Eugênio Franco consegue enxergar a realidade da cannabis na saúde pública brasileira
“A terapia canabinoide não é uma opção que acolhe apenas os pacientes. Muitas vezes, ao expor suas fragilidades, medos e angústias eles acolhem os profissionais de saúde, que os acompanham e criam uma verdadeira corrente de informação ao transmitir para outras pessoas as potenciais mudanças na qualidade de vida.”
Essa reflexão foi trazida pelo médico Eugênio Franco, que se especializou em Medicina de Emergência e possui dez anos de experiência na área. Em 2021, ele decidiu ampliar seus conhecimentos sobre Saúde iniciando os estudos sobre a cannabis.
Desde então, seus atendimentos são direcionados à terapia canabinoide, a qual Eugênio enxerga como uma grande possibilidade de trazer mais qualidade de vida aos pacientes.
Natural de Fortaleza, Franco concluiu o curso de medicina em 2014. Sua trajetória profissional conta com passagens por hospitais públicos e particulares.
Após receber o bacharel de médico, Eugênio buscou a especialização em Medicina de Emergência. Porém, esta só foi reconhecida como residência no ano seguinte, quando ele já havia começado o curso à parte.
Sua passagem pela emergência começou naquele período. Ele trabalhou na Santa Casa de Fortaleza e também no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ambos ligados ao SUS (Sistema Único de Saúde).
De acordo com o médico, suas percepções sobre a cannabis começaram a mudar após ler mais sobre proibicionismo e propriedades medicinais da planta.
“A gente ficava muito receoso com a cannabis até por acreditar nos ‘100 anos de mentiras’ sobre o mal que poderia causar aos pacientes”, conta.
Como formação acadêmica, fez pós-graduação em cannabis medicinal na Universidade São Judas Tadeu e também o curso “Cannabis Medicinal do Zero: SUS”, desenvolvido pela Dr. Cannabis e direcionado a profissionais de saúde da rede pública. O curso trouxe a confiança que faltava para atender pacientes com canabinoides no consultório e produzir conteúdos (confira abaixo).
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Eugênio também sentiu no próprio corpo os benefícios da cannabis ao testar a terapêutica para tratar dores crônicas e sintomas da ansiedade.
“Fazia tanto tempo que eu não ficava sem sentir dor que eu nem lembrava qual era a diferença. Quando percebi isso, decidi que deveria levar a cannabis para mais gente”, explica.
A vivência nos hospitais públicos, excepcionalmente no departamento de emergência, e os conhecimentos sobre prescrição de canabinoides foram dois fatores importantes para Franco conseguir enxergar a realidade da cannabis na saúde pública brasileira.
O médico esclarece que muitos pacientes chegam ao departamento de emergência com problemas crônicos que não foram tratados na “rede primária”, muitas vezes pela própria cultura da população, que busca a emergência para controlar situações que poderiam ser bem conduzidas nestes locais.
Segundo definição da OMS (Organização Mundial da Saúde), a Atenção Primária é responsável por atender de 80% a 90% das necessidades de saúde. Cuidados alimentares, vacinação, tratamentos de doenças infecciosas e controle de patologias crônicas estão neste grupo.
Uma vez que a terapia canabinoide pode ser usada para tratar diversas situações recorrentes e evitar a progressão de doenças, esse assunto já é encarado com mais naturalidade em comparação com o início de sua carreira.
Porém, os produtos ainda não são distribuídos gratuitamente à população, fator que faz os pacientes procurarem consultórios particulares.
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“Quanto mais se fala sobre isso no SUS, mais os profissionais de saúde percebem a necessidade de saber algo sobre a cannabis. Inclusive, os que estão se capacitando hoje, estarão participando da formação dos novos profissionais. E os próprios pacientes já não acreditam mais em médicos que afirmam que não tem evidência”, opina o médico.
Pensando na necessidade de capacitar os profissionais da saúde pública, a Dr. Cannabis anunciou a abertura da segunda turma do Cannabis Medicinal do Zero para profissionais do SUS.
O curso é gratuito e as inscrições podem ser feitas até 15 de março. Faça sua inscrição aqui.
Importante: para o ato da inscrição, é necessário comprovar o vínculo com o SUS.
Andrei Semensato
Jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Produz conteúdos sobre Política, Saúde e Ciência. Também possui textos publicados nos blogs da Cannect e Dr. Cannabis.
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