Joyce, que tinha de 15 a 20 convulsões por dia, hoje não tem mais nenhuma. Atualmente ela é uma das fundadoras da Marcha da Maconha de Ferraz de Vasconcelos
Após ter a sua primeira filha aos 16 anos, Joyce Kayce de Almeida Ribeiro teve uma depressão pós-parto, que paralisou a sua vida. A necropsista não comia, não dormia e nem reconhecia a filha, o que preocupou os pais.
Não demorou muito para que a sua família a encaminhasse para um psiquiatra e começasse a utilizar remédios. Joyce conta que eram 12 comprimidos pela manhã, nove à tarde e 11 à noite.
De acordo com um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), cerca de 25% das brasileiras sofrem de depressão pós-parto, o que pode ser um problema não só para quem sofre quanto para as pessoas que estão ao redor, principalmente os bebês que não têm o cuidado materno.
Por isso, não é incomum que o tratamento envolva medicamentos associados à psicoterapia.
No entanto, o que era para melhorar, só causou mais problemas. A quantidade excessiva de comprimidos a fez ficar em estágio vegetativo, não reconhecia ninguém, não falava, não andava.
“Eu deixei de ser mãe da minha filha nesse período. Eu perdi muitas coisas que ela aprendeu, palavras, sorrisos, eu não reconhecia ela. A minha filha conta que chegava perto de mim e pedia pra ela sair, tinha medo.”, acrescenta.
Mas o pior ainda estava por vir. Apenas 15 dias depois, Rbeiro passou a ter convulsões, o que piorou ainda mais o seu quadro e os médicos não entendiam o que ela tinha. Após um ano convulsionando, foi somente após um eletroencefalograma que a explicação veio: Epilepsia refratária.
De acordo com a neurologista Karime Luz, algumas medicações podem causar convulsões, principalmente se o paciente já tinha uma predisposição genética para isso. “As medicações apenas desencadearam o processo”, complementa.
O mau uso dos remédios também trouxe uma resistência a outros tipos de medicamentos, como uma simples dipirona. “ Se eu fico doente, tenho alguma infecção ou alguma coisa, eu tenho que ficar internada para tomar na veia, porque realmente a tarja preta acabou com a minha vida.” acrescenta.
Se os remédios só pioravam a sua situação, o que ela poderia fazer? Na época, o psiquiatra consultado deu uma solução um tanto quanto inusitada: três baseados por dia, um pela manhã, um à tarde e outro à noite.
O pai conservador não mediu as palavras para xingar o médico, mas ficou com uma pulga atrás da orelha.
“A gente voltou para casa e ele saiu. Quando voltou, veio com uma paranga para mim. Eu tinha em média 15 a 20 convulsões diárias. Ele comprou, bolou, eu fumei e tive apenas três no dia. Isso com o beckzinho de biqueira meia boca, acrescenta a necropsista.
Joyce começou a fumar diariamente e as convulsões foram diminuindo. Ela ainda tinha algumas crises por dia, mas nada comparado ao que era antes.
Isso a ajudou a ter uma certa qualidade de vida. Já reconhecia a família, se alimentava e até saía de casa. A depressão pós-parto passou e ela conheceu o seu marido e começou a plantar cannabis em desobediência civil para conter as convulsões.
“Quando eu comecei a estar em mim mesma, eu não vou esquecer, foi no dia 19 de abril. Eu parei para prestar atenção no céu e percebi: eu to aqui, eu sou a Joyce, eu vivo”, acrescenta.
Atualmente a Ribeiro não tem mais nenhuma convulsão. Além de inalar as plantas que ela mesma cultiva, também conta com o óleo de CBD (canabidiol) doado por uma associação de pacientes.
“Quando eu tomo só o óleo ou faço uso só da flor, não dá o efeito que dá os dois juntos e eu consigo trabalhar”, ressalta. Após sete anos, ela conseguiu sair sozinha em janeiro deste ano, aos 25 anos.
Antes, a filha que era uma estranha para ela, hoje é a sua maior parceira. Ela entende o porquê a mãe planta cannabis e quais os benefícios que a mãe tem com a medicação. A menina virou uma “mini ativista”, que propaga os benefícios da planta até na escola.
“A diretora dela me chamou há um tempo, pois ela ficava no intervalo gritando Legaliza a ganja! Ela vai com os adesivos, escritos marcha da maconha, legaliza, a maconha cura, antiproibicionismo. E quando você conversa com ela, ela sabe te explicar, entende o que está falando porque ela viveu aquilo”, relata a mãe.
A conversa com a diretora foi bem explicativa. A necropsista conta que, ao explicar toda a história, ela conseguiu até convencer a diretora a ir na próxima marcha da maconha.
“O conhecimento é assim, a gente só sabe se a gente conhece. Então a gente precisa passar todo o conhecimento que a gente tem para desmistificar, para unificar a massa mesmo.”ressalta.
Não foi à toa que a necropsista decidiu fazer parte das articulações nacionais da Marcha da Maconha e começou a organizar o evento em Ferraz de Vasconcelos, município do estado de São Paulo, onde mora.
É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.
Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar na marcação de uma consulta, dar suporte na compra do produto até no acompanhamento do tratamento. Clique aqui.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
Inscreva-se grátis na nossa Newsletter!
Mãe conta como a cannabis ajudou no autismo ‘foi surpreendente’
‘Uma das melhores experiências que já tive’, diz influencer sobre a cannabis
‘A caixa de remédios continua fechada’, diz paciente com dores crônicas
Empreendedor diz que cannabis ajuda a organizar emoções
Professora relata o uso da cannabis na esclerose ‘me ajuda nas crises’
Advogada supera o câncer com a cannabis ‘Eu me sentia forte’
Copyright 2019/2023 Cannalize – Todos os direitos reservados
Solicitação de remoção de imagem
Termos e Condições de Uso