Cannabis medicinal para o tratamento do TDAH

Imagem: Freepik

TDAH é a sigla de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, transtorno que atinge hoje cerca de 5% a 6% das crianças do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS); e mais de 2 milhões de brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde. Esse transtorno interfere no neurodesenvolvimento e os principais impactos são falta de foco ou atenção para conduzir as atividades diárias, e algumas vezes inquietação. E evidências recentes estão mostrando que o canabidiol (CBD) pode ser benéfico para tratar dessa condição.
 

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o TDAH foi descoberto recentemente e não tem uma cura. A parte de hiperatividade é percebida em sinais de agitação, movimentação pelo ambiente, dificuldade para ficar parado em um só local, enquanto a falta de atenção é expressada na dificuldade para conduzir atividades longas ou repetitivas, ou na distração por pensamentos ou estímulos do ambiente. A instituição afirma que 60% das crianças e adolescentes com TDAH atingirão a vida adulta com sintomas de desatenção ou hiperatividade.
 

Assim, podemos dizer que o transtorno é caracterizado por três principais sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Porém, dados de um protocolo clínico do Ministério da Saúde apontam que 70% das crianças com TDAH têm outras condições, como ansiedade, depressão, Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) ou Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). 

Mas antes de chegar ao tratamento com cannabis, é importante saber quais são as causas do TDAH. 

Principais causas

Estudos apontam que pessoas com TDAH têm alterações na região frontal do cérebro, responsável pela capacidade de prestar atenção, pelo planejamento e memória. Os neurotransmissores levam os sinais dessa área para o restante do corpo, e em portadores do transtorno, há alterações de diversos graus nesse canal. 
 

Para o médico e pesquisador de cannabis medicinal, Dr. Mario Grieco, o transtorno também tem relação com a má alimentação. Durante sua palestra na Conferência Internacional de Cannabis Medicinal (CICMED), ele afirmou que alimentos alergênicos contribuem para o crescimento do TDAH, e uma boa dieta melhora a saúde mental, o humor e o desempenho cognitivo, fundamentais para o tratamento. Segundo ele, os maus hábitos alimentares são distúrbios de organização, foco e planejamento.

“Acho que o mais importante quando a gente fala de dieta e alimentação, é o efeito positivo que uma dieta balanceada pode ter no TDAH. Também é importante suplementação alimentar com vitaminas, e três são fundamentais para o transtorno: ferro, zinco e magnésio. Se for feito uma análise correta, crianças e adultos poderão ter uma vida melhor junto com o uso da cannabis medicinal”, destacou o médico. 

Grieco também explica que TDAH e distúrbios do sono têm relações neurais comuns, uma vez que a hiperatividade atrapalha a qualidade do descanso. Em concordância, o tratamento do transtorno deve ser multidisciplinar, pois cuidar da alimentação, fator citado acima, acaba impactando no sono, e consequentemente no foco das atividades diárias. 
 

Tratamentos existentes e cannabis medicinal 

Atualmente, um dos medicamentos mais conhecidos para o transtorno é Ritalina, que estimula a liberação de dopamina no cérebro. No entanto, o uso a longo prazo pode trazer alguns efeitos colaterais, como a dependência. Além disso, o médico ressalta que a própria alimentação saudável vem sendo receitada junto aos diagnósticos para melhor o funcionamento do corpo de diversas formas. 

Pensando em terapia canabinoide, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concedeu, em 2023, o habeas corpus preventivo para um paciente com TDAH que é dependente do tratamento. Contudo, essa decisão é raridade no Brasil, uma vez que o preço do tratamento pode ser um impeditivo para muitas famílias. Certamente isso impacta na quantidade de estudos, e com essa doença isso não é diferente.

As pesquisas envolvendo canabinoides e TDAH ainda são baixíssimas, mas alguns resultados podem ser vistos como animadores. Um estudo israelense apontou que pacientes com TDAH que se trataram com cannabis medicinal conseguiram abrir mão dos tratamentos com outros fármacos. Foram coletadas informações de 53 pacientes que tinham o diagnóstico. Destes, 37 também sofriam de algum problema mental. 

Já um material publicado em 2019 na revista científica PubMed dialogou a respeito da segurança da cannabis para tratar a Síndrome de Gilles de la Tourette, que tem TDAH como uma das comorbidades mais comuns. Os dados coletados mostraram que os canabinoides podem melhorar a transmissão da dopamina para o cérebro, e assim os processos cognitivos. Os tiques nervosos diminuíram para 60% dos pacientes, e os sinais de TDAH e distúrbios do sono melhoram para 55% deles.

Esse resultado combinado com outra pesquisa, dessa vez de 2017. Ela explorou os efeitos do CBD e do tetrahidrocanabinol (THC) no estímulo da dopamina. Chegou-se a conclusão que o canabidiol consegue aumentar os níveis dessa substância a curto prazo.

Contudo, Mario Grieco ressalta que o THC não deve ser prescrito para menores de 18 anos, porque nessa fase ainda estão sendo desenvolvidos os neurônios. “O CBD é o componente mais usado para o transtorno e apresenta bons resultados. Principalmente porque a gente sabe que o TDAH é caracterizado por desatenção e hiperatividade, que também tem sua relação com genética, fundamental para o metabolismo de canabinoides”, disse.
 

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