Maciene morreu em agosto do ano passado, mas superou as expectativas dos médicos e teve qualidade de vida durante todo o tratamento
Quando Elidiel Barroso, de 32 anos, descobriu que a sua irmã, Maciene Barroso, estava com câncer em estágio avançado, não mediu esforços para poder ajudá-la da forma que podia. Conhecendo os benefícios da cannabis, passou a fazer ele mesmo o óleo para enviar para ela.
Sem outro tipo de tratamento que pudesse ajudar, a auxiliar de cozinha conseguiu viver mais de um ano com um câncer no intestino e metástase na barriga. O chá e o óleo feitos da planta, ajudavam a conter os enjoos, a fraqueza e até as dores.
Segundo o professor de química, foi a cannabis que trouxe qualidade de vida para que a sua irmã vivesse tanto tempo em cuidados paliativos. “Foi a cannabis que a ajudou a comer, a dormir e a manter o organismo forte”, diz.
Ambos os irmãos nasceram no Pará e foram para o Maranhão juntos. Porém, com o passar dos anos, cada um foi para um lado. Enquanto Elidiel foi para o voltou para o Pará e depois foi morar em Manaus, no Amazonas, Maciene se mudou para Palmas, no Tocantins.
E a irmã tinha uma vida bem corrida. Por trabalhar em um restaurante, ficava até tarde da noite e muitas vezes, só ia dormir no outro dia. Por isso, quando veio o diagnóstico, a doença já estava avançada.
Tratava-se de um câncer de intestino adenocarcinoma metastático. A doença também já tinha invadido o retroperitônio, uma região da barriga que protege os órgãos internos. Problema que causava dores insuportáveis à medida que o câncer crescia.
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Em 2019, a auxiliar de cozinha ainda fez uma cirurgia para retirar o tumor primário. Contudo, um mês depois, houve complicações internas e ela precisou de duas novas intervenções.
Após tudo isso, Maciente até começou a fazer quimioterapia. Mas quatro anos depois, quando os médicos perceberam que a condição já estava avançada demais, a mandaram para casa para viver o resto dos seus dias. Mal sabiam eles que ela ainda viveria por mais de um ano.
Elidiel soube das propriedades da cannabis de maneira bastante inusitada. Mesmo antes da irmã ficar doente, ele passou a trabalhar em uma aldeia indígena, que fica no Maranhão. Lá, a cannabis é uma planta comum da aldeia.
“À princípio, eu pensei: é droga! Aquele tradicionalismo que a gente já conhece. Mas depois fui estudando as propriedades e disse não, isso aqui está errado, é diferente. (…) Eu vi recém-nascido tomando óleo, chá para cólica, pra criança que fica chorando muito, eles dão também o cházinho”, lembra.
O professor de química se interessou pela prática e começou a pesquisar mais sobre o assunto. Até fez o curso da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) sobre o cultivo e extração.
Quando a irmã ficou doente, o químico ainda pediu para que a médica prescrevesse um produto nacional ou importado. Mas nunca conseguiu. Por isso, ele mesmo se dispôs a fazer o óleo com as plantas da aldeia maranhense.
“A médica sempre apresentou aquela resistência, em dar a receita. Inclusive, nunca deu. A minha irmã faleceu no ano passado e a médica nunca chegou a dar a receita”, lembra Elidiel.
Atualmente, muitos pacientes com câncer têm usado a cannabis medicinal. Não para tratar a doença em si, mas para amenizar os efeitos colaterais causados pela quimioterapia. Náuseas, vômitos e cansaço são alguns dos sintomas que podem ser aliviados com a planta
Em alguns países como os Estados Unidos e Canadá, há até um medicamento específico feito com canabinoides sintéticos. O chamado Dronabinol é vendido para tratar esclerose múltipla e também para auxiliar nos efeitos colaterais do câncer.
Sem contar que também existem estudos que demonstram que a cannabis pode matar células cancerígenas ao mesmo tempo que mantém células saudáveis. Como por exemplo, um estudo realizado na Austrália.
As substâncias presentes na cannabis foram capazes de diminuir as taxas de crescimento das células cancerígenas de melanoma, além de promover a morte delas.
A princípio, a cannabis foi utilizada para tratar os efeitos colaterais do tratamento. Elidiel conta que a cada sessão de quimioterapia, a irmã ficava sete dias com enjoos. Tudo o que comia botava para fora e com isso, ficou fraca e emagreceu muito.
Foi então que o irmão começou a extração do óleo das plantas da aldeia para fazer o óleo e enviar para Maciene.
“Quando ela começou a tomar o óleo, passou a dormir e reduziu a crise de ansiedade. Aí ela começou a acordar com muita fome. Ela engordou 18 quilos tomando o óleo. Aí toda vez eu dava pra ela, não deixava passar. Ela começou a fazer os tratamentos e a reagir bem, pois o óleo reduzia os efeitos colaterais da quimio.” Relata o irmão.
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E o óleo tinha uma alta concentração de THC (tetrahidrocanabinol), substância que gera o famoso “barato” da maconha. Apesar dos efeitos na mente, o chamado canabinoide possui propriedades analgésicas e anti-inflamatórias.
O professor de química conta que também dava o chá da cannabis, que segundo ele, ajudava e muito a conter os enjoos. Enquanto o chá ajudava no bem-estar, o óleo aumentava o apetite, a disposição e até a amenizava as dores.
Elidiel lembra que a irmã chegou a tomar morfina para aliviar as dores constantes. Chegou a usar até 130 miligramas por dose. Mas apenas com a combinação do óleo, as dores passavam e ela conseguia dormir.
“Ela chegou a fumar também para dor. Teve momentos de crise de dor que ela teve, que foi necessário. Ela não sabia tragar e eu assoprava a fumaça dentro do saco e botava para ela respirar. Isso amenizava mais a dor dela.”, lembra.
Com a doença em estágio avançado, toda a família já esperava uma notícia ruim. Depois de um tempo, até os médicos perceberam que não havia mais um tratamento efetivo e a enviaram para casa.
Mas Maciene viveu mais do que o esperado. Parecia que a cannabis estava aumentando a sua sobrevida.
“A gente notou uma lentidão no desenvolvimento da lesão dela, até porque já era muito grande. Depois que ela começou a tomar o óleo, a gente notou também que ela sempre tinha melhoras nos resultados dos exames hepáticos.”Lembra o irmão.
E a sua percepção não é única. De acordo com um estudo divulgado em março deste ano, o uso de cannabis pode estar associado à longevidade em pacientes paliativos com câncer avançado.
A pesquisa feita na Alemanha, ainda mostrou que houve uma melhora na qualidade de vida. Parece que o uso diário de 5 mg de THC oral pode estar associado ao aumento do tempo de vida em mais de 9 mil pacientes.
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Infelizmente, Maciene faleceu em agosto do ano passado anos 37 nos devido ao avanço da doença. Mas Elidiel não se arrepende de todos os esforços que fez para poder ajudá-la.
Hoje, até Elidiel toma o óleo de cannabis. Ele utiliza tanto para ajudar no seu TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção) quanto para insônia. Também incentivou vários familiares e amigos a começar o tratamento.
“Até hoje eu acho inacreditável os efeitos, o que acontece. Até hoje eu ainda faço o óleo, inclusive, eu acompanho algumas pessoas com autismo, Parkinson, Alzheimer e principalmente autismo e depressão. E a melhora é muito expressiva. E muito rápida”, conta.
Ele ainda continua utilizando a cannabis direto da aldeia e até ensinou outras maneiras de fazer a extração para aproveitar ainda mais as propriedades medicinais da planta.
Atualmente, o professor de química está em uma seleção de mestrado no Amazonas para estudar os efeitos anti-inflamatórios de alguns canabinoides da cannabis, como o THC, o CBG e o CBN.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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