Primeiro remédio para tratar vício em maconha pode estar na cannabis

Primeiro remédio para tratar vício em maconha pode estar na cannabis

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Um estudo recém-publicado usou o canabidiol em testes clínicos com mais de 40 voluntários. Além deste, outras pesquisas também já mostraram o poder do CBD em dependências de crack e heroína.

A maconha é a droga mais usada no Brasil e também no mundo. Mesmo ilícita aqui, é estimado que existam 1,5 milhão consumidores, que fazem parte dos 198 milhões ao redor do planeta.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso da planta em forma de cigarro pode causar dependência leve ou moderada.

Isso quer dizer que ela pode sim viciar, mas nunca terá alguém correndo atrás da maconha como um usuário de cocaína ou crack por exemplo.

foto: Freepik

Não há estudos que afirmam de forma clara o porquê a planta vicia, quais são os mecanismos que levam a dependência.

Mas o que se sabe é que a porcentagem de pessoas que ficam dependentes varia de 5% a 8%, uma porcentagem baixa se você for comparar com outras drogas como o cigarro, por exemplo.

No entanto, os sintomas de abstinência não passam de irritabilidade, falta de apetite e insônia.

Como funciona

O nosso cérebro trabalha com um sistema de recompensa, onde estão concentrados os estímulos de prazer. Estes por sua vez, são responsáveis por mandar as sensações para o resto do corpo.

As drogas tem a capacidade de causar uma influência gigante nesta área, e o uso contínuo faz o corpo querer cada vez mais, perdendo o interesse em outros prazeres ou funções, como comer.

O que causa o famoso “barato” da maconha, por exemplo, é uma substância chamada tetra-tetraidrocanabinol (THC), mas que também tem lá os seus efeitos terapêuticos.

Remédios como o Mevatyl, por exemplo, utilizam o composto para ajudar no tratamento de esclerose múltipla.

Quando a cannabis é queimada no cigarro, o THC é ativado e pode influenciar algumas funções nosso cérebro.

Como por exemplo, a liberação de dopamina, o hormônio que dá a sensação de bem-estar. Ele é parecido com a anandamida, que regula o nosso humor, sono, memória e apetite.

É por isso que a pessoa que consome maconha fica “feliz”, sonolenta, não se lembra de muita coisa ou até com fome.

A cannabis é muito interessante para a saúde porque produz canabinoides, pequenas moléculas que também são produzidas pelo nosso organismo. O THC é uma delas.

Através do sistema endocanabinoide, ela pode influenciar e ajuda a regular várias funções do organismo, como fome, humor, sono, sistema imunológico e por aí vai.

A ciência atual tem mostrado que isso pode ajudar a tratar uma série de condições, como Alzheimer, Parkinson, epilepsia de difícil controle, insônia, depressão e muito mais.

Por ela ser tão bem aceita pelo organismo, é impossível alguém ter uma overdose de cannabis.

Cannabis para tratar o vício da maconha

Mas você deve estar se perguntando, mas como ela pode ajudar no próprio vício

O THC não é o único canabinoide da planta. Existem centenas deles que podem influenciar o nosso corpo de formas diferentes.

O mais conhecido e mais usado na fabricação de remédios é o canabidiol (CBD). Diferente do THC ele não possui propriedades alucinógenas.

Uma curiosidade é que juntos, os dois canabinoides são mais potentes. Além do mais, a o CBD pode inibir as reações negativas do tetra-tetraidrocanabinol.

Foi pensando nisso, que um estudo clínica da University College London, no Reino Unido, mostrou que o canabidiol pode combater o vício da própria maconha.

A pesquisa publicada na revista The Lancet conduziu testes com 48 pessoas que fazem o uso recreativo por quatro semanas.

Os voluntários foram divididos em quatro grupos, que tomaram doses diferentes do óleo de canabidiol.

O primeiro, com dosagens de 200 miligramas, o segundo com 400mg e o terceiro, 800. O quarto e último grupo tomou um placebo.

Na fase 2 publicada em julho, os voluntários que receberam 400mg a 800mg tiveram uma redução moderada do desejo de usar maconha.

Desde a segunda fase, os cientistas divulgaram que não houve nenhum efeito colateral. Agora, foi comprovado que o possível remédio é seguro.

Outros estudos

A pesquisa não é um caso isolado. Outros estudos também tem demonstrado o quanto o canabidiol pode ser útil para o tratamento de dependência química.

Aqui no Brasil, por exemplo, um estudo está sendo feito pela pesquisadora Andrea Gallassi da Universidade de Brasília (UnB), que testa o canabidiol em pessoas viciadas em crack.

Em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ceilândia no DF, a pesquisa conseguiu uma autorização da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) para importar o extrato e testá-lo.

O objetivo principal da pesquisa que começou em 2019 é substituir os vários medicamentos usados para tratar o vício, reduzindo apenas a solução 100% natural.

O método da cientista envolve ainda, a não internação, para que o paciente tenha uma rotina comum e siga a sua vida.

Outro estudo concluído no mesmo ano com o CBD mostrou um grande avanço em pessoas viciadas em heroína.

A pesquisa feita contou com 42 voluntários. Os resultados foram positivos.

No entanto, nenhum para tratar o vício da própria maconha. Estudos como este abre caminho para possíveis medicações que poderão ser usados para controlar vícios. 

As informações sobre os resultados do estudo são da Veja.

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