Os avanços e o futuro da cannabis no Brasil

Os avanços e o futuro da cannabis no Brasil

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Embora todos os convidados da live tenham ressaltado as dificuldades e restrições da cannabis, mostraram otimismo ao futuro e aos rumos da erva no país.

“Maconha em tempos de Pandemia” foi o tema da live da Folha de S. Paulo de ontem (29) pelo seu canal do youtube.  O webinar foi dividido em dois assuntos: saúde e legislação, e contou com sete convidados, entre médicos, empreendedores e até políticos.

Para falar sobre saúde, foram convidados a Dra Paula Dell’Stella, uma das primeiras médicas a prescrever cannabis medicinal no Brasil; o fundador da VerdeMed, José Barcellar; Cristiana Tadeo, fundadora da associação Be Hemp para pacientes de epilepsia e também da empresa farmacêutica  HempCare; além do diretor da empresa americana Bezinga, Jaiver Hasse.

Logo em seguida, a regulamentação foi discutida pelo deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que estuda o uso da cannabis na câmara;  o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc que elaborou o projeto de lei sobre o cultivo e pesquisa para o Rio de Janeiro; e também o advogado Rodrigo Mesquita, membro da Comissão Especial Sobre Assuntos Regulatórios da Ordem dos Advogados.

Divulgação: Folha de S. Paulo

A cannabis como um medicamento

O assunto mais discutido foi a nova regulamentação da ANVISA, sobre a venda de produtos à base de cannabis em farmácias. “O Brasil precisa entender a cannabis como mais um medicamento” foi uma fala quase unânime entre os convidados, que consideram ainda insuficientes as medidas adotadas pela agência.

“O Brasil está atrasado, estamos no século XXI e medicamentos até com THC são seguros”, relatou José Barcellar, fundador da VerdeMed.

Foi destacado muitas evidências de pessoas que melhoraram com o uso da cannabis, principalmente no tratamento de  epilepsia refratária, onde o remédio ajuda até na volta das capacidades cognitivas, e o Alzheimer, onde é possível ver o retardamento dos sintomas com o uso do medicamento.

Sem contar com os efeitos colaterais, que são baixos. Bem menores que os remédios dos tratamentos convencionais, para a epilepsia, o Alzheimer, ansiedade, dores crônicas e diversas outras doenças tratadas com o fitofarmacêutico.  

Crise de COVID-19

A Cristina Tadeo, fundadora da Associação Be Hemp acredita tanto nas propriedades medicinais da cannabis, que ajuda cerca de 600 pacientes com epilepsia refratária na associação. Ela banca sozinha os óleos de canabidiol distribuídos para os pacientes.

Cristina usa o óleo há quinze anos, por conta de um transplante. Relata que os medicamentos que tomava eram muito agressivos, e a cannabis apareceu com uma solução muito mais branda. Hoje ela luta na justiça para poder plantar no Brasil e facilitar a distribuição para os pacientes da associação.

A empresária revelou que muito dos pacientes da Be Hemp e até mesmo os clientes da sua empresa estão com medo da falta, por isso solicitaram a mais, ela complementa dizendo que até as vendas aumentaram. Um comportamento semelhante aos Estados Unidos, onde alguns estados relataram um crescimento em até 159% nas vendas.

Outro fator decorrente ao Coronavírus foi o maior uso para ansiedade e insônia, segundo relatou Cristina e a Dra Paula Dell’Stella. A preocupação sobre o futuro incerto e o medo da pandemia, intensificou os sintomas das síndromes, além da adesão por novos pacientes.

Manipulação

Uma das críticas abordadas no webinar foi a exceção das farmácias de manipulação. “Um tipo de produto de cannabis não é uma solução para todos os problemas, e cada pessoa tem um tratamento individual e diferente” afirmou o deputado Federal Paulo Teixeira (PT-SP).

Ele defende que, se a cannabis funciona para vários tipos de doenças, deve ser feita com níveis de CBD e THC diferentes, níveis de canabinóides diferentes, seguindo uma prescrição médica. Como é feito em países vizinhos, como Uruguai e Colômbia.

Solução econômica

Outro tema levantado foi a aprovação do novo fitofarmacêutico, que tem previsão para entrar nas farmácias já em março. “O produto vai continuar caro, pois tem que exportar matéria prima do Canadá, não faz sentido!” disse a Dra Paula Dell’Stella. Ela ressalta que o Brasil tem um grande potencial agrícola que favorecem o plantio.

A dra Paula Dell”Stella ainda vai além e diz que o canabidiol tem o poder de competir até com analgésicos, pois age em diferentes áreas do nosso organismo e contém poucas reações adversas e nenhuma psicoativa. O que foi reforçado pelo Javer Hasse, diretor da empresa americana Bezinga, “a cannabis como analgésico tem um futuro enorme, principalmente no tratamento de dores crônicas.” ressaltou.

A venda no Brasil é rentável. Em uma pesquisa feita pelo DataSenado destacou que as pessoas estão cada vez mais conscientes dos usos medicinais da planta. Hoje, 75% das pessoas aprovam o uso medicinal da cannabis, um aumento de 15% em relação a 2016.

A mudança de comportamento foi vista também lá fora. Houve uma quebra de paradigma nos Estados Unidos, tanto que até o estado do Colorado, considerado mais conservador, registrou um aumento de 46% nas vendas de cannabis tanto nos usos recreativos e medicinais.

No primeiro tópico, para falar sobre saúde, foram convidados a Dra Paula Dell’Stella; o fundador da VerdeMed, José Barcellar; Cristiana Tadeo, fundadora da associação Be Hemp e o diretor da empresa americana Bezinga, Jaiver Hasse. Foto: Reprodução do youtube

 Fator que influenciou o empresário José Barcellar que é bem otimista quanto ao futuro da cannabis medicinal no Brasil. “O Coronavírus só deu uma pausa na pauta, mas depois disso, vai continuar”, disse em relação às discussões na câmara e no senado.

O ex-ministro do meio ambiente Carlos Minc, hoje deputado no Rio pelo PSB, ressaltou ainda que a lei estadual no Rio de Janeiro que incentiva o uso medicinal da cannabis foi aprovada por unanimidade, mesmo com muitas opiniões contrárias, pois é uma questão de saúde.

Outro fator para a mudança do pensamento brasileiro sobre a erva foi o aumento de pessoas recorrendo à justiça para obter medicamentos ou cultivo, segundo Paulo Teixeira. No entanto, as restrições do plantio ainda é um fator que impede o acesso de pessoas que não tem condições de comprar.

A regulamentação foi discutida pelo deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP); o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc; e também o advogado Rodrigo Mesquita, membro da Comissão Especial Sobre Assuntos Regulatórios da Ordem dos Advogados.

O que influencia até nos gastos do SUS, por exemplo, que precisa disponibilizar para quem precisa. Ao invés de importar ou comprar um produto aqui bem mais caro, pode plantar obter o remédio bem mais em conta.

Se tratando de brasília, ainda há uma certa resistência quanto a pauta de cannabis. Outra solução abordada por Rodrigo Mesquita, membro d da Comissão Especial Sobre Assuntos Regulatórios da Ordem dos Advogados é a influência dos estados. “Se os estados começarem a criar políticas de incentivo, isso pode influenciar o congresso nacional” complementa. Ainda ressaltou que a cannabis pode ajudar nos rendimentos pós pandemia.

Mercado

Hasse destaca que a produção e venda no Brasil não vai apenas ajudar os pacientes, mas também movimentar a economia, gerando empregos e uma nova forma de arrecadação. Ele também destaca um interesse em produzir no Brasil.

Teixeira ainda foi além, ele espera que o país possa produzir também para o uso industrial em cosméticos, uso veterinário, e até para tecidos e alimentos. O deputado lembrou do exemplo do Líbano que liberou a produção este ano e espera um rendimento de até 1 bilhão para os cofres públicos.

Não só produto, mas remédio

No entanto, um ponto positivo disso tudo é a forma em que a cannabis está sendo tratada no país, como ressalta a Dra. Paula Dell’Stella. A ANVISA está exigindo testes clínicos e uma série de exigências que darão uma maior qualidade ao medicamento quando ele finalmente for comercializado e para os demais no futuro.“A américa latina foi a primeira a observar (a cannabis) como medicamento e essa visão de focar os seus estudos nisso, gera um controle de qualidade.” Complementa.

 O que é diferente em países como os Estados Unidos e Canadá, que começaram a vender a cannabis apenas como um suplemento sem sequer passar por uma revisão farmacêutica. “A matéria prima que vem de fora, por exemplo, não é muito confiável”. Com isso, a médica reforçou o plantio no Brasil.

A ANVISA autorizou a venda de produtos nas farmácias, não medicamentos. A empresa autorizada a vender no Brasil tem um prazo de cinco anos para realizar testes clínicos e tentar se tornar um remédio.

Na Webinar Carlos Minc ainda questionou a decisão da agência, pois sem a permissão para o plantio, dificulta o aprofundamento dos estudos e testes.

O único medicamento à base de cannabis permitido no Brasil é o Metratyl, que tem um certo teor de THC, substância alucinógena da cannabis. No entanto, por ser importado apenas com autorização, ele acaba sendo muito caro e pouco acessível para boa parte dos pacientes.

Outro debate sobre o assunto cannabis será realizado pela TV Folha novamente no dia 13 de maio às 1 7h.

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