Jéssica Soares de 28 anos, encontrou na cannabis uma solução por acaso. Ela tinha insônia grave, ao ponto de tomar remédios tarja preta como o Rivotril.
Foi depois de um encontro casual com amigos, que a pernambucana foi apresentada a cannabis recreativa que tudo mudou.
Segundo a Associação Brasileira do Sono (Absono), atualmente cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia. Ela é também a principal queixa entre pessoas que sofrem algum distúrbio do sono, e está à frente até do ronco.
As perspectivas também não são boas, estima-se que 30% a 40% da população terá insônia em algum momento da vida.
O distúrbio não é visto pelos terapeutas como uma doença em si. Como a febre, é um sintoma secundário que pode ter inúmeros fatores, que vão desde estresse pós traumático a mudança de horário.
No caso da Jéssica, a insônia estava associada a crises de paralisia do sono, que aconteciam com muita frequência.
Sem entender o porquê, ela passou a ter medo de dormir e passou muitas noites em claro. Consequentemente, veio a insônia.
A paralisia do sono pode ser assustadora. Ela acontece quando o indivíduo acorda, mas não consegue se mexer e nem falar, que pode ser causada por uma série de fatores.
“Me fechei para várias coisas, inclusive para dormir. Eu consumia bastante álcool e outros medicamentos em vários níveis, mas não fazia efeito. Ou eu tinha que consumir em uma quantidade grande, o que eu não gostava” acrescenta.
Foram alguns amigos que lhe apresentaram a famosa maconha. Apesar de ilícita, é a droga mais usada não só no Brasil, mas também no mundo.
Jéssica conta que no primeiro dia, já viu uma mudança. Ela ficou com bastante sono e mais relaxada.
Ela fumou simplesmente para se socializar, mas foi depois da experiência que percebeu a influência da planta sobre a sua insônia.
Depois de alguns dias, ela largou sozinha o Rivotril e passou a usar apenas a cannabis.
Apesar da opção ter dado certo, a neurologista especializada em cannabis, Denise Lutfi Pedra, não aconselha a troca abrupta.
A médica diz que deve haver uma troca e adaptação aos poucos e de forma gradual.
“Eu me sentia bem com a cannabis, bem tranquila, meditativa. Minhas dores menstruais também diminuíram. (…) depois que eu comecei usar regularmente e parei de tomar álcool porque são coisas que não combinam” relata.
É cientificamente comprovado que a cannabis medicinal pode ajudar a dormir. Até hoje, vários estudos clínicos são realizados para testar o tratamento alternativo, e as descobertas são sempre positivas.
Isso porque a cannabis tem propriedades relaxantes e terapêuticas que diminuem o nível de estresse e ansiedade, causas mais frequentes da insônia.
Jéssica conta que o método alternativo afastou muitos amigos e parentes. “nesse momento, eu consegui ficar sozinha para refletir. Entendi que estava vivendo a vida errada” completa.
Até o momento, ela estava no décimo semestre de direito, que frequentava durante a noite. Na parte do dia, Jéssica também tinha um bom emprego, mas percebeu que não estava feliz.
A princípio, ela começou a mudar os seus hábitos, com a alimentação. Depois ela fez algo que ninguém esperava.
Há três anos a pernambucana atravessou o estado da Bahia e foi para a Chapada dos Veadeiros, em Goiás com apenas R$300,00 na conta.
“Saí do meu trabalho, da faculdade. Dei ou vendi uma coisa ou outra também. Deixei uma mala e a minha cachorra com o meu pai. Coloquei tudo o que eu tinha eu podia carregar e vim pra cá. (…) Ninguém me apoiou, mas eu só confiei” ressalta.
Lá ela começou uma vida nova. Virou vegetariana, trocou os remédios pela medicina natural, se conectou com a natureza e começou a cozinhar.
Jéssica também encontrou um parceiro, que como ela, veio de longe. No caso de Christof Rabanus, de 54 anos, foi até um pouco mais distante.
Ele nasceu na Alemanha, percorreu vários países e terminou aqui no Brasil, decidiu ficar aqui e viver uma vida mais calma no interior.
Ambos usam o óleo da planta como tratamento. A pernambucana conta que a sua insônia finalmente teve fim e o parceiro, a utiliza para tratar um bruxismo, que surgiu depois de um acidente.
Agora, eles usam o óleo de canabidiol (CBD) e não mais a cannabis fumada. Isso porque outra substância, chamada tetrahidrocanabinol (THC) que provoca o “barato” da cannabis, é mais prevalente no cigarro de maconha.
Embora o THC ajude no começo do tratamento, ele pode ser um fator negativo depois.
Um estudo realizado em 2014 e publicado no Journal of Psychopharmacology, mostrou que o canabidiol pode aumentar o tempo do sono e o THC, a sua latência.
Sem contar que também há evidência da ação dos dois elementos, chamados canabinóides na redução de transtorno do estresse pós-traumático, o que consequentemente pode influenciar na hora de ir dormir.
No entanto, a pesquisa também mostrou que o THC pode prejudicar a qualidade do sono a longo prazo.
Agora, Jéssica e Christopher pretendem tirar o habeas corpus para produzir o próprio óleo.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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