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Abril Azul: existe remédio para o autismo?
Foto: Freepik

Começando do princípio, o autismo faz parte do chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição de existência na qual a pessoa tem um desenvolvimento neurofisiológico considerado atípico, ou seja, diferente do que se considera o padrão. Essa alteração no desenvolvimento do sistema nervoso central altera a forma como indivíduos que estão no espectro veem e compreendem o mundo, e até como se relacionam com as outras pessoas.

Assim, pode-se dizer que o autismo afeta a comunicação e interação social de um indivíduo, além de poder trazer comportamentos restritos e repetitivos.

Essas alterações, normalmente, não impactam na saúde física dos indivíduos, mas têm potencial de gerar medo, irritabilidade, choro e crises comportamentais, podendo também influenciar o desempenho das atividades básicas e instrumentais de vida.

Dessa forma, enquanto alguns conseguem realizar a maioria das atividades de vida diária sem apoio, outros precisam de ajuda até em tarefas consideradas simples.

Apesar disso, o autismo não é considerado uma doença! Já que não é uma enfermidade biológica que produz sintomas e que pode ser curada por meio de algum tratamento medicamentoso ou cirúrgico.

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Se autismo não é uma doença, por que falamos tanto em tratamento?

O tratamento para o TEA visa oferecer condições para que a pessoa desenvolva seu máximo potencial, possibilitando um diagnóstico e uma intervenção precoce que propiciem sua maneira atípica de evoluir.

Tratar o autista deve ter como objetivo, então, auxiliar com determinados comportamentos que sejam prejudiciais à própria pessoa ou a outros, e não apenas porque parece “esquisito” ou diferente.

Daí que vem as terapias multidisciplinares, como Terapia ABA, Fonoaudiologia (e cabine), Terapia Ocupacional, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Musicoterapia, Hidroterapia, Fisioterapia e atendimento psicológico. Elas são voltadas para auxiliar e apoiar os indivíduos no espectro a se desenvolverem e conseguirem criar independência e autonomia em suas vidas.

Os medicamentos servem para o quê?

Segundo as diretrizes clínicas da Academia Americana de Pediatria (AAP) para o cuidado de crianças no TEA, os medicamentos são indicados para tratar questões correlacionadas ao

autismo, como agressividade, irritabilidade e hiperatividade. Elas podem atrapalhar outras atividades que colaboram para o desenvolvimento sadio da pessoa a longo prazo, como as terapias e a escola.

Além disso, a prescrição de medicamentos pode ser realizada quando há o diagnóstico de outro transtorno do neurodesenvolvimento ou de saúde mental associado, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e depressão.

Quando olhamos os medicamentos indicados para o autismo, acabamos ficando à mercê de substâncias que são eficazes como antipsicóticos – como risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona, clozapina e aripiprazol. Porém, estes alopáticos podem provocar diversos efeitos colaterais importantes como sedação, aumento de peso, síndrome metabólica e outros.

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Essas drogas, então, têm eficácia limitada e um alto potencial para induzir efeitos indesejáveis, comprometendo a adesão ao tratamento e podendo piorar, em alguns casos, a qualidade de vida das pessoas no espectro.

E como entra a terapia canabinoide?

A cannabis surge como uma possível estratégia para auxiliar na terapêutica do TEA, já que os fitocanabinoides, principalmente o canabidiol (CBD), têm efeitos positivos no controle das comorbidades, como hiperatividade, distúrbios do sono, ansiedade, auto e heteroagressividade.

Além disso, estudos em modelos animais sugerem uma possível desregulação do Sistema Endocanabinoide (SEC) no TEA. 

Sabe-se que o SEC está envolvido na modulação de neurotransmissores excitatórios e inibitórios, sistemas esses comprometidos em indivíduos com TEA. E também na regulação da liberação de ocitocina e vasopressina, que, por sua vez, atuam modulando comportamentos sociais.

Portanto, apesar do TEA não ter cura e não existirem medicações específicas para auxiliar na terapêutica das questões envolvidas nessa condição, o CBD, e alguns outros compostos da planta, estão se mostrando cada vez mais efetivos nesses casos. 

Ao interagirem com o SEC e modularem diferentes aspectos relacionados à cognição, a cannabis é uma possível ferramenta medicamentosa capaz de trazer mais bem-estar aos indivíduos no espectro e aos seus familiares. A terapêutica possibilita a participação nas atividades de suporte com mais facilidade, calma e atenção, com uma baixa gama de efeitos colaterais. 

Quem sabe, em um futuro próximo, veremos a cannabis como o tratamento medicamentoso de escolha para aumentar a qualidade de vida no TEA!

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