Além de passar três dias preso, Carbó também viu seu nome publicado em centenas de jornais do mundo todo, se referindo a ele e seus funcionários como uma ‘gangue’, ignorando o fato da empresa ser autorizada e registrada desde outubro de 2021.
“Há uma perseguição nacional em relação à criminalização e estigmatização da cannabis. Para eles, qualquer coisa relacionada com a cannabis é uma ofensa e não é o caso; as autoridades estão cometendo abusos. O que está acontecendo aqui é prevaricação”, denunciou o empresário.
O BusinessCann entrou em a Guarda Civil espanhola para comentar, mas eles informaram que não estão autorizados a fornecer nenhuma informação sobre este caso.
A jornalista Anita Krepp se encontrou com Carbó em Barcelona, onde ele estava negociando a produção de cigarros de CBD.
Segundo ele, a demanda por produtos de biomassa de processamento de flores e cânhamo da E-Canna e seus serviços de assessoria técnica e consultoria jurídica cresceram 300% nas últimas semanas.
“Os clientes viram que eu tinha sido dispensado e que a empresa continuava operando e entenderam que estávamos fazendo a coisa certa”, conta, ao mostrar uma série de documentos que eram, segundo ele, a prova de que sua empresa processa apenas cânhamo e não maconha, da qual a polícia o acusava.
Em 5 de novembro, a Guarda Civil emitiu uma nota informando que a Operação Jardines havia apreendido 32 toneladas de maconha, mas, segundo Soraya Calvo, diretora administrativa da empresa, que acompanhou Carbó a Barcelona, a informação era falsa.
A começar pela quantidade, que era de 25 e não 32 toneladas, e depois por classificar a matéria-prima como ‘droga’ antes mesmo de passar pela devida análise.
“Entraram encapuzados e com armas nas mãos, obrigando todo mundo a deitar no chão, como se fôssemos traficantes. Não havia necessidade disso. Nossas portas estão sempre abertas e prestamos contas de absolutamente tudo que entra e sai da E-Canna”, diz ela.
Na terça-feira (15), Carbó compareceu à primeira parte do julgamento, em que deixou uma pilha de documentos aos cuidados do juiz.
O magistrado determinou que as flores permaneçam apreendidas– mas não destruídas – e que a E-Canna continue com suas atividades normais, enquanto estudava as provas fornecidas pela defesa.
A expectativa é que a decisão seja anunciada em um mês, e, apesar dos prejuízos causados pelo acúmulo de seu produto no depósito, Carbó mantém a tranquilidade de quem tem certeza de que a sentença será favorável.
“Se forem drogas e eu sou um criminoso, podem me prender. Mas se não forem drogas, solte as minhas flores”, completou.
Apoiado legalmente por dois advogados desde o início das operações da E-Canna, Carbó optou pela advocacia preventiva. Semanalmente, ele informa a Guarda Civil sobre todas as movimentações da empresa.
“Antes mesmo de ser investigado pelas forças do Estado, fui à Justiça e disse: ‘Senhores, esta é a minha atividade. Aqui estão meus documentos. Se isso for crime, me coloquem na cadeia.'”
Ele disse que pediu tutela judicial para que o funcionamento da empresa seja fiscalizado e protegido. A solicitação ainda aguarda resposta.
Ao longo do último ano, ele vinha acumulando documentos sobre a atividade de sua empresa. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde receberia uma visita surpresa da polícia.
“Mas eu esperava um ataque frontal, com inspeções normais. Nunca imaginei que esse ataque viria por trás, com uma acusação que veio do nada e não se sustenta de jeito nenhum.”
Entre os documentos que embasaram a decisão liminar do juiz a seu favor estavam comprovantes da alfândega, órgão tributário, cumprimento da jurisprudência em que se baseia à atividade e às amostras colhidas de cada lote de cânhamo.
Em breve, o juiz receberá a análise referente aos testes de amostras das flores apreendidas pela polícia, que foram enviadas para um laboratório que apurará o percentual de canabinoides presentes para definir se o material é psicoativo ou não.
Casos como esse não são incomuns na Espanha, e os juízes sempre tenderam a interpretar as leis da União Europeia, que são mais permissivas em relação ao cânhamo do que a própria lei espanhola.
Com 15 colaboradores divididos entre o escritório e os dois armazéns da empresa, a E-Canna serve mais de 40 agricultores de toda a Espanha. Eles são obrigados a ter um contrato com uma empresa processadora para garantir a rastreabilidade da colheita, além de usar sementes certificadas e terem registro agrário de sua comunidade autônoma.
‘Também orientamos os agricultores a denunciar a atividade à Guarda Civil. Se não tiverem esses papéis, não trabalham comigo, porque tenho que garantir a legitimidade de cada produto.”
A E-Canna é hoje o principal elo entre o cânhamo produzido na Espanha e sua distribuição para outros países da Europa. Suíça, Bélgica, Alemanha e Holanda já compraram flores de cânhamo processadas pela empresa.
Segundo Carbó, dentro de algumas semanas, a imprensa vai divulgar detalhes de um contrato de um milhão de euros que acaba de assinar com um distribuidor francês.
Os players da indústria da cannabis na Espanha, que pediram para não serem identificados, concordam que o papel da E-Canna na indústria contribuiu para que ela se tornasse alvo desse tipo de operação.
Agricultores e empresas de cannabis do país sofrem há anos perseguições governamentais e policiais e vários deles encerraram suas atividades na Espanha e reabriram em países vizinhos, que lhes oferecem maior proteção legal.
Carbó, porém, está determinado a resistir às incursões que enfrenta e sabe que poderá enfrentar incursões semelhantes no futuro.
“Não vou abandonar uma indústria que está crescendo e tem grande potencial econômico, que está prestes a se profissionalizar, porque se nós, que somos profissionais, fugirmos, ela ficará estigmatizada para sempre.”
O empresário pretende continuar, cheio de novas ideias de negócio na cabeça – uma delas, o desenvolvimento do leite de cânhamo e outra sobre a distribuição de flores de CBD em 1.400 tabacarias da Catalunha a partir do próximo mês.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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