Tratamentos com cannabis têm efeitos colaterais?

Tratamentos com cannabis têm efeitos colaterais?

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Já teve medo de usar a cannabis para a sua condição por causa das reações adversas? Saiba que elas são bem menores que remédios tradicionais.

Além de ser de grande ajuda em doenças refratárias, um dos principais benefícios da cannabis como terapia é que ela possui efeitos colaterais mínimos.

Há pacientes que relatam não sentir nenhum, ou no máximo, sonolência. No entanto, tudo vai depender dos canabinoides, da forma de administração e claro, do paciente.

Mas quais realmente são os seus efeitos colaterais mais comuns?

Conversamos com o clínico geral Thiago Braga, formado pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FARMEP). Ele também é médico do Medicina.In, uma rede de prescritores canábicos online.

Ele ressalta que medicamentos à base da planta são bastante seguros, e por mais que haja efeitos colaterais, eles não são graves.

As reações adversas da cannabis também sempre serão menores que efeitos de remédios tradicionais, que muitas vezes não trazem qualidade de vida.

CBD

O médico ressalta que a sonolência é o principal efeito do canabidiol (CBD), composto que não possui propriedades psicotrópicas.

No entanto, a diarreia também pode aparecer. O médico explica que esta reação não é exatamente do canabidiol, mas sim a forma farmacêutica utilizada, principalmente quando é usado poucas vezes e em grandes quantidades.

THC

Já a lista de efeitos do tetraidrocanabinol (THC) é um pouco maior. Primeiro que ele é a principal substância da maconha, por isso, pode causar efeitos alucinógenos.

Remédios com potências maiores do canabinoide podem resultar também em tontura, boca seca, ansiedade, alteração da cognição e problemas de memória.

Contudo o médico ressalta que estes efeitos podem nem aparecer. “Como o THC não é prescrito isoladamente, seus efeitos são modulados pelo CBD, que sempre é usado em conjunto. Por isso mesmo, apenas pacientes que recebem doses maiores de THC experimentam esses efeitos de maneira exacerbada.”

A dose alta não altera os efeitos

O Dr. Braga acrescenta que as reações adversas são sempre as mesmas, independentemente da quantidade da dose.

A concentração do óleo vai influenciar apenas na quantidade necessária de medicamento para causar efeitos terapêuticos ou, nesse caso, os colaterais.

“Ou seja, o único impacto possível está no fato de que um óleo mais concentrado poderá causar efeitos colaterais ao ser administrado ainda que em uma menor dose.” Acrescenta.

As reações são as mesmas para qualquer patologia

O médico também ressalta que os efeitos são sempre iguais, independente da doença. Tanto no canabidiol quanto no THC.

Contudo, o que pode ocorrer é uma interação medicamentosa entre os canabinoides e outras medicações usadas pelo paciente para outras doenças, que também pode produzir assim efeitos colaterais.

“Vamos pegar o exemplo de uma pessoa que usa benzodiazepínicos à noite para dormir e começa a utilizar óleo de CBD para combater dores crônicas. Com o tempo, o óleo de CBD pode aumentar a concentração sérica do benzodiazepínico e deixar o paciente “dopado”, pois a mesma quantidade da medicação usada contra insônia passará a ter sua ação potencializada, o que exigirá ajustes.” Acrescenta.

No entanto, há algumas ressalvas. Pacientes com algumas condições como esquizofrenia, transtorno bipolar ou de ansiedade e outras patologias psiquiátricas, não podem usar o THC. Segundo o médico, o canabinoide pode agravar ainda mais os sintomas das doenças.

A forma de administração pode variar os efeitos

O médico explica que a via de administração pode mudar o efeito colateral experimentado.

Por mais que o óleo de cannabis seja a forma terapêutica de uso mais conhecida, produtos à base da planta também podem aparecer de outras maneiras, como nasal, tópico, comestível, inalada entre outras.

Quando fumada, a Cannabis pode causar irritação na garganta, vias aéreas superiores, olhos e tosse, embora os efeitos sistêmicos possam variar dependendo da concentração de CBD e THC no extrato.

Já o uso tópico não tem efeitos colaterais sistêmicos pois não chega à corrente sanguínea do paciente. Muito útil em patologias de pele, músculos, articulações.

Embora as reações adversas dos comestíveis sejam menores, a quantidade terapêutica absorvida também é.

O uso tópico nasal pode causar apenas leve irritação da mucosa nasal. Essa forma é muito utilizada no controle de crises epilépticas, trazendo resultados rápidos e efetivos.

Nenhum efeito colateral impede o uso da cannabis

O Dr. Braga também acrescenta que nenhum dos efeitos adversos impede o tratamento com a cannabis.

O uso só deve ser interrompido quando o paciente realmente não tolera os efeitos adversos.

“Isso não é algo exclusivo da Cannabis, e o mesmo vale para muitos outros medicamentos. Alguns pacientes não toleram os efeitos colaterais da Metformina, por exemplo, usada no tratamento de diabetes, e cabe ao médico suspender sua medicação se for necessário e adaptar seu tratamento. O mesmo vale para medicamentos à base de CBD e THC.” Diz.

No entanto, o médico também conclui que para garantir a eficácia de um tratamento com Cannabis medicinal, é importante contar com um minucioso acompanhamento especializado.

 

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