De acordo com um novo estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), a presença de citocinas inflamatórias pode potencializar os efeitos da maconha e consequentemente, aumentar o risco do desenvolvimento de psicose.
As citocinas nada mais são que proteínas inflamatórias no sangue, que são capazes de modular a resposta imune de diversas células do corpo.
Segundo a pesquisa, publicada pela revista científica Psychological Medicine, as chances aumentadas do distúrbio não apareceram apenas no uso diário de maconha entre adultos, mas também entre pessoas que fumaram na adolescência.
Além de avaliar as respostas de um questionário feito com mais de 400 voluntários com idade entre 16 e 64 anos, os pesquisadores também mediram as citocinas plasmáticas no sangue de cada um.
Isso ajudou a traçar um perfil inflamatório sistêmico dos pacientes. Também foram coletadas informações clínicas e dados socioeconômicos, para entender as chamadas “variáveis de confusão”.
Trata-se de elementos como idade, sexo, etinia, escolaridade Índice de Massa Corpórea (IMC), consumo de cigarro ou outras substâncias que podem influenciar os resultados.
“Nem todas as pessoas que usam maconha desenvolvem psicose. Isso indica que outros fatores podem modificar essa associação. Em estudo anterior, durante meu mestrado, identificamos a relação entre citocinas plasmáticas e o primeiro episódio psicótico. Com essa descoberta e a publicação recente do consórcio identificando maior incidência de psicose naqueles que fazem uso diário da substância, nosso próximo passo foi verificar se o fator biológico [perfil inflamatório] estaria alterando a associação entre maconha e psicose”, explica Fabiana Corsi-Zuelli, primeira autora do artigo à revista Galileu.
Contudo, ela também explica que os dados possuem estatísticas suficientes para associar o perfil dos participantes, o consumo de cannabis e a maior probabilidade de desenvolver psicose.
O estudo clínico concluiu que pessoas que fumam maconha e possuem as proteínas, são mais predispostas a apresentar psicose que aquelas que não foram expostas a nenhuma delas ou apenas a uma.
Esta é a primeira vez que pesquisadores brasileiros analisam a combinação dos dois fatores juntos. No artigo, os autores ainda acrescentam que esta é a “primeira evidência clínica de que a desregulação imunológica modifica a associação maconha-psicose”.
O estudo faz parte de um consórcio internacional de pesquisas, chamado European Network of National Schizophrenia Networks Studying Gene-Environment Interactions (EU-GEI) com 17 centros em 6 países.
Em 2019, o grupo também publicou outro artigo sobre o assunto na revista The Lancet Psychiatry, em que apontou que o uso diário da maconha pode aumentar em média até três vezes as chances de desenvolvimento da psicose.
Apesar do estudo evidenciar a relação, os pesquisadores destacam que a origem das alterações inflamatórias ainda na psicose ainda são um mistério.
Agora, os cientistas buscam trabalhar com variantes genéticas associadas ao sistema imunológico para entender um pouco mais os fatores de risco e ambientais sobre a psicose.
Isso acontece por causa de um elemento da cannabis chamado tetrahidrocanabinol (THC), responsável pela sensação de “brisa” da maconha. A substância pode desencadear alguns distúrbios mentais quando utilizado de forma exagerada, e potencializada quando combinada com predisposição.
No entanto, há também estudos que sugerem que da mesma forma que o THC induz a sintomas de psicose, o canabidiol (CBD), outra substância da planta que não possui efeitos alucinógenos, pode causar um efeito contrário.
Ele pode ter o poder de reajustar as atividades cerebrais, o que reduz os sintomas de esquizofrenia e bipolaridade.
Isso acontece porque o perfil farmacológico do canabidiol é semelhante a antipsicóticos. Entenda mais sobre o assunto aqui.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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