O que leva os pacientes com primeiros sintomas psicóticos a usar cannabis?

O que leva os pacientes com primeiros sintomas psicóticos a usar cannabis?

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

De acordo com novas pesquisas, o desejo de se sentir melhor é um dos principais motivos pelos quais os pacientes com primeiros sintomas psicóticos começam a usar cannabis.

Durante uma análise com mais de 1.300 pessoas em seis países europeus, foi notado que os pacientes com o primeiro episódio psicótico (FEP), pela busca de alívio, usaram cannabis quatro vezes mais do que os outros pacientes.

Os resultados também revelaram que iniciar o uso de cannabis para se sentir melhor pode oferecer riscos 3 vezes maior do que ser um usuário diário.

Descobertas como essas, podem ser usadas para ajudar a adaptar as intervenções terapêuticas e também oferecer uma oportunidade para o meio psicoeducativo, pois, ”as razões para o início do consumo de cannabis parece influenciar a frequência de uso” , disse ao Medscape o Dr.Edoardo Spinazzola, MD, médico do Institute of Psychiatry, Psychology e Neuroscience, King’s College London, no Reino Unido.

Os pacientes que começam a fumar cannabis por influência de amigos ou familiares podem ter benefícios terapêuticos que incentivam maior ”assertividade” e a ”se sentirem confortáveis em situações sociais sem a cannabis” disse o Dr.Spinazzola.

Ele disse também que é importante identificar a causa específica do desconforto psicológico que levou ao uso da cannabis e tratar especificamente esse problema, como por exemplo, a depressão;

Os resultados da análise estavam programados para serem apresentados no congresso Schizophrenia International Research Society (SIRS) 2020, mas esse evento foi cancelado devido à pandemia do coronavírus.

Respondendo ao céticos

Estudos anteriores levantaram pontos e argumentos de que o uso da cannabis pode aumentar os riscos de psicose em até 3,9 vezes, a frequência de uso e a potência desempenham um papel importante, disseram os pesquisadores.

No entanto, eles disseram que os ”céticos” argumentam que a associação existe, pois, as pessoas com psicose usam cannabis como uma forma de automedicação, ou por causa dos efeitos de outros medicamentos psicogênicos (de origem psíquica,), ou pela vulnerabilidade genética comum entre o uso da cannabis e a psicose.

Os motivos para o início do uso de cannabis continuam ”na maioria inexplorada”, de modo que os pesquisadores examinaram os registros das redes nacionais europeias de esquizofrenia e o banco de dados Gene-Environment Interactions (EU-GEI), que tem pacientes com primeiro episódio psicótico e indivíduos hígidos que servem como controles na França, Itália, Nova Zelândia, Espanha, Reino Unido e Brasil.

No decorrer da análise, 1.347 pessoas participaram, dos quais 446 tinham um diagnóstico de psicose não afetiva, 89 tinham transtorno bipolar e 58 tinham depressão psicótica.

As razões para começar a fumar cannabis e os padrões de uso foram determinados usando a versão modificada do Cannabis Experiences Questionnaire.

Resultado da análise

Os resultados mostraram que os participantes que iniciaram o uso da cannabis se sentiram melhor e mais forte. A maioria era mais jovem, tinham menos acesso a educação escolar, eram negros, solteiros ou não viviam de forma independente, diferente daquele que começaram a usar por influência de amigos e familiares.

Além disso, 68% dos pacientes com primeiro episódio psicótico e 85% dos outros pacientes começaram a usar cannabis porque seus amigos ou familiares estavam usando.

Por outro lado, 18% daqueles com primeiro episódio psicótico começaram a usar cannabis para se sentirem melhor e 13% começaram a usar por “outras razões”.

Os pesquisadores também examinaram se havia uma ligação entre os motivos para começar a fumar e o escore de risco poligênico ( um desenvolvimento mais recente no mundo dos testes genéticos) de uma pessoa para o desenvolvimento de esquizofrenia.

A regressão indicou que o escore de risco poligênico não mostrou associação nem com o iniciar do uso de cannabis para se sentir melhor e, nem com a influência de terceiros.

No entanto, houve uma associação entre o escore de risco poligênico e o início do uso do medicamento por influência de familiares.

Embora ainda não existam estatísticas sólidas, desde que a lei foi aprovada na região, o uso de cannabis se estabilizou em um nível mais baixo entre os adolescentes. Mas com isso surgiu uma nova população de consumidores com 34 anos ou mais que consome Cannabis.

Referências

  • medscape
  • por falar em saúde

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