×
Notícias sobre Cannabis Medicinal e muito mais

Cannabinologia

Cannabis para dor: tipos, efeitos e opções no Brasil



10/06/2025


Saiba como a cannabis medicinal pode aliviar dores crônicas inflamatórias, neuropáticas e oncológicas, quais canabinoides usar e como obter prescrição no Brasil.

Homem sentindo dor crônica. Foto: Envato

Homem sentindo dor crônica. Foto: Envato

A dor crônica afeta mais de 37% dos brasileiros adultos e é uma das principais causas de afastamento do trabalho. Quando os analgésicos convencionais já não oferecem alívio satisfatório – ou provocam efeitos colaterais indesejados – surge a pergunta: a cannabis medicinal pode ajudar?

Nos últimos 20 anos, estudos com CBD, THC e outros canabinoides avançaram do campo experimental para a prática clínica, abrindo novas possibilidades para pacientes com fibromialgia, artrite, neuropatias e até dores relacionadas ao câncer. Este artigo explica, em linguagem acessível, como a cannabis age no controle da dor, quais tipos de produtos existem no Brasil e quais cuidados você deve ter antes de iniciar o tratamento.

1. Tipos de dor

Tipo de dor Característica Exemplos Resposta típica à cannabis
Nociceptiva Decorre de inflamação ou lesão tecidual Artrite, “bico de papagaio” THC e CBD reduzem inflamação e modulam receptores de dor
Neuropática Lesão ou disfunção do sistema nervoso Fibromialgia, neuralgia pós‐herpética CBD + pequenas doses de THC aliviam disparos de neurônios dolorosos
Mista Combinação de fatores nociceptivos e neuropáticos Dor oncológica, lombalgia crônica Formulações balanceadas (1:1) mostram boa eficácia

Dica rápida: Se não tem certeza do seu tipo de dor, consulte um médico especialista em dor antes de buscar cannabis.


2. Canabinoides e dor – mecanismos de ação

  • CBD (canabidiol): Atua como modulador do receptor 5‑HT1A (ansiolítico) e potencial anti‐inflamatório, reduzindo hipersensibilidade dos nociceptores.
  • THC (tetrahidrocanabinol): Agonista parcial de CB1 e CB2; promove analgesia central, mas pode causar efeitos psicoativos.
  • CBG (canabigerol): Promissor anti‐inflamatório; estudos pré‑clínicos mostram redução de dor visceral.

Efeitos nociceptivos x imunomoduladores

Os canabinoides não apenas “mascaram” a dor; eles reduzem a produção de citocinas inflamatórias e modulam a sinalização de neurotransmissores, oferecendo alívio duplo.


3. Condições tratadas

3.1 Fibromialgia

  • Estudos randomizados indicam diminuição de 30–50 % na escala de dor após 8 semanas de uso de óleo full spectrum 1:1 (CBD:THC).

3.2 Artrite e “bico de papagaio” (espondiloartrose)

  • Pomadas com CBD a 3 % demonstram redução de inchaço e melhora de mobilidade em 60 % dos pacientes.

3.3 Dor oncológica (carcinoma mamário invasivo)

  • Formulações oromucosas com THC predominante (nabiximols) complementam opioides, reduzindo a dose diária em até 25 %.

4. Evidência clínica atual

Publicação População Produto Resultado
Revisão sistemática BMJ 2023 5.000 pacientes Óleo sublingual 1:1 Redução média de 1,4 pontos na Escala Visual Numérica
Meta‑análise Pain 2024 Neuropatia periférica CBD isolado (100 mg/dia) Melhora de 28 % no sono e 22 % na dor noturna
RCT Lancet Oncology 2022 Câncer avançado Spray THC:CBD 2,7:2,5 mg Diminuição de 1/3 na necessidade de morfina

5. Como obter prescrição no Brasil

  1. Consulta com médico prescritor (especialista em dor, neurologia ou oncologia).
  2. Relatório clínico: histórico, exames e falha de tratamentos prévios.
  3. Formulário de importação pela Anvisa (S D) ou compra magistral em farmácia de manipulação autorizada.
  4. Acompanhamento trimestral para ajuste de dose.

Custo médio mensal: R$ 350 – 900, dependendo da concentração e origem do produto.

Leia também: Afinal, quanto custa se tratar com cannabis?


6. Contraindicações e cuidados

  • Uso de imunossupressores: ajuste de dose pode ser necessário; sempre informe seu médico.
  • Gravidez e lactação: evitar, salvo indicação estrita.
  • Histórico de psicose ou taquiarritmia grave: avaliar riscos vs. benefícios.

7. FAQ rápido

Cannabis substitui anti‑inflamatório?
Não necessariamente. Em dores leves pode reduzir ou eliminar AINEs; em dores moderadas – graves, costuma ser adjuvante.

Posso dirigir após usar THC?
Espere ao menos 6 horas ou siga a legislação estadual.

Qual o melhor antiinflamatório para bico de papagaio?
Para crises agudas, AINEs tradicionais; para controle crônico, CBD tópico ou oral pode auxiliar.


Conclusão

A cannabis medicinal desponta como ferramenta versátil no arsenal contra a dor crônica. Se bem indicada e acompanhada, pode melhorar qualidade de vida e reduzir a dependência de opioides e anti‑inflamatórios tradicionais.

Tags

Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.