Mãe faz história ao levar o CBD para o complexo do Alemão: “A cannabis também é para nós”

Mãe faz história ao levar o CBD para o complexo do Alemão: “A cannabis também é para nós”

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Rafaela só queria um tratamento eficaz para o autismo de sua filha. Hoje ela ajuda outras mães das favelas do Rio de Janeiro a ter acesso à cannabis medicinal.

Rafaela França e Lúcia Cabral trabalham como voluntárias na ONG Educap, uma instituição que atua no complexo do alemão, um dos maiores bairros com conjuntos de favelas do Rio de Janeiro. 

Além de prestar auxílio social a famílias carentes, recentemente a ONG também passou a ajudar pais e mães a encontrarem médicos para prescrever cannabis e conta também com uma empresa que faz a doação dos produtos. 

Mas o projeto não para por aí.

A instituição ainda pretende atender pacientes adultos, além de auxiliar na judicialização para a compra pelo convênio médico ou pelo SUS (Sistema Único de Saúde). 

Lúcia e Rafaela
Foto: Arquivo Pessoal

“A gente sabia que daria certo, mas não esperávamos uma repercussão tão grande”

Como tudo começou

Rafaela não pensou duas vezes em ir atrás da cannabis medicinal para a sua filha quando a neurologista prescreveu. Na verdade, ela só estava esperando a recomendação médica para adquirir. 

Contudo, a receita foi a parte fácil, o difícil era comprar o remédio. Moradora do Complexo do Alemão, Rafaela não tinha condições financeiras para comprar o óleo para a sua filha María, que tem crises de autolesão decorrentes do autismo.

Foi então que ela teve a ideia de fazer uma vaquinha online para arrecadar o valor. Em apenas quatro horas, ela mobilizou a comunidade e conseguiu adquirir o produto.

De acordo com a mãe os resultados foram notórios. As autolesões diminuíram e o seu cognitivo deu um salto. 

A criança ainda não fala, mas já compreende e tem uma comunicação própria. De acordo com Rafaela, ela percebe o que está acontecendo em sua volta e está formando as primeiras sílabas.

“Hoje a gente  chama e ela vem correndo, o que não acontecia”, diz. 

O desafio agora era continuar o tratamento.

Mobilização

Diante da repercussão, Rafaela se viu em outro desafio: de ajudar outras mães que precisam do tratamento.

Ela já era voluntária da ONG Educap e junto com a Lúcia, fundadora da instituição, ajudavam outras pessoas a conseguir agendamento?utm_source=cannalize&utm_medium=textoancora&utm_campaign=agendamento” target=”_blank”>consultas e adquirir o produto.

“Depois da matéria em um jornal comunitário, várias mães de outras comunidades do Rio começaram a me procurar e eu vi que não dava mais para parar, que todo o choro tinha que virar luta”, ressalta Rafaela. 

Em uma tentativa de ser notada, a mãe da pequena María começou a postar os resultados da sua filha e de outras crianças nas redes sociais e marcar a USA Hemp, empresa que fabrica o óleo usado no tratamento da menina.

E deu certo. 

Foto: Arquivo Pessoal

Facilitando o tratamento

Um dos maiores medos de Rafaela era trazer esperança para as mães e depois não conseguir manter o tratamento. 

Contudo, a diretora de marketing da USA Hemp e também porta-voz do projeto Redwood Foundation, Manu Melo Franco, percebeu as postagens e começou a conversar com Rafaela. 

Ela passou a entender o trabalho que ela e a Lúcia estavam fazendo e como a comunidade lidava com isso.

De acordo com a diretora de marketing, a revolução da maconha no Brasil não pode ser apenas medicinal, mas também precisa trazer uma revolução social.

“Assumir a nossa responsabilidade social é entender que precisamos reparar historicamente. Como empresas atuantes, precisamos olhar para esta parte da estrutura social que é ligada à maconha hoje”, ressalta.

O projeto da USA Hemp se juntou aos profissionais que já estavam engajados na causa e passaram a disponibilizar médicos prescritores para as comunidades carentes, além de disponibilizar os produtos de forma gratuita. Tudo com o protagonismo da ONG.

“A cannabis também é pra mim”

Ao começar o projeto, Lúcia e Rafaela sofreram bastante preconceito, pois as pessoas da comunidade não tinham acesso à informação sobre a cannabis sendo usada como remédio.

“As pessoas ainda mistificam muito a maconha como a erva do mal. Agora, várias pessoas estão me procurando para falar sobre [o assunto], por isso eu acho que é um processo”, acrescenta Lúcia. 

Rafaela também conta que, por causa do preço, as pessoas pediam para ela desistir, mas ela afirma que também tem o poder de escolha.

 “O preconceito é diário, não só com a cannabis, mas por a gente ser pobre e poder fazer um tratamento. Muitas pessoas viraram para mim e falaram para eu dar remédios antipsicóticos, pois esse negócio de cannabis é muito caro. Mas a gente não desistiu”, completa.

Novos rumos

Hoje, através de mutirões de agendamento?utm_source=cannalize&utm_medium=textoancora&utm_campaign=agendamento” target=”_blank”>consultas junto com a USA Hemp, a ONG já ajudou cerca de 30 pessoas a obterem o óleo. As que ainda não estão usando, aguardam a importação. Sem contar com uma fila de espera de crianças que ainda serão beneficiadas. 

De acordo com a fundadora da USA Hemp, Corina Redwood, o projeto com a ONG não será apenas do auxílio ao tratamento, mas a capacitação de mulheres que precisam do tratamento.

“Conseguiremos mais parceiros dispostos a ajudar e capacitar essas comunidades e mães. Queremos dar capacitação e meios de terem esperança de um futuro melhor. Esse projeto vai além da doação de medicamentos”, diz.

Através da associação Santa Cannabis, de Santa Catarina, a instituição vai começar a atender também adultos. 

Foto: Arquivo Pssoal

A cannabis como tratamento

Atualmente, uma em cada 110 pessoas possuem TEA (Transtorno Espectro Autista) no mundo, segundo o CDC (Center of Diseases Control and Prevention). Com isso, podemos presumir que no Brasil existam cerca de dois milhões de ‘autistas’.

A condição não chega a ser uma doença, mas uma síndrome, mas que não tem cura. O que os tratamentos convencionais fazem é amenizar os sintomas, que geralmente são irritabilidade, hiperatividade e mudanças de humor. 

A cannabis vem crescendo como uma opção por causa dos poucos efeitos colaterais, além da alta eficácia.

De acordo com um  estudo publicado pela farmacêutica australiana Neurotech no começo deste mês, 93% dos voluntários obtiveram uma melhora significativa em diversos aspectos característicos dessa condição. 

Mais de um terço dos pais pensam que CBD e maconha são a mesma coisa

Legalidade

A cannabis medicinal é legal no Brasil desde 2015, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a importação

No final de 2019 a agência ainda aprovou uma resolução para a venda nas farmácias, e hoje, 19 produtos podem ser adquiridos com receita médica. 

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