A descoberta dos endocanabinoides é recente. Estas substâncias, que funcionam a nível celular, são uma peça importante do organismo.
Através do que chamamos de Sistema Endocanabinoide, elas trabalham como sinalizadores para o corpo, avisando quando algo não vai bem.
Se há algo de errado, eles são enviados para restaurar a homeostase, ou seja, o equilíbrio das funções.
Este sistema está presente em várias áreas do organismo, e ajuda a regular o sono, a fome, o humor, o sistema imunológico, sistema nervoso e por aí vai.
Essa descoberta só foi possível depois dos estudos referentes à cannabis, pois a planta também possui substâncias semelhantes que podem agir no nosso organismo da mesma maneira.
Chamados de fitocanabinoides, eles trabalham como uma espécie de reforço aos produzidos por nós.
É por isso que a planta pode ser útil para tantas condições.
Um estudo feito por cientistas da Universidade do Texas Southwestern, nos Estados Unidos, mostrou que o aumento de endocanabinoides pode proteger contra infecções gastrointestinais.
A pesquisa, feita em camundongos, revelou que o aumento das moléculas serviu de proteção para os animais com sintomas extremos das infecções.
A descoberta publicada na Cell, uma renomada revista científica, pode ser a chave para a criação de novos métodos de combate a problemas gastrointestinais.
Os endocanabinoides principais do organismo são o 2-araquidonolglicerol (2-AG) e anandamida (AEA). Eles são produzidos quando necessário, para regular alguma função.
No estudo, os camundongos foram geneticamente modificados para produzir o 2-AG em excesso em alguns órgãos como o intestino.
Então, eles foram colocados ao lado de camundongos sem o procedimento, para que todos recebessem três bactérias intestinais diferentes.
O primeiro patógeno foi uma bactéria frequente em roedores, a Citrobacter rodentium. Ela provoca diarreia e inflamação extensa.
Não há casos de infecção em humanos, mas ainda sim foi um importante passo para entender o reforço dos endocanabinoides no organismo.
A resposta foi certeira. Os camundongos com a dose extra de 2-AG tiveram apenas sintomas leves.
Exames mais aprofundados dos cólons dos roedores modificados mostraram ainda que os sinais de infecção e inflamação deles eram bem menores em comparação com os demais.
O experimento foi repetido em camundongos normais. Mas dessa vez, foi administrado uma droga que aumentava o nível de 2-AG por todo o corpo. O resultado também foi positivo.
No meio do estudo, a equipe de cientistas também descobriu que o endocanabinoide foi útil no tratamento de infecção por outra bactéria, a Salmonella typhimurium.
Esta sim é uma infecção que pode ser encontrada em humanos. A bactéria pode levar a uma gastroenterite, por exemplo.
Seguindo o estudo, outro benefício da dose maior de 2-AG foi sobre a Escherichia Coli Enterohemorrágica (EHEC).
Esse tipo de bactéria pode provocar infecção intestinal grave em humanos e pode até atacar a parede intestinal.
Entender a reação a este tipo de infecção foi considerado um avanço, uma vez que tratamentos com antibióticos podem se tornar obsoletos e até prejudiciais.
Além dos roedores, os pesquisadores testaram o endocanabinoide nas células de mamíferos, mas dessa vez, In Vitro.
A conclusão foi que sem o 2-AG, as células ficam mais suscetíveis a infecções bacterianas. Isso porque a substância tem a capacidade de bloquear um receptor bacteriano chamado QseC. Isso ajuda a evitar infecções.
A criação de um tratamento que pudesse agir diretamente na ação do QseC, por exemplo, poderia ser uma alternativa mais eficaz para as inflamações.
Para os cientistas, o estudo também pode ajudar a explicar como a cannabis é eficaz para doenças do intestino.
Inúmeros artigos de pesquisa que foram revisados mostram que fitocanabinoides da cannabis, como o canabidiol (CBD) reduz inflamações em pacientes expostos a diversas condições.
Esses mesmos resultados também mostraram que a cannabis pode reduzir sintomas, como dor de estômago, náusea e diarreia e até doenças gastrointestinais.
Além desses dois fitocanabinoides mais famosos, muitos outros, e também os terpenos, têm propriedades anti inflamatórias.
Comprovação também em estudos clínicos. Uma pesquisa observacional com 30 pacientes com doença de Crohn, por exemplo, mostrou que a cannabis reduziu o uso de outros medicamentos.
Outra mais atual, também feita com pacientes com a condição, mostrou uma diminuição da atividade da doença no organismo, bem como a remissão completa de cinco dos 11 estudados.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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