O papel da cannabis no traumatismo craniano

O papel da cannabis no traumatismo craniano

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Tanto relato de casos quanto estudos têm evidenciado que os canabinoides podem reduzir neuro inflamações causadas pelos traumas. 

Em maio o Portal Viva Bem do Uol publicou a história de Paulo Henrique Costa, de 65 anos. Ele sofreu um traumatismo craniano em agosto de 2018, quando foi agredido durante um assalto. 

Após várias cirurgias ele ficou em coma e era alimentado apenas através de sondas. Foi só depois do tratamento da cannabis medicinal que o ex-funcionário público voltou a andar, ir ao banheiro, falar e se alimentar sozinho. 

Os resultados apareceram de forma bem rápida. Após sete meses, ele já pôde mexer todos os membros do corpo e foi para a cadeira de rodas. Não muito tempo depois, migrou para o andador. 

Sem contar que hoje, Paulo Henrique Costa não usa mais remédios, apenas o Canabidiol (CBD), componente extraído para fazer o óleo de cannabis.

Arte: Bulat Silvia / DREAMSTIME

Mas o que a ciência diz sobre isso? 

Em 2020 um estudo publicado no Journal of Surgical Research revisou o histórico de pacientes de dois grandes centros regionais de traumas nos Estados Unidos. 

Os pesquisadores perceberam que alguns pacientes que tiveram teste positivo para tetrahidrocanabinol (THC), principal componente da maconha, passaram menos tempo em internação hospitalar ou na terapia intensiva.

Os pacientes que testaram positivo para a droga ficaram em média dois dias a menos que os demais, além de passar menos tempo na ventilação mecânica. 

A taxa de mortalidade também foi um dos fatores que chamou atenção. Enquanto a média de mortes entre não consumidores era de 25%, aqueles que utilizavam o THC era de 19,3%.

Contudo, os pacientes que usavam a substância eram em média 15 anos mais jovens que os demais, o que também pode ter influenciado na pesquisa. 

Como o THC poderia ser útil?

Segundo a cartilha do Ministério da Saúde, quando uma pessoa tem um traumatismo, o corpo tende a criar uma resposta inflamatória para tentar neutralizar a ruptura. 

Contudo, o desequilíbrio dessa resposta inflamatória pode ser um problema, que consequentemente torna-se prejudicial para o resto do corpo.

No Brasil, metade dos traumatismos são causados por acidentes mobilísticos, 30% por quedas e 20% por causas violentas, como agressões ou projéteis. 

O estudo sugere que a cannabis entra na história porque possui efeitos imunomoduladores e anti-inflamatórios. Por isso, o estudo sugere que os componentes presentes na planta, chamados de canabinoides, possam oferecer alguma proteção. 

Estudo pré-clínico sobre traumatismo

Segundo um estudo norte-americano publicado em 2017, as propriedades neuroprotetoras dos canabinoides podem aumentar as concentrações plasmáticas de anandamida e  2-araquidonilglicerol (2-AG)  em resposta ao traumatismo.

Para entender melhor, é preciso compreender o que é o Sistema Endocanabinoide. Presente nos animais e nos humanos, ele funciona a nível celular, auxiliando no equilíbrio de uma série de funções do organismo, como fome, humor ou sono. 

Ele funciona através dos chamados endocanabinoides, produzidos pelo próprio organismo e que funcionam através de receptores por todo o corpo. Segundo a pesquisa, este sistema tem um papel fundamental na regulação dos mecanismos compensatórios e de reparo ao traumatismo.  

Pelo fato da cannabis também possuir canabinoides, como o CBD e o THC, eles podem ser úteis no nosso organismo e servir de reforço aos nossos. 

Mesma linha de pensamento

Reforçando a tese, uma outra pesquisa publicada no  Journal of Neurotrauma e feita em modelos animais, demonstrou que um endocanabinoide chamado 2-AG se conecta a dois receptores, chamados CB1 e CB2, cerca de uma hora após a lesão.  

A substância foi capaz de reduzir a neuroinflamação, formação de edema cerebral, a extensão da área isquêmica, a permeabilidade da barreira hematoencefálica e até reduzir a perda de células neuronais.

O que pode ser de grande ajuda com um reforço. Uma revisão bibliográfica, por exemplo, reforçou que o canabidiol, por também ser um tipo de canabinoide, tem um papel neuroprotetor.

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