“Os policiais nunca tinham visto um pé de maconha”, diz paciente com permissão para plantio no RN

“Os policiais nunca tinham visto um pé de maconha”, diz paciente com permissão para plantio no RN

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Mesmo com o direito de cultivar cannabis em casa, o autônomo se deparou com a polícia na sua casa. Militares nunca tinham visto um pé de cannabis

Bruno Lacerda, de 22 anos, passou a utilizar a cannabis como tratamento durante pandemia de COVID, quando, finalmente, encontrou um médico que se dispôs a prescrever o medicamento.

Com a autorização da telemedicina, por causa do isolamento, Lacerda, morador do Rio Grande do Norte, encontrou um profissional no Rio de Janeiro para receitar a planta como tratamento para a ansiedade e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção) que acredita ter desde criança, mas nunca encontrou um tratamento efetivo. 

 

Foto: Arquivo Pessoal

Cannabis como tratamento

O autônomo passou a fumar maconha na adolescência. Apesar de ter nascido em Minas Gerais, ele cresceu na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, onde o consumo da erva era socialmente aceito na região.

“Eu percebi que aliviava a ansiedade, fazia o que os remédios deveriam fazer, mas não conseguiam”, ressalta.  

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Além da falta de um tratamento efetivo, a família de Bruno também tem um histórico de vícios em remédios, o que o fez pensar em outras alternativas com menos efeitos colaterais e propensão à dependência.

Depois de perceber os benefícios da cannabis, ele se recusou a continuar com os tratamentos convencionais

Obcecado pela erva 

Desde então, passou a gastar boa parte do seu tempo pesquisando e falando sobre o assunto.

De acordo com o Instituto Neurosaber, o chamado hiperfoco é uma das características do TDAH, que é classificada como a capacidade de se concentrar em um assunto ou atividade específica que lhe dê prazer. 

Isso é explicado pela ciência como níveis baixos de dopamina no cérebro, um neurotransmissor que atua no sistema de recompensa e motivação dos seres humanos. A concentração excessiva pode até tirar a atenção da pessoa sobre o que está acontecendo ao redor. 

De tanto falar sobre a cannabis, ele conseguiu convencer a sua avó, Norma Lopes, a utilizar a planta como tratamento para conter as dores, inflamações e falta de apetite causados por um câncer de intestino.

A Avó da sua mulher também foi concencida a usar o óleo para tratar diabetes. “teve um certo preconceito por parte de alguns familiares, mas que depois de muito se falar sobre a planta a família concordou em tratá-la com o óleo”, complementa.

Tirando o Habeas Corpus

Mas essa obsessão foi bastante útil para ele entender um pouco mais sobre as formas de utilizar a planta de forma legal, como o habeas corpus para o cultivo pessoal.

“Eu sempre soube que dava para plantar, mas sempre foi algo utópico”, explica.

O Habeas Corpus é frequentemente requisitado no Brasil. Por meio de uma ação na Justiça, o HC garante segurança para o plantio da erva aos pacientes para o uso medicinal.

Contudo, ações como esta não costumam sair barato. O valor do processo pode sair por até R$ 15 mil.

“Para uma pessoa que está entrando em um HC porque não tem condições de comprar, ter que desembolsar esse valor é complicado, torna ainda mais inacessível”, comenta.

Mas, no caso de Lacerda, a ação saiu de graça. 

Através do médico que o prescreveu, ele conheceu uma advogada do Rio Grande do Sul que pesquisava sobre o assunto. Ela ainda não tinha entrado com um processo como este, mas aceitou o caso de Bruno sem cobrar nada, para entender como funcionava na prática.

Foto: Arquivo Pessoal

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Falta de informação

Contudo, Bruno complementa que a falta de informação ainda é o principal desafio. Logo após obter o Habeas Corpus, ele recebeu a visita de 12 policiais, que foram até a sua casa depois de uma denúncia anônima. 

Na época, ele morava na pequena cidade de Senador Georgino Avelino, no litoral Sul do RN, que possui menos de 5.000 habitantes.

Ainda com a medida preliminar e três plantas, ele se deparou com três viaturas.

“Não chegaram a fazer nada por causa da minha autorização, mas entraram na casa da vizinha, que não tinha nada a ver com a história, e pularam o muro dela com arma pesada tudo. Eram quatro policiais para cada planta”, lembra.

Bruno ainda relembra que um dos policiais chegou a perguntar se as plantas se tratavam de “uma droga nova”, pois nunca tinham visto a flor da cannabis antes. Ele precisou explicar como funcionava o processo de extração, pois os agentes só conheciam o prensado. 

Fonte de informação

A sua paixão pela cannabis também o influenciou a idealizar uma associação, embora esse não fosse o foco desde o princípio.

Ele só queria falar sobre a planta. O autônomo utilizava as redes sociais para falar sobre formas de uso, benefícios e até sobre o proibicionismo. Bruno também visitava os comentários de portais de notícias que citavam a cannabis e respondia a todos eles. 

Foi assim que ele passou a ser frequentemente solicitado para esclarecer dúvidas e ajudar de alguma forma. O autônomo prestava suporte virtual e presencial.

“Tem muita gente que cobra, mas eu não. Tem muito conteúdo bacana que eu aprendi pela internet, assim não vejo porque as pessoas pagarem algo que eu aprendi de graça. A gente tem que facilitar o acesso [à cannabis] e não dificultar”, ressalta.

Foto: Arquivo Pessoal

Ainda no papel

A associação ainda está no papel, mas não é um projeto utópico. O Rio Grande do Norte foi o primeiro estado do Brasil a aprovar uma lei sobre a distribuição de produtos à base de cannabis em todo o estado. 

A lei, promulgada em janeiro deste ano, ainda incluiu o incentivo a pesquisas com a planta e a divulgação de informações para pacientes e profissionais da saúde no estado, além do convênio com associações. 

Segundo Lacerda, ele não pode dividir o óleo feito através do seu Habeas Corpus, por isso, o objetivo é criar uma entidade para ajudar quem precisa do medicamento.

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Consulte um médico 

É importante ressaltar que  qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que poderá te orientar de forma específica e inclusive, indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

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