Doenças gastrointestinais: A cannabis pode ser uma alternativa?

Doenças gastrointestinais: A cannabis pode ser uma alternativa?

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Um estudo buscou entender como os canabinoides podem diminuir inflamações e combater bactérias. Embora precise de mais pesquisas, os resultados são promissores.

A descoberta dos endocanabinoides é recente. Estas substâncias, que funcionam a nível celular, são uma peça importante do organismo.

Através do que chamamos de Sistema Endocanabinoide, elas trabalham como sinalizadores para o corpo, avisando quando algo não vai bem.

Se há algo de errado, eles são enviados para restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio das funções.

Este sistema está presente em várias áreas do organismo, e ajuda a regular o sono, a fome, o humor, o sistema imunológico, sistema nervoso e por aí vai.

Essa descoberta só foi possível depois dos estudos referentes à cannabis, pois a planta também possui substâncias semelhantes que podem agir no nosso organismo da mesma maneira.

Chamados de fitocanabinoides, eles trabalham como uma espécie de reforço aos produzidos por nós.

É por isso que a planta pode ser útil para tantas condições.

Ação contra infecções intestinais

Um estudo feito por cientistas da Universidade do Texas Southwestern, nos Estados Unidos, mostrou que o aumento de endocanabinoides pode proteger contra infecções gastrointestinais.

A pesquisa, feita em camundongos, revelou que o aumento das moléculas serviu de proteção para os animais com sintomas extremos das infecções.

 A descoberta publicada na Cell, uma renomada revista científica, pode ser a chave para a criação de novos métodos de combate a problemas gastrointestinais.

Os endocanabinoides principais do organismo são o 2-araquidonolglicerol (2-AG) e anandamida (AEA). Eles são produzidos quando necessário, para regular alguma função.

No estudo, os camundongos foram geneticamente modificados para produzir o 2-AG em excesso em alguns órgãos como o intestino.

Então, eles foram colocados ao lado de camundongos sem o procedimento, para que todos recebessem três bactérias intestinais diferentes.

Testando as bactérias

O primeiro patógeno foi uma bactéria frequente em roedores, a Citrobacter rodentium. Ela provoca diarreia e inflamação extensa.

 Não há casos de infecção em humanos, mas ainda sim foi um importante passo para entender o reforço dos endocanabinoides no organismo.

A resposta foi certeira. Os camundongos com a dose extra de 2-AG tiveram apenas sintomas leves.

Exames mais aprofundados dos cólons dos roedores modificados mostraram ainda que os sinais de infecção e inflamação deles eram bem menores em comparação com os demais.

 O experimento foi repetido em camundongos normais. Mas dessa vez, foi administrado uma droga que aumentava o nível de 2-AG por todo o corpo. O resultado também foi positivo.

No meio do estudo, a equipe de cientistas também descobriu que o endocanabinoide foi útil no tratamento de infecção por outra bactéria, a Salmonella typhimurium.

 Esta sim é uma infecção que pode ser encontrada em humanos.  A bactéria pode levar a uma gastroenterite, por exemplo.

Seguindo o estudo, outro benefício da dose maior de 2-AG foi sobre a Escherichia Coli Enterohemorrágica (EHEC).

Esse tipo de bactéria pode provocar infecção intestinal grave em humanos e pode até atacar a parede intestinal.

Entender a reação a este tipo de infecção foi considerado um avanço, uma vez que tratamentos com antibióticos podem se tornar obsoletos e até prejudiciais.

Além dos roedores, os pesquisadores testaram o endocanabinoide nas células de mamíferos, mas dessa vez, In Vitro.

A conclusão foi que sem o 2-AG, as células ficam mais suscetíveis a infecções bacterianas. Isso porque a substância tem a capacidade de bloquear um receptor bacteriano chamado QseC. Isso ajuda a evitar infecções.

A criação de um tratamento que pudesse agir diretamente na ação do QseC, por exemplo, poderia ser uma alternativa mais eficaz para as inflamações.

Ação da cannabis no organismo

Para os cientistas, o estudo também pode ajudar a explicar como a cannabis é eficaz para doenças do intestino.  

Inúmeros artigos de pesquisa que foram revisados mostram que fitocanabinoides da cannabis, como o canabidiol (CBD) reduz inflamações em pacientes expostos a diversas condições.

Esses mesmos resultados também mostraram que a cannabis pode reduzir sintomas, como dor de estômago, náusea e diarreia e até doenças gastrointestinais.

 Além desses dois fitocanabinoides mais famosos, muitos outros, e também os terpenos, têm propriedades anti inflamatórias.

Comprovação também em estudos clínicos. Uma pesquisa observacional com 30 pacientes com doença de Crohn, por exemplo, mostrou que a cannabis reduziu o uso de outros medicamentos.

Outra mais atual, também feita com pacientes com a condição, mostrou uma diminuição da atividade da doença no organismo, bem como a remissão completa de cinco dos 11 estudados.

 

Tags:

Artigos relacionados

Relacionadas