Depois que o convênio médico deixou seu filho sem terapias, um consultor buscou outras alternativas. A cannabis foi a melhor delas
Mariel Borges, 39 teve a sua vida transformada em 2019, quando o seu filho João, ná época com apenas um ano de vida, foi diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) com nível de suporte 3.
O seu mundo virou do avesso mais uma vez quando o plano de saúde não quis mais cobrir terapias, o que fez a família recorrer a um método alternativo, que curiosamente fez toda a diferença.
Foi depois do tratamento com a cannabis que Mariel viu muitas coisas acontecerem. De repente o seu filho estava mais aberto para outras comidas, abraços e até ao diálogo. “Foi a primeira vez que vi o meu filho falando papai”, diz.
Natural do Rio de Janeiro, Mariel já tinha uma filha de outro casamento, quando se casou com Roberta, sua atual esposa. Juntos, tiveram o João. O novo membro da família nasceu um dia depois do seu aniversário e agora, pai e filho comemoram juntos.
Hoje com cinco anos, o pequeno João recebeu o diagnóstico de autismo quando completou o seu primeiro ano de vida. “Foi um baque muito grande, porque até então era um assunto bastante desconhecido para mim”, lembra o pai.
Embora a sua esposa estivesse um pouco mais tranquila por ser fisioterapeuta, Mariel Borges ficou bastante preocupado. Abandonou o emprego para se dedicar ao filho, passou noites pesquisando sobre o assunto e acabou desenvolvendo ansiedade e pânico.
Veja também: Escute o nosso podcast sobre autismo!
“Fiquei pensando, como vai ser quando ele for para a escola? Será que ele vai ser independente? E sobre a minha filha, será que darei mais atenção para o João do que a Clara? Fiquei desesperado”, comenta.
Pessoas diagnosticadas com o espectro autista, recebem diferentes níveis de suporte. Não significa o grau do autismo, mas o nível de dependência que ela terá. No nível 1, a pessoa é praticamente independente, já no nível 3, ela precisará de ajuda a vida inteira.
O João, por exemplo, tinha uma sensibilidade muito grande para tomar banho e lavar a cabeça. Também era difícil cortar as suas unhas e não dormia quase nada. “ A gente passou quatro anos sem tirar uma hora de sono seguida. Ele sempre acordava depois de 40, 50 minutos”, lembra o pai.
Isso, sem contar com a restrição alimentar. O João era uma criança que só comia batata palha, biscoito de polvilho, pipoca e tomava suplementos. Ainda corria o risco dele rejeitar a mamadeira por estar muito quente ou muito fria e não querer tomar mais.
A criança também não falava. Mariel lembra que o filho chegava a esticar as veias de tanta força para falar, mas não conseguia se comunicar. O que não é uma coisa muito incomum entre pessoas com TEA.
De acordo com uma revisão publicada em 2021, estima-se que 25% a 30% das crianças autistas não conseguem utilizar a fala para se comunicar.
“Ele falava água em português, inglês e espanhol, mas na hora de pedir ele não conseguia. Ele pegava a nossa mão e arrastava a gente para a cozinha e apontava.” diz Mariel.
Há aproximadamente cinco anos, os planos de saúde têm se recusado a tratar pessoas com atenção especial ou então limitam procedimentos e terapias, o que tem resultado em inúmeros processos na justiça.
De acordo com uma pesquisa feita pela universidade PUC-SP, que analisou mais de 40 mil ações entre 2019 e 2023, o autismo lidera o ranking de negativas.
Isso porque, pacientes autistas precisam de um tratamento crônico, ou seja, demandam muitos tipos de terapias e não tem uma data de conclusão. O que não dá muito lucro para o plano.
Infelizmente, o João foi um dos pacientes afetados. Sem terapia, os pais foram pesquisar alguma alternativa para ajudar na evolução do filho.
Desde que recebeu o diagnóstico o João não usava remédios para tratar os sintomas do autismo. Essa era uma decisão que a família tomou para que o filho não ficasse dopado ou dependente de medicamentos. Mas com o fim das terapias, os pais tinham receio de uma possível regressão.
Foi a partir de pesquisas e histórias de vida que descobriram a cannabis medicinal. “A minha esposa até foi em uma palestra sobre o assunto e chegou em casa falando sobre isso”, lembra o marido.
Não foram nem quatro meses de uso para que os resultados viessem de forma rápida. O pai conta que a melhora começou com a socialização. De repente a criança já estava mais interativa e indo ao banheiro sozinha.
O óleo foi essencial para desenvolver várias questões que as terapias tinham começado.
A cannabis pode ajudar porque trabalha de forma direta e indireta no chamado Sistema Endocanabinoide. Trata-se de um mecanismo que funciona em nível molecular ajudando a restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio de várias funções do corpo.
Se uma pessoa está com dor, por exemplo, esse sistema envia sinalizadores, que são chamados de canabinoides. Moléculas que avisam que algo está errado e precisa ser corrigido.
A cannabis também possui canabinoides, que podem interagir da mesma forma que os nossos. O CBD (canabidiol), por exemplo, é um canabinoide.
De acordo com algumas pesquisas, pessoas com o Transtorno de Espectro Autista têm deficiência de canabinoides no corpo, por isso que a cannabis ajuda tanto como uma espécie de “reposição”.
Hoje, com dois anos usando o óleo de cannabis, o pequeno João já dorme de 10 a 12 horas seguidas todas as noites. A criança também aumentou a sua diversidade de alimentos. Hoje, come macarrão com carne, pão, queijo, presunto, pizza de calabresa e até frango frito.
“O meu sonho era ver o João me dar um oi. E teve uma vez que eu fui buscá-lo na escola e ele veio na minha direção e falou ‘oi papai’. Ele falou. E assim foi um choro para todos os lados. A menina da portaria chorando, eu chorando e o João não entendendo nada”, lembra o pai.
A capacidade de comunicação e socialização desenvolvida, também o ajudou a brincar mais com as outras crianças e finalmente abraçar os pais. Agora, ele até dá um beijo no rosto e fala que a ama.
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O João é capaz até de expressar os seus sentimentos e identificar o que os pais estão sentindo.
‘Eu costumo dizer que ele vai ser diretor. Ele bota todo mundo para dançar, para atuar, para replicar o desenho que ele vê na TV. Esses dias a professora me mostrou um vídeo dele fazendo uma oração, pedindo pela família, pelos amigos e pela professora”, ressalta Mariel.
Foi conhecendo as propriedades medicinais da planta que Mariel Borges percebeu que também precisava de algumas gotinhas de óleo para ajudar a controlar a ansiedade e o pânico.
“Eu costumo dizer que todo mundo precisa de cannabis medicinal e terapia. Se alinhar essas duas coisas na vida, tudo vai bem”, destaca.
As suas pesquisas também o fizeram entrar no mercado de trabalho, e hoje Mariel Borges é consultor de acesso a medicamentos importados. No mês de junho ele esteve representando a marca na Expo TEA e contando a sua história.
“Eu chorava ouvindo a história das pessoas e elas choravam ouvindo a minha”, conta.
Hoje, Mariel também estuda fisioterapia e pretende usar a sua experiência para ajudar quem mais precisa.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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