Depois de tantas críticas à Cloroquina e Inverctimina, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) começou a defender um novo medicamento contra o Coronavírus, chamado proxalutamida.
Ele comentou sobre o assunto no último domingo, quando teve alta do hospital. “Tem uma coisa que eu acompanho há algum tempo e nós temos que estudar aqui no Brasil. Chama-se proxalutamida. Já tem uns meses que isso aí, não está no mercado, é uma droga ainda em estudo”, disse.
Manufaturado na China, a proxalutamida serve como um bloqueador de hormônios masculinos, como a testosterona, por exemplo. Testes também estão sendo feitos para medir a sua eficácia contra o câncer de próstata.
Imagem: Pixabay
O medicamento ganhou fama depois que uma pesquisa realizada por pesquisadores de vários países, inclusive do Brasil. Ela concluiu que depois da administração por pacientes hospitalizados por COVID, a mortalidade diminui 77% em um intervalo de 28 dias.
Contudo, o estudo foi divulgado na sua fase pré-print, ou seja, sem a revisão de outros pesquisadores. A conclusão final foi publicada nesta segunda-feira (19) no Frontiers in Medicine.
Ela diz que a taxa de hospitalização com o tratamento da proxalutamida foi 91% menor, em comparação com os tratamentos convencionais. A pesquisa ainda acrescenta que as mortes com o remédio foram de apenas 5%, enquanto as de COVID foram de 47%.
No entanto, a pesquisa tem causado polêmica entre os cientistas, que questionam a validade do estudo. Há também uma suspeita de fraude, que pode ter sido feita por conflito de interesses.
Alguns pesquisadores dizem que há uma possível discrepância entre a fabricante do remédio, há supostas discrepâncias entre a metodologia anunciada e o que de fato foi posto em prática.
Segundo o infectologista Mauro Schechter, professor-titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro à BBCNews Brasil, devido a quantidade alta de mortalidade entre as pessoas que tomaram o placebo, o estudo deveria ser interrompido, uma vez que os pacientes não estavam em fase terminal.
Isso porque como se tratava de um estudo duplo-cego, ou seja, nem os pacientes e nem os pesquisadores sabiam o que cada um estava consumindo, havia a probabilidade da proxalutamida estar causando as mortes.
O infectologista ainda acrescenta que caso o remédio também poderia ser tão potente, que o uso em todos os pacientes deveria ser imediato.
Outro argumento do professor da UFRJ é que o efeito de um bloqueador de hormônios na COVID-19 é um pouco estranho, uma vez que se trata de uma doença viral. Ele ainda questionou a rapidez de um estudo tão complexo.
Imagem: Pixabay
Por meio de seu advogado, o principal cientista da pesquisa, o endocrinologista Flávio Cadegiani rebateu as críticas. Primeiro, ele disse que o número de mortes estava relacionado à mortalidade intra-hospitalar do estado do Arizona, nos Estados Unidos. Local onde o estudo foi feito.
Ele ainda acrescentou que as mortes ocorreram depois dos testes e por um curto período, pois a prioridade era manter os pacientes vivos. Ele também argumentou que a rapidez do estudo foi decorrente da urgência de medidas eficazes contra o Coronavírus.
A discussão chamou atenção de pesquisadores estrangeiros, que também questionaram o número alto de mortes para pacientes em estágio moderado.
Em junho, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), encarregada dos estudos científicos no Brasil, fez um um relatório à Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Conselho Federal de Medicina pedindo uma investigação por “suspeitas de fraude e falhas graves” na pesquisa.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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