Alguns estudos tem demonstrado que o uso do canabidiol pode ajudar não só o vício em maconha, mas também em outros típos de dependência
A maconha é a droga mais usada no Brasil e também no mundo. Mesmo ilícita aqui, é estimado que existam 1,5 milhão consumidores, que fazem parte dos 198 milhões ao redor do planeta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso da planta em forma de cigarro pode causar dependência leve ou moderada.
Isso quer dizer que ela pode sim viciar, mas nunca terá alguém correndo atrás da maconha como um usuário de cocaína ou crack por exemplo.
foto: Freepik
Não há estudos que afirmam de forma clara o porquê a planta vicia, quais são os mecanismos que levam a dependência.
Mas o que se sabe é que a porcentagem de pessoas que ficam dependentes varia de 5% a 8%, uma porcentagem baixa se você for comparar com outras drogas como o cigarro, por exemplo.
No entanto, os sintomas de abstinência não passam de irritabilidade, falta de apetite e insônia.
O nosso cérebro trabalha com um sistema de recompensa, onde estão concentrados os estímulos de prazer. Estes por sua vez, são responsáveis por mandar as sensações para o resto do corpo.
As drogas tem a capacidade de causar uma influência gigante nesta área, e o uso contínuo faz o corpo querer cada vez mais, perdendo o interesse em outros prazeres ou funções, como comer.
O que causa o famoso “barato” da maconha, por exemplo, é uma substância chamada tetra-tetraidrocanabinol (THC), mas que também tem lá os seus efeitos positivos.
Remédios como o Mevatyl, por exemplo, utilizam o composto para ajudar no tratamento de esclerose múltipla e dores musculares.
Quando a cannabis é queimada no cigarro, o THC é ativado e pode influenciar algumas funções nosso cérebro.
Como por exemplo, a liberação de dopamina, o hormônio que dá a sensação de bem-estar. Ele é parecido com a anandamida, que regula o nosso humor, sono, memória e apetite.
É por isso que a pessoa que consome maconha fica “feliz”, sonolenta, não se lembra de muita coisa ou até com fome.
A cannabis é muito interessante para a saúde porque produz canabinoides, pequenas moléculas que também são produzidas pelo nosso organismo. O THC é uma delas.
Através do sistema endocanabinoide, ela pode influenciar e ajuda a regular várias funções do organismo, como fome, humor, sono, sistema imunológico e por aí vai.
A ciência atual tem mostrado que isso pode ajudar a tratar uma série de condições, como Alzheimer, Parkinson, epilepsia de difícil controle, insônia, depressão e muito mais.
Por ela ser tão bem aceita pelo organismo, é impossível alguém ter uma overdose de cannabis.
Mas você deve estar se perguntando, mas como ela pode ajudar no próprio vício?
O THC não é o único canabinoide da planta. Existem centenas deles que podem influenciar o nosso corpo de formas diferentes.
O mais conhecido e mais usado na fabricação de remédios é o canabidiol (CBD). Diferente do THC ele não possui propriedades alucinógenas. Esse composto é bastante utilizado em epilepsias refratárias, como síndrome de dravet.
Uma curiosidade é que juntos, os dois canabinoides são mais potentes. Além do mais, a o CBD pode inibir as reações negativas do tetra-tetraidrocanabinol.
Essa é uma dúvida presente na vida de muitas pessoas que têm receio em começar um tratamento com a cannabis.
Mas a resposta é não. O canabidiol não causa dependência e nem efeito rebote. Inclusive, nas prescrições incluem o uso diário de CBD em vários tipos de tratamento.
A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) já declarou que o CBD é uma substância que não possui efeito psicoativo, portanto, não causa dependência ou abuso.
Ao invés de ativar de forma exagerada o sistema de recompensa do cérebro, o canabidiol ajuda a restaurar o equilíbrio sem uma relação direta em regiões ligadas ao vício.
Foi pensando nisso, que um estudo clínica da University College London, no Reino Unido, mostrou que o canabidiol pode combater o vício da própria maconha.
A pesquisa publicada na revista The Lancet conduziu testes com 48 pessoas que fazem o uso recreativo por quatro semanas.
Os pesquisadores dividiram os voluntários em quatro grupos, que tomaram doses diferentes do óleo de canabidiol.
Leia também: Redução de danos: Como diminuir o uso de maconha?
O primeiro, com dosagens de 200 miligramas, o segundo com 400mg e o terceiro, 800. O quarto e último grupo tomou um placebo.
Na fase 2 publicada em julho, os voluntários que receberam 400mg a 800mg tiveram uma redução moderada do desejo de usar maconha.
Desde a segunda fase, os cientistas divulgaram que não houve nenhum efeito colateral. O que atestou o óleo como um remédio é seguro.
A pesquisa não é um caso isolado. Outros estudos também tem demonstrado o quanto o canabidiol pode ser útil para o tratamento de dependência química.
Aqui no Brasil, por exemplo, um estudo está sendo feito pela pesquisadora Andrea Gallassi da Universidade de Brasília (UnB), que testa o canabidiol em pessoas viciadas em crack.
Em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ceilândia no DF, a pesquisa conseguiu uma autorização da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) para importar o extrato e testá-lo.
O objetivo principal da pesquisa que começou em 2019 é substituir os vários outros medicamentos usados para tratar o vício, reduzindo apenas a solução 100% natural.
Veja o depoimento de quem já utilizou a cannabis: Empreendedor diz que cannabis ajuda a organizar emoções
O método da cientista envolve ainda, a não internação, para que o paciente tenha uma rotina comum e siga a sua vida.
Outro estudo concluído no mesmo ano com o CBD mostrou um grande avanço em pessoas viciadas em heroína.
A pesquisa feita contou com 42 voluntários. Os resultados foram positivos.
No entanto, nenhum para tratar o vício da própria maconha. Estudos como este abrem caminho para possíveis medicações que os médicos poderão usar para controlar vícios
O CBD é considerado uma substância segura e aprovado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina). Os efeitos colaterais que variam entre sonolência e em alguns casos, diarreia.
Já produtos feitos com uma quantidade maior de THC, podem ter mais efeitos, como boca seca, pressão arterial baixa, alteração de humor, como aumento da ansiedade e até tontura.
Dessa forma, o acompanhamento médico é fundamental no tratamento com a cannabis medicinal.
E se o canabidiol engorda? Aí depende. Bastante usado para pacientes que tratam condições como HIV e anorexia, ele ajuda a restuarar o apetite e trazer mais qualidade de vida.
Por outro lado, também pode ser útil para pessoas que tratam compulsão. O segredo da substância é a regulação do equilíbrio das funções, como a fome, por exemplo.
É possível comprar cannabis no Brasil, mas apenas para fins medicinais no Brasil, e com receita. Você pode adquirir através de importações, nas farmácias e até por associações de pacientes.
O preço do canabidiol pode variar de acordo com a prescrição médica. Os valores variam de menos de R$100 a mais de R$2.500.
Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar desde a achar um prescritor até o processo de importação do produto através da nossa parceira Cannect. Clique aqui.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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