Embora ainda precise de mais estudos, o uso da cannabis para o tratamento de TDAH tem crescido no Brasil
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A cannabis medicinal tem sido útil para uma série de condições médicas, que não estão apenas relacionadas a epilepsia ou dores crônicas, mas também ansiedade, autismo e claro, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
A opção de tratamento tem crescido principalmente por causa dos poucos efeitos colaterais e uma grande segurança farmacológica, o que trouxe bastante alívio para pais de crianças com o transtorno.
Muito mais que TDAH
De acordo com a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção), o TDAH atinge cerca de 5% da população mais jovem.
A condição costuma ser precoce. É caracterizada por alterações no desenvolvimento, que podem resultar em déficits no funcionamento pessoal, social, acadêmico e profissional. Em 95% dos casos, os sintomas surgem até os 12 anos de idade.
Segundo um protocolo clínico aprovado pelo Ministério da Saúde em julho de 2022, o transtorno é considerado uma condição do neurodesenvolvimento caracterizado por três sintomas:
- Desatenção;
- Hiperatividade;
- Impulsividade.
Por outro lado, estima-se que 70% das crianças com o transtorno também apresentam alguma outra condição. 10% ainda podem ter três ou mais, pois a condição também pode desencadear:
- TOD (Transtorno Opositivo Desafiador) – cerca de 41% dos casos;
- Ansiedade – 25% a 35% dos casos;
- Transtorno de Conduta – 25% dos casos;
- Depressão – 10% a 30% dos casos;
- TOC – Transtorno Obsessivo-Compulsivo – 10% a 17% dos casos.
No caso de adultos com TDAH, entre os principais transtornos que podem aparecer estão:
- Ansiedade – 19,5% a 47,1% dos casos;
- Transtornos de Humor – 11,1% a 38,3% dos casos;
- Abuso de Substâncias – 5,6% a 15,2% dos casos;
- Alguns estudos também indicam que pessoas com TDAH têm mais chances de desenvolver obesidade, com uma prevalência de 40% em crianças e até 70% em adultos.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade junto a outras condições como as mencionadas acima podem ainda potencializar os sintomas, o que pode trazer prejuízos ainda maiores para o desenvolvimento das crianças e na vida adulta.
Como por exemplo, problemas de aprendizagem. Cerca de um quarto das crianças diagnosticadas com TDAH também apresentam dislexia.
O tratamento do transtorno geralmente é feito a partir de psicoterapia e medicamentos, como alopáticos e psicoestimulantes. Além de alimentação saudável, atividades físicas e horas suficientes de sono.
Cannabis como tratamento para TDAH
Como dito acima, a cannabis tem se tornado uma opção cada vez mais procurada para o tratamento da condição, principalmente para amenizar os sintomas sem reações adversas graves.
Embora necessite de mais estudos, os relatos de casos são sempre positivos.
De acordo com a psiquiatra e diretora da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis), Eliane Nunes, a planta pode ser útil para diminuir a ansiedade, a insônia, o declínio cognitivo e até atenuar os efeitos colaterais dos medicamentos.
Isso porque a planta ajuda a regular o Sistema Endocanabinoide. Trata-se de um mecanismo que funciona a nível molecular ajudando a restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio do corpo.
Leia também: O Canabidiol (CBD) ajuda no foco?
Se uma pessoa está com dor, por exemplo, o próprio organismo produz os chamados canabinoides que sinalizam que algo está errado e precisa ser corrigido.
A cannabis também possui canabinoides, que podem atuar de forma similar aos nossos. Segundo a psiquiatra, pessoas com TDAH apresentam uma deficiência neste sistema, que pode ser suprida com canabinoides como o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), produzidos pela planta.
THC também é remédio
A psiquiatra e diretora da SBEC também acrescenta que as propriedades medicinais da cannabis não estão apenas no CBD, principal componente usado como medicamento. Mas também no THC.
O tetrahidrocanabinol é conhecido por causar o famoso efeito de “barato” da maconha, mas também é útil como tratamento de algumas condições e o TDAH entra na lista. Principalmente para ajudar no foco.
“Vários dos pacientes experimentaram a cannabis na adolescência, depois de terem parado a ritalina”, diz Nunes.
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Nível baixo de dopamina
Pessoas com TDAH também possuem níveis baixos de dopamina, um neurotransmissor importante que controla habilidades cognitivas do cérebro, como a memória, ansiedade, humor e nível de atenção.
O que, consequentemente, causa desordem e déficit de atenção, como dificuldades na cognição social, controle de impulsos, função executiva, falta de foco, inquietação mental entre outras coisas.
Mas para muitos pacientes, o uso dos medicamentos pode resultar em tantas queixas quanto os sintomas do próprio Transtorno de Déficit de Atenção.
Por outro lado, alguns estudos mostraram que os canabinoides da planta cannabis podem melhorar a transmissão da dopamina para o cérebro, melhorando os processos cognitivos no geral.
Contudo, é necessário mais estudos.
Diminui os efeitos colaterais
De acordo com a psiquiatra Eliane Nunes, os canabinoides da planta possuem menos efeitos colaterais que os remédios convencionais, além de ajudar a amenizar as reações adversas dos medicamentos.
“A Cannabis equilibra e atenua os efeitos colaterais dos medicamentos, diminuindo a fissura dos tratamentos. E mesmo dos uso de drogas”, ressalta.
De acordo com um estudo publicado na revista Rambam Maimonides Medical Journal, pacientes que usam cannabis medicinal para Déficit de Atenção e Hiperatividade usam menos remédios prescritos.
Aqueles com poucos sintomas de TDAH, ainda interromperam por completo o uso dos medicamentos para usar apenas a cannabis.
Isso acontece porque o Sistema Endocanabinoide está distribuído em todo o sistema nervoso central que processa todos os impulsos recebidos pelo cérebro e ajuda a estabilizá-los.
Consulte um profissional
É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.
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