Para o fisioterapeuta clínico Rafael Lara, o Sistema Endocanabinoide deve ser trabalhado por seus colegas de profissão, assim como a aplicação da terapêutica
Médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, biomédicos? Afinal, quais profissionais de saúde podem prescrever cannabis medicinal?
Esse debate é polêmico, uma vez que a RDC 660/2022 divulgada pela Anvisa incluiu apenas cirurgiões-dentistas no grupo de profissionais de saúde que podem receitar a terapêutica. Cabe ressaltar que médicos registrados no Conselho Federal de Medicina (e no Regional) já podem fazer isso desde 2015.
Contudo, um documento emitido pelo Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) concluiu que a importação de produtos autorizada pela RDC é feita pelo próprio paciente, desde que prescrito por um profissional de saúde legalmente habilitado por seu conselho de classe.
Tal documentação é acordada entre CREFITO e Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO).
Essas normas são seguidas pelo fisioterapeuta clínico, Dr.Rafael Lara, que também é especializado em acupuntura em Medicina Chinesa. Ele sempre buscou alternativas complementares e integrativas para melhorar o tratamento de seus pacientes, como fitofármacos e exercícios terapêuticos. E recentemente começou a prescrever canabinoides em seu dia a dia.
Neste ano, Lara iniciou um curso de mentoria para fisioterapeutas que desejam conhecer mais sobre o Sistema Endocanabinoide e aplicações da planta para tratar condições de saúde ligadas à área.
A Cannalize conversou com o profissional para entender mais sobre a cannabis na fisioterapia.
Em sua opinião, quais são os conhecimentos da fisioterapia brasileira sobre cannabis medicinal? É uma terapêutica que gera receio nos profissionais?
Hoje nós temos uma procura enorme e grupos de trabalho que falam sobre isso. Com absoluta certeza isso já é uma tendência, e sinto isso porque tenho novos alunos diariamente. Consenso absoluto nunca vamos ter, mas estamos partindo para uma direção de mostrar para os colegas que o Sistema Endocanabinoide é importante para a prática clínica. Eu acredito que o interesse seja bem maior do que o receio e isso vai se sedimentar dentro da fisioterapia em poucos meses.
Fisioterapeutas podem prescrever cannabis isoladamente ou apenas como uma medicina complementar e integrativa?
Hoje nós temos 15 especialidades na fisioterapia reconhecidas pelo COFFITO. Algumas estão muito próximas do que temos de dados clínicos e pré-clínicos sobre o sistema endocanabinoide na neurologia e na dor crônica, por exemplo. Nós também temos diversas técnicas parecidas, como a terapia neural (utiliza pequenas doses de procaína para regular o sistema nervoso) e que se assemelha com a abordagem da cannabis medicinal.
Quais pontos você considera quando prescreve canabinoides?
Principalmente o status emocional, porque hoje a gente vive em uma grande situação de medo e insegurança. Os fisioterapeutas lidam com dores físicas e existe uma interface entre elas e as dores psíquicas. Existe uma porcentagem de 38% de brasileiros que sofrem de dor crônica e a imensa maioria desenvolve transtornos de ansiedade e depressão, então é muito difícil separar essas duas coisas. Na fisio, nós lidamos muito com disfunções, e para elas, o Sistema Endocanabinoide é um grande regulador.
E como seus pacientes reagem?
Na maioria das vezes muito bem. Em um ano e meio, eu tive um paciente que não quis, ele brincou comigo falando se poderia pensar e deixei a escolha por sua conta. Mas foi o único paciente (em mais de 300) que não quis seguir o tratamento nessa linha.
Como a fisioterapia pode oferecer aos pacientes uma abordagem completa baseada em terapia canabinoide?
Vamos pensar em áreas como fisioterapia ortopédica ou reabilitação esportiva. É comum, por exemplo, que atletas de alta performance tenham insônia. Além disso, quando lidamos com o componente físico da reabilitação, você também está lidando automaticamente com componentes psicológicos, e tudo isso vai refletir em como o paciente se sentirá fisicamente. Então a cannabis pode atuar de uma forma integrativa.
Neste ano, as discussões sobre regulamentação da cannabis medicinal e distribuição dos medicamentos pelo SUS estão em alta. A prescrição dos produtos por fisioterapeutas da rede pública de saúde ainda está distante?
Embora isso ainda seja utópico, é um objetivo que deve ser perseguido. A lei aprovada em São Paulo, por exemplo, acabou restringida em um primeiro momento a três patologias. No âmbito da fisioterapia, algumas condições que envolvem reabilitação e questões neurológicas poderiam ser abordadas. Temos um grupo de fisioterapeutas do Rio de Janeiro fazendo um trabalho fantástico com a OAB-RJ para inserção da cannabis no SUS, mas infelizmente não temos a garantia de que isso vai acontecer no país todo. Existem lugares onde um profissional que atua na rede conseguiria receitar cannabis com o orçamento previsto para isso, e outros lugares onde essa realidade é diferente. Por isso, a divulgação das boas iniciativas, em capitais ou pequenos municípios, é de extrema importância.
Andrei Semensato
Jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Produz conteúdos sobre Política, Saúde e Ciência. Também possui textos publicados nos blogs da Cannect e Dr. Cannabis.
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