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Limite de THC em cânhamo preocupa fazendeiros e associações



26/05/2025


Proposta de limite de 0,3% de THC no cultivo de cânhamo no Brasil gera tensão entre agricultores e ativistas. Entenda os riscos e o impacto da medida.

Cânhamo industrial desponta no horizonte sob o céu azul

Cânhamo industrial desponta no horizonte sob o céu azul

Após anos de expectativa, o Brasil está prestes a dar um passo decisivo rumo à regulamentação do cultivo de cânhamo — uma variedade da cannabis com baixas concentrações de THC (Tetrahidrocanabinol).

A proposta, que pode entrar em vigor já em setembro, promete aquecer o agronegócio, mas também acende um sinal de alerta entre fazendeiros e associações do setor.

Leia também: Brasil vai regulamentar cultivo de cânhamo até setembro

O ponto central da controvérsia é o limite de 0,3% de THC, estabelecido como referência pela Anvisa e que deverá ser adotado pelo Ministério da Agricultura na regulamentação oficial.

Embora esse índice seja comum em legislações internacionais, como nos Estados Unidos e na União Europeia, especialistas afirmam que ele pode representar um obstáculo técnico e econômico para a produção nacional.

Palestra "Cultivo de cannabis no Brasil: Modalidades, desafios e custos de produção", com Robson Ribeiro, Rafael Redwood, Ricardo Hazin e Pedro Sabaciauskis, durante o CBCM 2025

Palestra “Cultivo de cannabis no Brasil: Modalidades, desafios e custos de produção”, com Robson Ribeiro, Rafael Redwood, Ricardo Hazin e Pedro Sabaciauskis, durante o CBCM 2025

Durante o Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal (CBCM) 2025, realizado na última sexta-feira (23), o debate esquentou entre produtores e representantes de associações, revelando uma divisão entre o otimismo com a abertura do mercado e o receio de um possível fracasso em larga escala.

“Leis apressadas podem ser uma armadilha”, alerta CEO da USAHemp

Um dos principais nomes presentes no congresso foi Rafael Redwood, CEO da norte-americana USAHemp. Para ele, o cenário brasileiro repete padrões problemáticos já vivenciados em outros países:

“Está acontecendo tão rápido, mas as leis podem ficar uma bagunça. Como o Brasil tem climas tão diferentes, acho que vamos ter dificuldades em encontrar genéticas que vão dar certo aqui, dentro dos limites da lei.”

RedWood prevê que, caso a regulação não leve em conta essas variações, até 90% das fazendas de cânhamo podem falir, como ocorreu em estados norte-americanos que seguiram parâmetros rígidos de THC sem considerar o impacto climático nas plantas.

Rafael Redwood dá entrevista à Cannalize

Rafael Redwood dá entrevista à Cannalize

Outro ponto crítico, segundo ele, é a forma como o limite será testado:

“Vai depender de como eles interpretarão o 0,3%, além de quando testar a colheita, antes ou depois… porque isso impacta muito o produto.”

Apesar das críticas, RedWood vê um caminho positivo, desde que o país invista em pesquisa e estrutura para lidar com os desafios de produção:

“Queremos crescer no Brasil através da pesquisa. Enquanto todos estão focados no cultivo, queremos estar um passo à frente: como dar conta do volume de produção e manter a relação oferta/demanda em equilíbrio.”

Leia também: De onde vem o limite de 0,3% de THC no cânhamo?

Santa Cannabis: “Limite de THC prejudica pacientes e favorece o mercado ilegal”

Pedro Sabaciauskis dá entrevista à Cannalize

Pedro Sabaciauskis dá entrevista à Cannalize

Para o ativista Pedro Sabaciauskis, fundador da Associação Santa Cannabis, a discussão vai além do agronegócio e atinge diretamente os pacientes medicinais que precisam do THC em níveis terapêuticos. Ele considera o limite de 0,3% “super limitante”:

“Quando você bota um limite de 0,3% de THC, você limita o tratamento. Impede que pessoas com doenças que precisam de THC tenham acesso, e elas vão recorrer ao mercado ilegal, porque quem tem dor vai passar por cima de qualquer regra em benefício da saúde.”

Sabaciauskis defende uma lei mais aberta e voltada para a pesquisa de novos canabinoides, como forma de colocar o Brasil na vanguarda do mercado global:

“O mundo errou lá atrás quando regulamentou só o CBD. A gente tem a chance agora de ser uma inovação no jogo mundial da cannabis, fazendo uma lei que não limita, que pesquisa e descobre novos canabinoides.”

“Vamos fazer uma lei mais aberta, pensando não só em resolver o nosso problema, mas o problema do mundo. O Brasil tem capacidade de ser um grande vendedor global.”

Caminho promissor ou tiro no pé?

A regulamentação do cultivo de cânhamo no Brasil representa um divisor de águas. Por um lado, há um mercado potencial de bilhões e oportunidades reais para o agronegócio e a indústria de biotecnologia. Por outro, o risco de uma legislação mal calibrada pode desestimular investimentos, gerar insegurança jurídica e prejudicar tanto produtores quanto pacientes.

Leia também: Cultivo de cannabis pelo agronegócio é arriscado?

A decisão do Ministério da Agricultura nos próximos meses será determinante. Se o Brasil conseguir equilibrar segurança, flexibilidade e inovação, pode ocupar um espaço de destaque no mercado global. Mas, para isso, será preciso ouvir os diferentes setores envolvidos e apostar em políticas públicas baseadas na ciência, e não apenas no controle.

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Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.