Óleo de cannabis: os desafios da extração

Óleo de cannabis: os desafios da extração

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Produzir óleo de cannabis em casa para driblar os preços altos do importado pode parecer tentador, mas há desafios que precisam ser considerados

Imagem: Freepik

Uma das queixas mais comuns que existem quanto ao óleo de extrato de cannabis é o preço. Diante disso, muitas pessoas consideram produzi-lo em casa.

O processo de extração não é complicado, mas é necessário disciplina e método.

Antes de tudo, é importante ressaltar que, para produzir o óleo, é necessário ter a planta in natura, e plantar cannabis em casa é proibido. Então, para não ter que arcar com as consequências jurídicas, é necessário ter um habeas corpus que só pode ser solicitado com a prática da desobediência civil, uma vez que é necessário provar que aquele plantio se torna um óleo efetivo no tratamento da doença.

O trabalho de cultivo precisa de tempo, espaço e equipamentos corretos (estufa, lâmpada ultravioleta, fertilizantes e substratos específicos), o que exige um alto investimento, já a extração do óleo é um processo menos caro, mas também trabalhoso.

“Depois de colher a flor, você vai secar, triturar, misturar com álcool de cereais a -18º C e depois começar o processo de filtragem, para separar o álcool dos resíduos”, explica Deusdete Batista, farmacêutico responsável pela extração do óleo produzido pelo Instituto Curapro, que fica na capital paulista.

O farmacêutico compara a filtragem com a coagem do café, pois os resíduos se separam da mistura líquida com o álcool através de um filtro de papel.

Depois, explica que para retirar o álcool completamente é necessário passar por um processo físico chamado decantação, que pode ser feito num funil de bromo ou numa máquina que se assemelha com uma centrífuga.

Após a filtragem, o extrato precisa de um veículo, ou seja, uma substância que sirva de transporte para ingerir este composto. Geralmente o veículo é um azeite extravirgem comum ou óleos de cereais.

Só após estas etapas que o óleo está pronto para ser consumido – teoricamente.

Cotidiano de quem produz

Fernanda Athagami é membro do projeto Mães e Mulheres Jardineiras, um coletivo de mulheres interessadas no plantio da cannabis para fabricação de óleo para consumo próprio. Portando Habeas Corpus, que garante o cultivo de até 15 pés de cannabis,  Fernanda produz em casa o óleo que usa para tratar seu filho com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

O óleo de cannabis é essencial para o tratamento do filho de Athagami. A mãe jardineira conta que deu trabalho experimentar e encontrar a composição correta do extrato, o que demandou o plantio de várias cepas diferentes até chegar na ideal. 

“Meu filho se autoagredia demais. Após 20 dias usando óleo, cessaram as crises totalmente. Já faz quatro anos que ele usa somente o óleo. Antes eram cinco medicações diferentes e com vários efeitos colaterais.”

No entanto, a mãe admite que o processo de extração caseiro é muito oneroso, informação que pode surpreender muitas pessoas que desejam plantar, buscando economia.

“Acho que o maior desafio fica por causa da conta de luz”, diz a mãe jardineira, que conta que chegou a pagar R$ 300 de conta de luz com a iluminação complementar nos períodos vegetativos do cultivo.

Padronização e análise

E não é só este processo experimental que pode ser dispendioso demais. Para garantir a composição química do óleo, é necessária a realização de diversas análises, e nem todas estão disponíveis para o público em geral.

Athagami explica que consegue enviar seu óleo para análise porque faz isso junto com o de outros integrantes do coletivo do qual faz parte. Os testes são feitos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pela USP (Universidade de São Paulo).

Para o público geral só está disponível testes como o Reaja, uma substância que atesta a predominância dos principais canabinoides, CBD e THC, através do teste de cromatografia líquida. Este teste, porém, não informa maiores detalhes sobre outros canabinoides presentes no óleo e nem o teor exato, somente a prevalência.

O farmacêutico da Apepi (Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal), João Gabriel Gouvêa, explica a importância do teste realizado em laboratório. “A análise vai indicar o perfil químico deste extrato por grama (fitocanabinoides por massa). O laboratório vai analisar esta amostra e retornar um relatório dizendo a quantidade de massa de canabinoides por grama (por exemplo, a cada 1 g de extrato, tem 5 mg de CBD).”

João Gabriel ainda alerta para a necessidade de padronização de produção e análises complementares para garantir o controle de qualidade do produto final.

“A análise de contaminação biológica garante a ausência de bactérias, leveduras, fungos e suas micotoxinas. A análise de solvente residual atesta que não ficou nenhum resíduo de solvente no produto final. O teste de contaminação por metais pesados e pesticidas, dependendo da maneira do cultivo, além da análise de terpenos, também tem sido muito requisitada atualmente.”

Leia também: UFRJ já comercializa ‘kit cannabis’ para testar o óleo de CBD

COA e as vantagens de padronização

As análises às quais o farmacêutico João Gabriel se refere são garantidas por um documento chamado COA (Certificate of Analysis ou Certificado de Análise, em tradução livre), obrigatoriamente apresentado por fabricantes de óleos de fabricação padronizada.

Exemplo de um Certificado de Análise de um produto. Imagem: USAHemp / Reprodução

Este documento, que se assemelha com uma tabela de informação nutricional de alimentos industrializados, é validado por um farmacêutico auditor externo para garantir a idoneidade das informações apresentadas.

O COA pode ser acessado antes mesmo de efetuar a compra de um produto canábico industrializado.

Diante do caráter experimental da produção caseira, a padronização garantida pelo COA é uma vantagem do óleo produzido em escala industrial, em comparação com o óleo caseiro. 

Consulte um médico 

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

Caso precise de ajuda, disponibilizamos um atendimento especializado que poderá esclarecer todas as suas dúvidas, além de auxiliar na marcação de uma consulta com um médico prescritor, passando pelo processo de importação do produto até o acompanhamento do tratamento. Clique aqui.

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