Existe um debate interessante sobre o uso da palavra Cannabis e Maconha. Geralmente, quando se fala dos efeitos terapêuticos da planta, usa-se Cannabis. Porém, quando o papo é uso adulto e tráfico de drogas, a palavra escolhida é maconha. Apesar da luta não ser semântica, vale a pena se adentrar nesse assunto, porque o reforço ou desconstrução do preconceito passa, também, por ele.
Quando me perguntam o motivo de eu falar Cannabis, como jornalista eu respondo: estratégia! Eu adoraria viver numa sociedade em que a palavra maconha não fosse motivo de desconfiança e repulsa para muitas pessoas, mas não é o caso. E se o meu intuito é levar informação para o maior número de pessoas a respeito dos benefícios que a planta oferece, eu preciso fazer concessões.
Conheço inúmeras histórias de pacientes e responsáveis que tinham horror à palavra maconha, mas, que por meio da palavra Cannabis, se abriram para esse universo e, hoje, entendem que não há diferença nenhuma na prática.
Porém, não desconsidero que, com o crescimento do uso da erva como medicamento, automaticamente aumenta a comunicação sobre o assunto, e o que era uma estratégia tipo “cavalo de Tróia” pode se tornar mais uma forma de aumentar o tabu em torno do uso adulto da maconha. Além disso, podemos também colaborar com essa dicotomia de sentido, quando, por fim, estamos falando exatamente da mesma coisa.
Quando um termo assume o lugar do benévolo e o outro do malévolo o impacto pode ser negativo, por fim, para todo o movimento, principalmente na luta pela legalização e pela descriminalização da planta, que começou muito antes do papo sobre uso terapêutico.
Como podem perceber, o tema é bastante paradoxal. Se chamamos de maconha, podemos afastar futuros pacientes. Se chamamos de Cannabis, marginalizamos indiretamente ainda mais o uso adulto.
Diante da falta de uma resposta mais assertiva sobre qual o melhor termo a ser usado, o lance vai ser escolher de acordo com a consciência e espaço que se tem. Porque eu duvido que veremos tão cedo na manchete de algum grande portal ou jornal impresso mais tradicional que “maconha ajuda a tratar a doença tal”. A palavra usada vai ser Cannabis. É mais palatável num país preconceituoso como o Brasil.
Contudo, fica o convite de fazer esse ajuste no nosso dia a dia. Quem gosta do tema ou trabalha com ele pode falar maconha com mais frequência e, assim, colaborar com o fim desse “um peso e duas medidas”. Por ora, sigo usando ora maconha, ora Cannabis, conforme o momento pedir. As regras mudam conforme as circunstâncias. Foco no propósito: difundir os benefícios da planta.
Mas, sem dúvida, sigo no anseio de que um dia essa discussão não seja mais necessária.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Carol Apple
Caroline Apple é jornalista especializada na cobertura de Cannabis e editora-chefe da Cannalize. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, Agora SP, R7 e UOL. Foi repórter do Sechat, onde adentrou para o universo da cannabis, atuando posteriormente na comunicação de diversas empresas do ramo. É uma entusiasta da planta e de todo o seu potencial terapêutico, além de acreditar no cânhamo como o futuro da indústria como uma forma de colaborar com a regeneração da Terra.
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