prescrever cannabis?

Quais coisas um cirurgião-dentista precisa saber antes de começar a prescrever cannabis?
Foto: Freepik

O número de profissionais de saúde que prescrevem produtos à base de cannabis está crescendo no país, porém ainda é bem baixo comparado com a quantidade de cargos ativos. De acordo com um levantamento da Kaya Mind feito no início de 2023, o total de profissionais que solicitam importações (por meio da Resolução “RDC” 660/2022 da Anvisa) já ultrapassou 10 mil pessoas. 

Hoje, apenas médicos e cirurgiões-dentistas podem prescrever canabinoides.

Em novembro, a empresa anunciou seu mais recente anuário, que trouxe informações atualizadas sobre o mercado, incluindo a distribuição dos prescritores pelo território nacional. 26% dos municípios brasileiros possuem ao menos um profissional prescritor, o que em número equivale a 1469 municípios, segundo os dados. 

É evidente que esse número teve um salto devido à Resolução, que também incluiu os odontologistas no grupo de profissionais autorizados. Atualmente, 5% dos prescritores de cannabis trabalham com saúde bucal ou tratamento dos dentes. 

Pensando na posição que os dentistas ocupam no cenário brasileiro de cannabis medicinal, quais questões são fundamentais antes de começar a prescrever?

Convidamos o cirurgião-dentista e membro da Sociedade Brasileira de Odontologia Canabinoide, Dr. Guilherme Martins, para responder essas dúvidas. 

Continue a leitura para descobrir.

Todos os cirurgiões-dentistas podem prescrever cannabis?

Guilherme: Qualquer cirurgião-dentista que esteja em dia com seu Conselho Regional pode prescrever cannabis. As únicas profissões legalmente habilitadas perante a Anvisa são médicos e cirurgiões-dentistas.

Quais são as vantagens do tratamento com cannabis na Odontologia?

Guilherme: Hoje na Odontologia temos diversas aplicações: modulação da dor e da inflamação, odontologia do sono, controle da placa bacteriana, e indicações na periodontia. A cannabis também possui um poder ansiolítico para atuar juntamente com pacientes com fobias ou distúrbios psicológicos. 

Para quais pacientes o tratamento pode ser indicado?

Guilherme: Desde que um paciente não tenha contra-indicações graves, como cardiopatia grave, praticamente não existe contra-indicação. O que existe muitas vezes é que algumas medicações podem trazer algum tipo de reação com a cannabis, mas isso também pode ser controlado através da anamnese do indivíduo e da escolha correta do produto.

Na Odontologia, a cannabis só pode ser receitada se outras medicações não derem certo ou pode ser uma primeira indicação?

Guilherme: Hoje, os canabinoides não são mais coadjuvantes. Em determinadas patologias os produtos acabam sendo a primeira indicação porque alguns pacientes podem não se adaptar aos medicamentos tradicionais, ou ter algum distúrbio gástrico em decorrência do tratamento. O profissional pode atuar de forma refratária, como resposta a uma abordagem que não deu resultado, ou como primeira escolha. 

Existem produtos específicos para uso odontológico?

Guilherme: Sim. Nós podemos citar alguns produtos tópicos, como enxaguantes bucais com canabidiol (CBD) ou canabigerol (CBG), além dos cremes dentais ou sprays. E é importante dizer que a boca é rica em receptores canabinoides.

Cannect Talks

As informações trazidas pelo dentista foram coletadas no Cannect Talks, um jantar organizado pela Cannect, maior ecossistema de cannabis medicinal da América.

O encontro tem o objetivo de orientar profissionais de saúde que nunca prescreveram cannabis ou que têm pouco conhecimento sobre o uso medicinal da planta. Antes da refeição, acontece uma aula com um profissional parceiro da Cannect, e no dia 27/10, Guilherme Martins conduziu as apresentações.

A iniciativa começou em maio e desde então acontece uma vez a cada mês. Até o momento as  cidades participantes foram São Paulo, Campinas, Curitiba, Florianópolis e Joinville.

A próxima edição está prevista para acontecer no Rio de Janeiro, no dia 30/11.