Overdose por maconha é possível?

Overdose por maconha é possível?

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Sabemos que mesmo de forma leve, a maconha pode viciar. Mas ao ponto de causar uma overdose? A resposta é sim e não. Entenda o porquê.

Não há dúvida que a maconha influencia o cérebro e as percepções sensoriais. Embora cada pessoa tenha uma experiência única, o cigarro de maconha costuma afetar vários comandos do cérebro.

Muitos sentem fome, alegria, calma e até sonolência. Ela  também costuma afetar a memória e pode até desencadear crises de ansiedade. 

Sem contar que a maconha pode sim causar dependência, se consumida em grandes quantidades. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificação da planta para induzir à dependência está entre leve e moderada.

Isso quer dizer que se alguém consumir em grandes doses e por muito tempo, pode sim levar a um tipo de dependência, mas certamente não é maior que álcool ou heroína. Dificilmente haverá uma busca desenfreada por maconha.

Contudo, nunca uma overdose fatal. Entenda o porquê.

Foto: Getty Images

Sistema Endocanabinoide

Para compreender melhor é necessário entender como ela funciona no nosso organismo. As suas substâncias nos afetam através de um sistema chamado Sistema Endocanabinoide

Este sistema é responsável por regular várias funções do organismo, como fome, humor, sistema nervoso e sistema imunológico. 

Se algo não vai bem, o sistema endocanabinoide envia pequenas moléculas chamadas canabinoides que através de receptores estabilizam as funções novamente. Se uma pessoa está com febre, por exemplo, os canabinoides podem ajustar a temperatura novamente.

Os canabinoides são desenvolvidos pelo próprio organismo. Contudo, na falta deles também podemos complementar com canabinoides externos, geralmente encontrados nas plantas.

Sim, é aí que entra a cannabis. Até hoje é a planta com uma quantidade maior dessas moléculas já encontrada. 

E é por isso que ela pode ajudar em tantas doenças. O óleo extraído da erva é cheio de canabinoides, que vão na raiz do problema e ajudam a restaurar algumas funções. Como por exemplo, a epilepsia refratária que é resistente a remédios.

Isso quer dizer que o corpo aceita bem os canabinoides de fora, inclusive o tetraidrocanabinol (THC), canabinoide que produz os efeitos psicotrópicos da planta. Hoje ele é usado para tratamentos de esclerose múltipla, dores crônicas, Alzheimer e até a própria epilepsia. 

E a overdose?

Segundo a National Institute on Drug Abuse, ainda não há registros de mortes exclusivamente por causa da maconha. Alguns centros de prevenção de controle de drogas também afirmam que não é possível ter uma overdose fatal de maconha. Embora isso não signifique que o exagero seja perigoso.

Em 2019 um legista em Louisiana, nos Estados Unidos, afirmou ter registrado a primeira morte por maconha.

Segundo Christy Montegut,  os resultados de toxicidade relataram uma quantidade enorme de THC no organismo. Ele relata que não encontrou mais nada, drogas, álcool ou outra substância que teria provocado a morte.

Contudo, afirmações como esta são contestadas por especialistas, que dizem que não é possível morrer por ingerir muito THC de uma só vez. Também alegam que a morte por outras causas tendo o THC no organismo não é a mesma coisa.

Efeitos contidos

Apesar desta substância ter uma toxicidade extremamente baixa, a maconha não possui só o THC, mas vários outros canabinoides, como o Canabidiol (CBD). 

Estudos têm mostrado que o CBD  inibe as reações negativas do THC. Isso porque ele é capaz de bloquear a capacidade do tetra-tetraidrocanabinol de superestimular uma via do hipocampo, o que evita os efeitos negativos.

Em um estudo realizado pela Western University no Canadá, o CBD foi capaz de reverter comportamentos relacionados à ansiedade e dependência, causados pelo THC.

Overdose de cannabis

No entanto, segundo alguns médicos e pesquisadores, a overdose não se resume apenas em morte, mas também em implicações no uso exagerado de alguma substância ou medicamento.

É por isso que existe o termo “overdose de cannabis”. Ela não chega a matar, mas o abuso da maconha pode ser bastante prejudicial.

As consequências podem aparecer como:

  • Ataques de pânico ou de ansiedade;
  • Desmaios;
  • Tonturas
  • Batimentos acelerados;
  • Paranoia;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Alteração dos sentidos;
  • Vômitos.

Contudo, segundo Dazhe Cao, coautor do estudo e médico toxicologista da University of Texas Southwestern Medical Center, em Dallas, o uso acidental por crianças, através de comestíveis, por exemplo, pode ser um pouco mais complicado, pois a forma que eles processam as substâncias ainda são diferentes que na fase adulta. 

As “overdoses de cannabis” também podem ser entendidas como a mistura entre substâncias, uma pessoa pode comprar um produto achando que tem uma coisa, mas tem outra.

Cenário que pode acontecer pela falta de uma legislação clara sobre o assunto, por exemplo. Isso abre espaço para o gigantesco mercado ilegal e consequentemente, pode gerar uma série de danos para quem consome. 

Sem quem fiscalize, a maconha ilícita pode ser misturada ou contaminada, sem que o usuário saiba por quais processos ela passou.

Canabinoides sintéticos

Embora pareçam produtos mais seguros por serem fabricados para uma finalidade específica, os canabinoides sintéticos são perigosos. Aqui estamos falando principalmente dos ilícitos. 

Quando se trata de qualquer tipo de sintético, há motivos para se preocupar. Os produtos químicos que são perigosos podem ser adicionados ou podem produzir efeitos inesperados e diferentes dos da planta original. 

Segundo estatísticas feitas nos EUA, desde 2015 houve cerca de 20 mortes devido ao uso de canabinoides sintéticos. O número parece ser totalmente bobo, considerando que mais de 30 mil pessoas morreram pelo uso de opioides em 2018 apenas nos Estados Unidos, e esses medicamentos são prescritos todos os dias.

Se você pesquisar mortes por canabinóides sintéticos, encontrará alguns relatos, mas não na mesma quantidade dos opioides ou qualquer outros medicamentos prescritos com frequência. 

E quando observamos a segurança que a planta real oferece, até mesmo a ideia de usar um sintético se torna confusa e boba.

Condições de saúde

Por causa dos efeitos do abuso de maconha mencionados acima, alguns indivíduos com problemas de saúde podem ter algumas complicações. 

A maconha em si não tem o poder de matar, mas pode desencadear reações adversas, que podem resultar em fatalidades.

A American Heart Association, por exemplo, entidade voltada à saúde cardiovascular dos Estados Unidos, divulgou uma declaração dizendo que fumar maconha ou inalar cannabis pode fazer mal para o coração.

A nota foi difundida em agosto de 2020, e acrescenta que a maconha pode prejudicar também os pulmões e vasos sanguíneos.

Um dos médicos que participou do comunicado, Robert Page II acrescenta na nota ainda que o seu uso pode desencadear condições cardiovasculares, como ataque cardíaco e derrame.

A inalação é capaz de provocar a cardiomiopatia, uma disfunção muscular do órgão vital. O documento termina advertindo que as pessoas que têm algum problema de coração devem ter “extrema cautela”, ao utilizar a cannabis.

Skunks

Também conhecido como “super maconha”, ele tem aparecido bastante nos noticiários policiais como uma droga mais potente. Para os fumantes, é apenas uma maconha que não é prensada. 

Na verdade, ele não passa do que chamamos de cepa ou strains. Há milhares espalhadas pelo mundo, que são desenvolvidas através de cruzamentos propositais ou não.

Contudo, o que muda é a quantidade de THC. Segundo a associação DrugWise, maconhas mais comuns têm uma porcentagem do canabinoide entre 2% a 4%. Algumas cepas podem chegar até a 14%. 

Já as variedades híbridas de Skunk tem um pouco mais. Elas variam de 15% e podem beirar até 30% de THC. 

Em geral, os efeitos são os mesmos da maconha tradicional. Olhos vermelhos, alterações de memória e coordenação motora.

Contudo, segundo o professor Francisney Nascimento, que dá aula de Medicina e Ciências na Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu (UNILA) e estuda o THC, o risco de indução de psicose e síndrome amotivacional aumenta muito. 

“Se for adolescentes déficit cognitivo também pode ser induzido com uso frequente” acrescenta.

Isso não quer dizer que o Skunk seja um perigo para a população. Mas como todos os exemplos mencionados acima, a palavra chave é moderação.

 

 

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