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Saúde e Ciência

Cannabis ajuda na dor e na mente, segundo estudo



03/11/2024


A pesquisa ainda mostrou efeitos colaterais mínimos, reduzidos a sonolência e boca seca. Mais estudos precisam ser feitos

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De acordo com um novo estudo feito com pacientes com dor crônica e problemas de saúde mental, a cannabis amenizou os  sintomas das duas condições ao mesmo tempo. 

O relatório, publicado no Journal of Pain and Palliative Care Pharmacotherapy, avaliou os efeitos da cannabis  medicinal em 96 pacientes ao longo de um ano, com medições de dor, depressão, ansiedade e problemas de sono feitas em três, seis e 12 meses.

Os pacientes relataram não apenas menos dores, mas também experimentaram redução da interferência da dor em suas funções diárias. Além da diminuição do uso de medicamentos.

“Existem associações claras entre o início do uso de um produto de cannabis medicinal prescrito pelo paciente e melhorias na dor, saúde mental e dificuldades de sono”.

No entanto, o alívio oferecido pela cannabis pode não ser eterno. O relatório observou  que ao final de 12 meses, alguns desses benefícios pareceram diminuir.

No geral, os resultados são encorajadores em relação ao tratamento de curto prazo da dor e dos sintomas de saúde mental, mas os efeitos de longo prazo, especialmente em termos de dor, parecem incertos.

Resultados

Depois de um ano, os efeitos benéficos foram relatados pela maioria dos pacientes. 91% disseram que sua dor estava pelo menos “um pouco melhor”, enquanto 3 em 4 disseram que estava “melhor” ou “muito melhor”.

Em termos de redução de medicamentos convencionais para dor, a maior redução foi vista no meio do estudo, com os efeitos parecendo diminuir na última metade do estudo.

Mas mesmo depois de 12 meses, mais da metade (55%) dos participantes relataram reduções no uso de medicamentos prescritos para dor, enquanto quase metade (45%) disse que estava tomando menos medicamentos de venda livre para dor.

Motivos

A equipe de pesquisadore ofereceu algumas razões pelas quais a cannabis medicinal pode ter se tornado menos eficaz para alguns pacientes na última parte do estudo.

“Pode ser que a exposição crônica ao THC (tetrhidrocanabinol) leve à dessensibilização e à regulação negativa dos receptores CB1, o que pode resultar em atividade agonista CB1 reduzida e, portanto, pode contribuir para a diminuição geral dos efeitos terapêuticos da cannabis ao longo do tempo.” Escreveram.

Outra explicação poderia ser que a dor e as condições de saúde mental são mediadas por vias e sistemas receptores distintos no corpo e que o uso crônico de maconha medicinal pode induzir mudanças nesses sistemas receptores.

Também é possível que algumas condições, como o câncer, progridam de tal forma que os sintomas piorem, independentemente da eficácia da cannabis medicinal.

Saúde mental

As melhorias nos sintomas de saúde mental, por outro lado, não pareceram desaparecer tão visivelmente, embora os benefícios relatados pelos pacientes tenham se estabilizado após os primeiros três meses.

No entanto, os participantes relataram que a cannabis reduziu a gravidade da depressão, ansiedade e problemas de sono, pelo menos até certo ponto. Mas ainda assim, a maioria declarou na avaliação de 12 meses que a cannabis tornou esses sintomas ” melhores” ou “muito melhores”.

No geral, menos da metade dos pacientes relataram uma diminuição no uso de medicamentos, enquanto mais da metade não relataram nenhuma mudança. Mais uma vez, as maiores melhorias foram vistas durante os primeiros 6 meses.

“A maioria dos pacientes apresentou um declínio notável no uso de medicamentos analgésicos prescritos e de venda livre.” Escreveram.

Efeitos colaterais

Os efeitos colaterais foram relativamente menores entre os pacientes que usaram a cannabis medicinal prescrita, embora também fossem bastante comuns. “Um total de 75% (N = 72) relataram ter experimentado efeitos colaterais leves”, diz o relatório, “39,6% (N = 38) efeitos colaterais moderados e 9,4% (N = 9) efeitos colaterais graves durante o período de estudo de um ano.”

A maioria dos efeitos colaterais relatados foram leves, segundo o estudo:

“No geral, boca seca foi o efeito colateral mais prevalente em todos os grupos, seguido de perto pela sonolência. Um aumento do apetite foi observado com mais frequência nos grupos ‘Equilibrado’, ‘THC dominante’ e ‘Misto’. A sensação de estar chapado foi menor no grupo ‘CBD dominante’ e aumentou com uma proporção THC:CBD elevada. Em todos os pontos de tempo, a maioria dos efeitos colaterais relatados foram leves (55,6%), seguidos por moderados (30,8%) e graves (13,7%).”

Mais estudos

Embora as novas descobertas se alinhem com as de alguns outros estudos anteriores, os autores notaram que investigações que analisam a cannabis para o controle da dor por um período maior que seis meses são raras.

Eles enfatizaram a necessidade de futuros estudos longitudinais e controlados para entender melhor os efeitos sustentados de medicamentos à base de cannabis na dor e na saúde mental.

À medida que mais estados legalizam a maconha medicinal, a dor tem sido uma das principais condições qualificadoras na maioria das jurisdições. Isso é apoiado por relatórios de pacientes e profissionais de saúde indicando que a cannabis é uma ferramenta eficaz para o controle da dor.

Melhor que placebo

Uma revisão publicada recentemente sobre pesquisas sobre cannabis e dor crônica nos nervos, por exemplo, concluiu-se que o tratamento com canabinoides oferece “alívio significativo da dor crônica” com “efeitos colaterais mínimos ou inexistentes” — potencialmente fornecendo aos pacientes uma “alternativa transformadora” aos produtos farmacêuticos convencionais.

“Os efeitos positivos dos canabinoides no controle da dor são claros e seu mérito no tratamento é evidente”, diz a pesquisa, publicada no mês passado no periódico Cureus. Ela acrescenta que o fato de os canabinoides serem naturais os sustenta em relação às drogas sintéticas e semissintéticas tradicionais.

Os autores consideraram milhares de artigos de pesquisa para a revisão, incluindo, por fim, em sua análise cinco estudos randomizados controlados por placebo publicados entre 2000 e 2024.

Eles descobriram que o tratamento com canabinoides ofereceu significativamente mais alívio da dor do que o placebo.

“Comparados ao placebo, os canabinoides proporcionaram alívio significativo da dor crônica (33% vs 15%) conforme medido pela escala visual analógica”, diz o artigo. “A aplicação transdérmica de CBD levou a uma redução mais pronunciada na dor aguda, de acordo com a escala de dor neuropática. Efeitos colaterais mínimos ou inexistentes foram registrados, destacando ainda mais os benefícios potenciais dos canabinoides.”

Texto traduzido e adaptado do portal Marijuana Moment

Tainara Cavalcante

Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.