Pode soar meio arrogante esse papo de mandar as pessoas estudarem antes de opinar sobre alguma coisa. Mas, gente, convenhamos, é o mínimo. Principalmente quando o assunto envolve saúde, como é o caso da Cannabis.
Faço parte de diversos grupos sobre Cannabis e medicinas da floresta, como ayahuasca e rapé, onde também ocorrem discussões sobre o uso ritualístico da planta, e é tanta desinformação que eu não sei nem por onde começar.
Tem a desinformação clássica da ignorância daqueles que estão presos nos argumentos do governo Nixon, tem os preconceituosos espiritualistas e suas crenças, tem os religiosos e tem os bem intencionados, porém com um conhecimento distorcido, defasado ou emocionalizado.
O que todos têm em comum é a chance de minar o início da terapia canábica de alguém que realmente está precisando.
Esses dias, vi um post falando sobre como os defensores da Cannabis não levavam em consideração que a planta pode desencadear surtos psicóticos em pessoas com ansiedade.
É tanto equívoco numa única explanação, tanto de quem tá se achando o manjador do assunto quanto quem defende o uso indiscriminado por ser natural. É por isso que a gente precisa redobrar a atenção em tudo que a gente lê.
Primeiro que generalizar a Cannabis é pura ignorância. Existem centenas de tipos de Cannabis, inclusive para serem usadas no tratamento da ansiedade, que é o caso das plantas com altas taxas de canabidiol e baixas taxas de THC, o princípio psicoativo, que, no caso, seria o alvo da critica lacradora fuderosa de quem quer falar mal da Cannabis e não sabe como.
Segundo que não é porque é uma planta que seu uso deve ser feito de forma indiscriminada e aleatória. Pelo contrário.
Cada doença ou distúrbio é tratada com uma cepa diferente para atender as necessidades daquela patologia, e isso pode mudar durante o tratamento e até mesmo mais de um tipo de Cannabis ser necessária como complemento.
Então, não é porque a Cannabis é natural que tá beleza indicar aquele óleo do fulano que planta sei lá onde. Até chá de camomila em excesso faz mal.
Portanto, entendo o entusiasmo, mas pega leve, galera. Chumbo amigo dói demais. Precisamos considerar o solo plantado, a forma de extração do óleo e outros detalhes que, dependendo da doença, pode até agravar.
Imagina você oferecer um óleo cheio de metais pesados a um amigo que está se tratando com quimioterapia.
A situação da Cannabis no país ainda é superdelicada. A nossa maior ferramenta de atuação contra o preconceito é a informação.
A internet está recheada de estudos científicos, há diversos sites hoje especializados em trazer informações de qualidade, como o Cannalize, há grupos de discussão, cursos gratuitos, não tem desculpa.
Então, antes de se meter a médico prescritor de Cannabis nas redes sociais, dá um Google. Ajude efetivamente a pessoa que busca informação para começar uma terapia canábica adequada, porque isso é possível inclusive para quem não tem grana pra desembolsar 250 dólares num vidrinho de óleo.
O acesso ainda é um dos maiores entraves, mas com um olhar mais cuidadoso é possível sim não sair por aí oferecendo qualquer opção.
Essa planta já foi muito desonrada e seu uso distorcido. Depende de quem reconhece seu poder a lapidação de um novo momento da Cannabis no país.
Então, sem achismos. Sem pitaco. Pega a barrinha de busca e mete um: “Cannabis no tratamento de xxxx” e search! Aí senta o dedo no post que quer opinar.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Carol Apple
Caroline Apple é jornalista especializada na cobertura de Cannabis e editora-chefe da Cannalize. Trabalhou em veículos como Folha de S.Paulo, Agora SP, R7 e UOL. Foi repórter do Sechat, onde adentrou para o universo da cannabis, atuando posteriormente na comunicação de diversas empresas do ramo. É uma entusiasta da planta e de todo o seu potencial terapêutico, além de acreditar no cânhamo como o futuro da indústria como uma forma de colaborar com a regeneração da Terra.
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