“A gente sabia que daria certo, mas não esperávamos uma repercussão tão grande”

“A gente sabia que daria certo, mas não esperávamos uma repercussão tão grande”

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Conheça a família brasileira que lutou para abrir uma empresa de cannabis nos Estados Unidos e hoje acumula US$25 milhões em vendas

A família de José Rocha era bem simples, ele trabalhava em uma loja de informática e sua esposa, Corina, era vendedora em um shopping aqui no Brasil. 

Por isso, no começo dos anos 2000, eles se mudaram para os Estados Unidos com os três filhos pequenos em busca do “Sonho Americano”. A expectativa era juntar dinheiro para voltar ao Brasil.

Contudo, hoje a família mora no estado do Oregon e já acumula um valor de US$25 milhões em vendas de produtos feitos com a cannabis. Inclusive, com exportações para o Brasil.

Foto: Arquivo Pessoal

Decisões difíceis para a família

A decisão de deixar tudo e tentar a vida em outro país, não foi fácil. Quem se mudou primeiro, foi o marido, que começou a trabalhar como motorista de caminhão. Ele conseguiu o visto através da empresa, mas a mulher e os filhos tiveram que esperar um ano e meio.

Ao chegar nos Estados Unidos, Corina trabalhou limpando casas para ajudar na renda familiar. O marido também trabalhou em construção civil e ela já foi manicure até se tornar fotógrafa.  

Com a sua câmera fotográfica, Corina passou a frequentar eventos até começar a planejá-los também.  O negócio familiar era auxiliado pelos próprios filhos, que a ajudavam nos finais de semana.

Sem volta 

  Deixando de lado a ideia de voltar para o Brasil, a família morou em vários estados dos EUA, como Nova Jersey, Carolina do Sul e Oregon. 

“Quando chegamos com as crianças, ou trabalhávamos para morrer e juntar tudo o que podia e voltar, ou viveríamos bem aqui com uma boa educação. Por isso, decidimos não voltar”, ressalta Corina.

Preconceito x visão do futuro

Quem trouxe o assunto da cannabis à tona, foi o filho mais velho. Quando tinha 12 ou 13 anos, Rafael já pesquisava sobre o tema e tinha a convicção de que a cannabis se tornaria um negócio lucrativo no futuro.

Aos 15 ele fez um trabalho de fim de ano para a escola sobre essa visão. Mas o preconceito fez com que os pais fossem chamados no colégio e o garoto ainda tomou uma suspensão.

Preconceito que também vinha de casa. Corina ressalta que ela mesma não apoiava a ideia do filho. “No pouco diálogo que tínhamos, eu dizia que não iria ser traficante e ele sempre me falava para ler e estudar sobre o assunto para depois conversarmos.”, ressalta.

Corina atualmente – Arquivo Pessoal

Novos caminhos para a família

Mas as coisas começaram a mudar de forma rápida e mostraram que o Rafael estava certo. Dois anos depois, o irmão do meio copiou o trabalho do irmão e ao invés de ser repreendido, levou a nota máxima e até se tornou o orador da turma. 

Hoje os Estados Unidos é um dos principais mercados canábicos do mundo. Segundo a  Headset, uma fornecedora de dados e análises focada na indústria da cannabis, a previsão é que o mercado de cannabis dos EUA deve atingir U$45 bilhões em vendas até 2025.

Entrando no mercado canábico

Os filhos cresceram e escolheram estudar em uma universidade no Oregon, que ficava do outro lado do país. Na época, a família morava na Carolina do Sul e essa foi outra decisão difícil.

Mas a escolha foi feita principalmente por causa da cannabis. Ele foi o primeiro estado americano a legalizar a maconha em 2014. Dois anos depois, quando os impostos sobre os produtos à base da planta começaram a ser cobrados, o Oregon arrecadou US$25,5 milhões em apenas sete meses.

“Eles foram para lá e alugaram uma fazenda. O meu marido e eu dissemos que se desse certo, iríamos investir o restante”, lembra Corina. “Deixamos eles lá durante um ano para ver se dava certo”.

Os irmãos se revezavam trabalhando duro durante o dia e a noite na plantação de cannabis. O retorno não demorou muito e logo os números já eram bastante promissores.

Foi então que José e Corina venderam tudo o que tinham, inclusive uma empresa de construção, para investir no negócio.

Um mercado bastante complicado

Mas assim como os números, os problemas também não demoraram para aparecer. A família foi uma das primeiras 50 fazendas a plantar cannabis, mas vender não era uma tarefa fácil.

Nos EUA, não há uma lei nacional sobre o cultivo ou uso da planta, por isso, cada estado possui uma legislação diferente. Para se ter uma ideia, o estado de Nova Iorque só passou a ter uma legislação sobre o assunto em março do ano passado. 

Por isso, apenas passar com uma carga de maconha por um estado onde a cannabis ainda era proibida, já era bastante difícil.  “Tivemos muitos problemas, pois em muitos estados ainda era crime. Tínhamos produtos que eram fiscalizados, perdemos muito”, ressalta.

Plantação USA Hemp Foto: Arquivo Pessoal

 

Migrando para a indústria medicinal

Conforme a concorrência aumentava, a família brasileira percebeu que teria que reduzir a qualidade para continuar no mercado, mas era algo que não queriam fazer. Por isso, os filhos novamente pensaram em algo visionário. 

Mais uma vez, o negócio foi um dos primeiros dos Estados Unidos a entrar no mercado de cannabis, mas dessa vez, no ramo medicinal. 

 “As pessoas nos chamavam de loucos, disseram que não ia dar dinheiro. Mas não demorou muito e estourou”, ressalta.

O óleo de cannabis serve de auxílio para uma série de doenças, como epilepsia, Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla e muitas outras. Hoje, a expectativa é que o mercado medicinal alcance US$13,1 bilhões em 2025. 

Novos desafios

Foi quando entraram no mercado que a família de Corina percebeu que este seria um desafio ainda maior que o cultivo para o uso recreativo. 

“Para cada coisa que deu certo hoje, foram mil erros antes. Tivemos que aprender a perder colheitas inteiras que passaram do teor de tetraidrocanabinol (THC) permitido, foram 200 mil dólares em planta. O estado fiscaliza, temos que queimar na frente da polícia”, ressalta.

“Saímos de novo do zero e fomos desenvolvendo a nossa genética. Mas isso não é tudo. Tivemos problemas na hora de colher, o mofo tomou conta e perdemos 90%. Mas não desistimos, cada tombo ficava como uma experiência. Não tinha a opção de não dar certo, tinha que dar”, acrescenta.

José Rocha na sua fazenda de cannabis – Arquivo Pessoal

Mais do que poderiam imaginar 

Quando finalmente deu certo, todos ficaram surpresos, porque a repercussão foi maior que o esperado. 

Atualmente a estrutura das suas fazendas se tornaram pequenas e eles fazem parcerias com pequenas cooperativas que querem produzir, mas não sabem como. Hoje o óleo da USA Hemp é importado para vários lugares, inclusive para o Brasil.

Ana, a filha mais nova, também teve a ideia de lançar um cigarro de CBD para quem quer parar de fumar. O produto também foi um sucesso, maior até que a USA Hemp. Mas esta é outra história. 

 

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