Inalar cannabis reduz sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

Inalar cannabis reduz sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Existe um certo receio da maioria quando o assunto é cannabis inalada. Mas será possível que essa forma de uso possa ser benéfica para quem sofre de TOC? Vamos descobrir.

O Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou mais conhecido como TOC, é uma condição desafiadora para a vida de alguns.

Esse transtorno psiquiátrico crônico é caracterizado pela persistência de pensamentos intrusivos (geralmente sobre coisas que poderiam dar errado), junto com impulsos e compulsões, como a necessidade de repentinamente verificar os cabelos ou lavar as mãos.

E para piorar, pessoas com TOC tendem a experimentar altos níveis de ansiedade. Embora haja uma variedade de opções de tratamento para o TOC, incluindo opções terapêuticas e farmacêuticas, muitos pacientes com a condição dizem que esses tratamentos são incapazes de controlar totalmente a doença.

O que dizem as pesquisas?

Um novo estudo publicado no mês passado no Journal of Affective Disorders apontou para a cannabis como tratamento poderoso para o TOC. 

Os pesquisadores da Washington State University descobriram que o uso frequente da planta, e especialmente com níveis altos de CBD, foi capaz de reduzir rapidamente e temporariamente os sintomas do TOC, como ansiedade, compulsividade e pensamentos intrusivos.

No entanto, a redução dos sintomas diminuiu com o tempo, não deixando claro se a cannabis poderia ser um tratamento de longo prazo para aquele sintoma em particular.

Pesquisas anteriores já descobriram que pessoas com TOC têm maior probabilidade de usar a erva, por isso, já levantaram a hipótese de que esse uso é um mecanismo de enfrentamento para lidar com os sintomas do TOC.

Mas poucos investigaram se a cannabis é realmente eficaz na redução dos sintomas de TOC. Os profissionais que investigaram a conexão da planta com o TOC trouxeram resultados mistos.


Um estudo recentemente publicado, mostrou que a cannabis oferece alívio dos sintomas, mas não um alívio significativamente maior do que o encontrado para o grupo do placebo ( substância ou tratamento inerte, ou seja, que não apresenta interação com o organismo).

Ainda assim, a potência da planta usada neste estudo foi menor do que o que está disponível no mercado legal, e o tamanho da amostra foi pequeno. Portanto, pode ter sido insuficiente para encontrar resultados.

Estudos sobre casos com a erva, assim como formas sintéticas de THC (um dos químicos ativos da cannabis) também encontraram algumas evidências de redução dos sintomas.

E diversos estudos profundos em animais descobriram que o CBD é capaz de reduzir comportamentos compulsivos em roedores.

Os pesquisadores, neste estudo, buscaram investigar essa conexão mais profunda em seres humanos. 

Então eles utilizaram um aplicativo chamado StrainPrint, que permite os usuários de maconha do Canadá relatarem seus primeiros sintomas, os produtos, doses específicas de cannabis e o resultado impactante que eles tiveram sobre seus sintomas.

Os profissionais monitoram as respostas de 87 indivíduos que se identificaram com TOC por quase 3 anos, observando especificamente o uso inalado da planta, como vaporização e fumo. 

Os pacientes avaliaram seus sintomas iniciais antes de usar a erva e depois que a usaram, que serviu para responder questões como “Quão intrusivos são seus pensamentos? ou “Quão ruim é o seu comportamento compulsivo?” em uma escala de 0 a 10.


Os dados foram analisados para ver se a cannabis parecia ajudar ou prejudicar quando se tratava de sintomas de TOC. 

A análise mostrou que o uso da erva estava ligado à redução de sintomas. Na verdade, a maioria das sessões resultou na diminuição dos sintomas. 

95,4% de todas as sessões mostraram uma redução de pensamentos intrusivos e 93.8% mostraram diminuição na ansiedade. 

Por outro lado, somente 1,9% mostraram uma piora nos sintomas (dependendo do sintoma) 

Em última análise, esses pacientes relataram uma  redução média de 60% nas compulsões, 49% de redução em pensamentos intrusivos e 52% na redução da ansiedade.

Curiosamente, os pesquisadores acessaram os níveis de CBD e THC nos produtos usados. Calculando isso em sua análise, eles descobriram que aqueles que usaram produtos com alto nível de CBD disseram ter maiores reduções nos sintomas de compulsão,  em comparação àqueles que usaram níveis altos de THC.

Isso é consistente com estudos anteriores em animais sugerindo que o canabidiol pode reduzir o comportamento compulsivo. Aqueles que usaram doses mais altas da planta também tiveram maiores reduções nos sintomas compulsivos. 

Os pesquisadores também perceberam que a erva parecia ajudar mais com pensamentos intrusivos no início do seu uso.

Mas com o tempo, o impacto no uso da planta nos pensamentos intrusivos diminuiu, sugerindo que uma tolerância a esse benefício pode se desenvolver com o tempo. Contudo, a cannabis permanece eficaz para sintomas como ansiedade e comportamento compulsivo.

Embora este estudo sugira que a erva pode ser útil para o tratamento dos sintomas de TOC, existem algumas limitações. 

Por um lado, a amostra foi auto identificada como tendo TOC, então é possível que alguns participantes do estudo não tenham realmente um diagnóstico da doença. 

Também não havia um grupo de controle com placebo, então não podemos comparar para ver se esses impactos são atribuíveis a um efeito placebo, como foram em estudos menores e anteriores sobre a planta cannabis de baixa potência.

Essas limitações sugerem que futuras pesquisas clínicas rigorosas precisam ser conduzidas para verdadeiramente responder essas questões.

De qualquer forma, este estudo aponta o caminho, com algumas evidências de que a cannabis, e talvez especialmente a cannabis com alto nível de CBD, seria um tratamento benéfico para aqueles que sofrem com TOC.

Referências

  • Forbes

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