Uma das primeiras pessoas a conseguir autorização de cultivo no Brasil, o influenciador Igor Seco revela a sua experiência com a cannabis.
Conseguir legalmente o direito de plantar a cannabis em sua residência não é algo simples. Atualmente, centenas de autorizações já foram cedidas pelo governo brasileiro.
Igor Seco, influenciador canábico, foi um dos primeiros a obter um habeas corpus permitindo a plantação da erva em sua casa.
Em conversa com a Cannalize, ele falou sobre o impacto que a cannabis trouxe em sua vida.
Foto: Arquivo pessoal
Nascido em Palhoça, Santa Catarina, Igor teve o seu primeiro contato com a cannabis ainda na infância, quando tinha 13 anos. Na época, chegou a experimentar a erva.
Porém, a sua real imersão nesse mundo demorou para acontecer. Em 2018, após participar do Não Salvo, o influenciador decidiu criar o THShow, um podcast voltado para a cannabis.
O projeto, criado a cerca de quatro anos, detém a marca de ser o podcast sobre o tema que está a mais tempo sendo publicado.
Atualmente, além do seu canal pessoal, Igor também faz parte da Rádio Hemp e do programa Santa Cannabis.
Sem dúvidas, a principal motivação do influenciador na busca pela autorização do cultivo, foi o seu sobrinho Theo, que detém o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Quando foi morar em Portugal, Igor vivenciou outras experiências canábicas e descobriu a existência do tratamento com produtos feitos a partir da planta para pessoas autistas.
A certeza de que era a melhor opção, veio após uma conversa com um médico holandêes, que afirmou que, na época, a cada 200 crianças tratadas, 98% delas apresentavam uma melhora significativa.
Igor, teve que voltar ao Brasil quando começou a pandemia da COVID-19, e logo começou a buscar algum tipo de tratamento para o Theo.
Na época, sabendo da legislação brasileira restrita, ele foi atrás do produto do jeito que podia. Mas, acabou encontrando um óleo de baixa qualidade.
Atualmente, há mais de 600 associações canábicas no Brasil, mas são poucas as que possuem uma autorização para funcionar.
Apesar da duvidosa procedência, a diferença que a cannabis faz para essas doenças é tamanha, que já causou um grande impacto inicial:
“Da noite pro dia ele já era outra criança, foi muito significativo. À noite dormiu melhor, acordou já abandonando alguns sintomas do transtorno autista. Até o uso da cannabis, ele nunca tinha olhado no nosso olho”, ressalta o influenciador.
As redes sociais tiveram uma grande influência em todo esse processo. Isso porque, ainda quando fazia o tratamento de forma clandestina, Igor resolveu contar a história do seu afilhado no Twitter.
A ideia deu muito certo. Um post simples, que continha informações sobre o procedimento, alcançou seis milhões de contas e divulgou a experiência do Theo por todo o país.
Esse feito é considerado um grande marco pelo palhocense. Para ele, “pouquíssimas pessoas conseguiram viralizar alguma coisa se tratando de cannabis medicinal no Brasil”.
“Mágico, abri a janela do quarto, lavei o vidro da janela que eu nem via mais e coloquei as plantinhas na sala”. Foi assim que ele descreveu o momento em que saiu o seu Habeas Corpus.
Com a ajuda da associação Santa Cannabis, Igor entendeu que poderia buscar na justiça maneiras de obter um óleo melhor e de forma legal.
Primeiro, conseguiu a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através de uma prescrição médica. Depois, juntou os documentos necessários, um relatório médico, fez um curso de cultivo e foi buscar a sua permissão para o plantio.
O pedido foi enviado na terça-feira. No sábado, a decisão favorável foi concedida pela juíza.
Segundo o Igor, cuidar das plantas também servia como uma terapia, ainda mais em tempos pandêmicos. Para ele, esse hábito o ajudava a fugir um pouco das notícias ruins.
Foto: Arquivo pessoal
O Theo, não foi o único da família que fez o uso medicinal da cannabis. O próprio Igor, resolveu se tratar com a erva.
Diagnosticado com Síndrome de Marfan, uma complicação que acarreta em um crescimento acelerado de algumas partes do corpo, ele viu nos produtos canábicos uma forma de amenizar o seu problema.
A resposta vem sendo muito positiva. Após a utilização da cannabis, as suas dores na coluna diminuíram e ele pode voltar a praticar alguns exercícios físicos, como a academia, o que antes não era possível fazer.
Sabemos que o tema cannabis ainda é cercado de preconceitos. Por isso, temos o costume de achar que todos que fazem o uso, já sofreram com alguma retaliação da família, por exemplo.
Porém, não foi o que aconteceu com o influenciador. Segundo ele, desde o começo, os familiares mais próximos entenderam e concordaram com a decisão.
Inclusive, a história repercutida do seu sobrinho, até aproximou parentes distantes, que anteriormente não mantinham contato.
“Existe um núcleo da minha família mais religioso, que curiosamente voltaram a falar comigo depois do relato no Twitter” diz Igor Seco.
Foto: Arquivo pessoal
Nomes como o do Igor, são fundamentais para a pavimentação do mundo canábico na sociedade.
O influenciador, acredita que apesar dos seus projetos, o que ele mais conseguiu contribuir foi com a divulgação da história do seu afilhado.
“No caso do autismo do meu sobrinho, acho que ajudamos muita gente, principalmente a se informar sobre o autismo. Chega mensagens todo o dia pra mim perguntando sobre, e eu vou encaminhando esse pessoal para associações, para conversarem com médicos”.
A legalização da erva foi mais um tema comentado durante a entrevista. Para o Igor, o cenário no Brasil não é positivo.
As associações, segundo ele, não são um problema. Falta apenas uma legislação justa para elas, já que a sua atuação deve ser cada vez mais regulamentada no país.
A grande questão está no governo. O influenciador não acredita em uma legalização da planta nos próximos três, quatro anos.
“O Brasil não está pronto para muitas discussões que abordam sobre o assunto cannabis” conclui Igor Seco.
Gustavo Lentini
Jornalista e produtor de conteúdo da Cannalize. Apaixonado por futebol e pela comunicação.
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