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Ariene lembra como a cannabis foi um divisor de águas para o tratamento dos filhos com autismo

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‘Nada é milagroso, mas parece que no caso do meu filho foi’
Foto: Arquivo Pessoal

Ariene Menezes, de 37 anos, moradora de Juiz de Fora, em Minas Gerais, percebeu que o filho era diferente desde que nasceu. Por mais que os pediatras dissessem que era normal ele chorar o tempo todo e não dormir direito,a mãe sabia que não era apenas uma fase.

O diagnóstico de TEA (Transtorno de Espectro Autista) veio quando o seu filho mais velho, Chryslander, tinha dois anos e meio. Além do autismo, o garoto também é hiperativo e tem TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção).

O autismo é um transtorno neurológico que causa déficit na comunicação social, que pode envolver dificuldades com a socialização, conversa e comunicação não verbal. 

Pode vir ainda com déficit no comportamento, como movimentos repetitivos e interesses restritivos. Na maioria das vezes, autistas que têm certa deficiência intelectual podem não ter comportamentos repetitivos e vice-versa.

Apesar da condição ser relativamente recente, não é rara. De acordo com o último levantamento do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), uma em cada 36 crianças são autistas nos Estados Unidos. 

Como não há dados nacionais sobre o assunto, estima-se que 4 milhões de brasileiros tenham TEA.

“O diagnóstico inicial do Chris foi autismo severo com retardo profundo de tão grave que eram as características dele”, ressalta Menezes.

Uso de remédios

Apesar do diagnóstico, Ariene era contra dar qualquer tipo de medicação. Foi convencida pelos médicos com a esperança de que o filho pudesse falar, se concentrar ou mesmo, parar de bater a cabeça.

Porém o que ela mais queria era que o filho parasse de manusear as fezes. O menino jogava para o alto, passava no corpo e nos móveis, o que deixava a mãe com o coração apertado. “Se o canabidiol tivesse resolvido só isso,  pra mim, eu  já tava no céu.” Lembra.

Passou a tomar risperidona e houve uma ligeira melhora na concentração. O remédio é um antipsicótico usado para várias condições da mente. Também possui indicação prevista na bula para o tratamento de alguns sintomas de TEA, como agressividade, irritabilidade e autoagressão. 

“Ele tomou risperidona por três anos, mas sem nenhuma evolução significativa. Enquanto isso, eu pesquisava outras alternativas”, acrescenta a mãe.

A criança também passou a utilizar Neozine, um remédio utilizado à noite para dormir. Também não foi muito útil.

Grupo de autistas

Ariene se sentia muito sozinha. Na época, a condição era pouco falada, por isso, não ela não conhecia muitas pessoas com o transtorno. 

Foi aí que ela, junto com a mãe de outra criança atípica, criaram o Gappa (Grupo de Pais e Profissionais de Crianças com Autismo). O objetivo inicial era trocar experiências, para que pais e médicos pudessem aprender uns com os outros. 

O grupo de mães cresceu e é conhecido em Juiz de Fora. Já fez eventos, manifestações e utiliza as redes sociais para fazer lives e conscientizar sobre o assunto. 

Cannabis como tratamento

Ariene até ouviu falar sobre o CBD (canabidiol), mas parecia uma realidade muito distante. Até porque o acesso não era fácil.

A importação de produtos de cannabis só foi possível a partir de 2015, quando a Anvisa permitiu a entrada de óleos feitos em outros países. Até então, as famílias tinham que buscar cultivadores que plantavam de forma ilegal ou associações que também trabalhavam de forma clandestina. 

A mãe do Chris soube que um médico pioneiro no tratamento de cannabis passaria em Juiz de Fora. Ela não pensou duas vezes em entrar em contato para ajudar a promover um evento onde ele pudesse fazer consultas e receitar o CBD.

 Menezes conseguiu que o médico atendesse 10 crianças do Gappa, que receitou o óleo artesanal. 

Melhoras

Ariene lembra que a melhora veio de forma rápida. “Nada é milagroso, mas parece que no caso do meu filho foi. Ao longo de seis meses eu vi o Chris sair do quadro de severo para moderado que era como se falava na época”, ressalta.

Menezes tirou o Neozine no primeiro dia e o Chris já estava dormindo a noite toda. “Com o canabidiol, ele adquiriu a capacidade de dormir, acordar e voltar a dormir. Coisa que nunca acontecia. Então com isso eu consegui fazer o desfralde noturno em um mês”, lembra.

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Foto: Arquivo Pessoal

Depois que a sua filha do meio nasceu e antes do CBD, o garoto regrediu o pouco que tinha evoluído. Passou a quebrar coisas e ainda chegou a bater algumas vezes na irmã. Contudo, depois que passou a fazer o uso do óleo de cannabis, parece que alguma coisa mudou. 

A criança não estava mais agressiva e até incentivava a irmã a engatinhar. “Passou a brincar com ela, a fazer carinho, a pegar ela no colo. E se ela se colocasse em perigo, ele dava um jeito de me chamar”, relembra Ariene. 

Agora Chris se reconhecia no espelho e passou a utilizar o banheiro normalmente.

“A gente viu ele se abrir para o mundo. Com dois meses usando o CBD, ele simplesmente foi ao banheiro, fez cocô sozinho. Foi a minha maior vitória. Se não tivesse melhorado mais nada, só essa questão das fezes,  eu já estava no céu. Porque criança ri uma da outra. Várias vezes eu vi colegas o chamando de retardado, rindo porque ele usava fralda e tudo mais e o medo que eu tinha era que essa questão das fezes acontecesse fora de casa”, ressalta. 

Outros três diagnósticos

Ao estudar sobre o assunto e passar no médico, Ariene descobriu também que era autista. “O  meu diagnóstico veio tardio, foi no ano passado. Várias coisas da minha infância começaram a fazer sentido pra mim”, lembra.

Quando a segunda filha Khyara tinha dois anos, o autismo também já era perceptível para a mãe. A criança tinha atraso na fala, distúrbio do sono e fuga. Foi então que o mesmo médico que receitou o canabidiol para o Chrys, aconselhou que a mãe já começasse a introduzir o canabidiol.

Mas antes do óleo, a mãe também passou a tratar os sinais de autismo que poderiam surgir. “Desde os dois meses de vida eu comecei  com a intervenção precoce,pois ao longo desses anos, fiz várias formações na área, o pouquinho de dinheiro que eu tinha,  eu investia em cursos”, relata.

Por causa disso, e das inúmeras fisioterapias introduzidas logo no início, a criança não teve tantos atrasos por conta do autismo. 

De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, e do Instituto Telethon Kids Institute, na Austrália, a intervenção precoce em bebês com sinais de autismo reduziu significativamente os atrasos e até o diagnóstico na primeira infância. 

Por ser uma questão genética, Ariene também faz a intervenção precoce no seu caçula Benício, que fez dois anos recentemente. 

“Eu sempre falo que o canabidiol foi um divisor de águas na minha vida. Eu tinha uma vida antes e uma depois. Nem sei como seria a vida da Khyara sem introduzir logo o canabidiol”, diz. 

Essa história também está disponível em forma de podcast!

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Hoje, Camila Monte Blanco Lima (35) e Diego Lima (45) moram em Floripa e coordenam o Sinal Verde, um meio de comunicação focado em disseminar conhecimentos sobre a cannabis.

Com quase 10 mil seguidores no Instagram, o casal virou referência para pacientes e interessados no assunto há dois anos, com publicações e podcasts sobre cannabis medicinal.

Contudo, o ativismo não apareceu por acaso. Foram necessários muitos meses para entender o que é a planta e começar a utilizá-la no seu filho, que atualmente utiliza o óleo de cannabis para amenizar os sintomas do autismo e melhorar a qualidade de vida.

Falta de informações

Tudo começou quando Jimi, o filho mais velho do casal, recebeu o diagnóstico de autismo, na época, com um ano e oito meses. Além de não falar, o pequeno também não conseguia se manter focado. 

A falta de atenção é um sintoma comum em pessoas com autismo, assim como a seletividade na alimentação e problemas com o sono, questões que limitavam a vida da criança. 

Não demorou muito para que o pequeno Jimi começasse a ser acompanhado por um fonoaudiólogo e fazer terapia ocupacional. “A gente começou a pesquisar o que as pessoas usavam para poder auxiliar a ter mais foco e começamos a ler sobre a cannabis”, ressalta a mãe.

Por outro lado, as informações sobre cannabis e autismo ainda eram escassas. Era difícil encontrar referências sérias sobre o assunto na internet, assim como famílias com experiências no assunto, o que deixava a família receosa. 

De autismo não verbal para verbal

Foi depois que encontraram uma médica conceituada na região que os pais tomaram coragem em tentar utilizar a cannabis medicinal como opção. Ainda assim, a primeira experiência não foi boa. 

O óleo feito pela associação agitou bastante o pequeno Jimi. “A gente também não tinha recebido muitas orientações, sobre como é que ele poderia reagir nesse primeiro momento. Foi  em uma época que era tudo muito cru”, acrescenta Camila.

Foi somente depois de passar em outro profissional que as coisas realmente aconteceram. Em 18 dias, a criança começou a falar. 

“Não é que ele aprendeu aos poucos, ele só começou a falar. Parece que ele estava no mudo todo esse tempo e de repente começou a falar, já saiu falando umas coisas, falando bem”, acrescenta o pai. 

Camila ressalta que a impressão que eles tiveram era a de que a criança estava finalmente acessando tudo o que havia aprendido nas terapias. 

Lendo e lendo até em inglês

Se a questão era o sono e a falta de atenção, parecia que a questão estava resolvida. Agora, ele está mais focado e dorme bem. Camila conta que até a alimentação está mais diversificada.

Mas o que mais os surpreendeu foi descobrir que o pequeno Jimi, com apenas três anos, também havia aprendido a ler. A criança começou a mostrar sinais de que estava entendendo o que estava acontecendo e lia tudo que via. 

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Com o passar dos dias, os pais descobriram que ele tinha aprendido a ler bem antes de começar a falar.

“A gente pensava que ele tinha decorado, então escrevíamos outras palavras maiores e ele lendo pra gente. Então a gente sentiu que o óleo tinha lubrificado e  acessado todo o trabalho que ele já estava fazendo com a equipe multidisciplinar”, ressalta Camila.

Diego ainda acrescenta que Jimi também começou a reproduzir e a ler as palavras em inglês que via nos vídeos da internet.

Disseminando mais informações

A criação do Instagram Sinal Verde foi justamente uma maneira de propagar as informações sobre cannabis medicinal que eles não tiveram, como uma forma de educar as pessoas sobre o tema. 

“Hoje, muita gente que vem conversar conosco e eu me vejo no lugar delas (…) não quer dizer que a cannabis vá funcionar para todo mundo, até porque não é um milagre, mas vale a pena conversar com outras famílias, a gente sempre se põe super aberto para conversar”, acrescenta Camila.

Consulte um profissional

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um profissional de saúde habilitado, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

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