Com a lei em vigor, um grupo de trabalho definiu quais doenças poderiam ser tratadas com cannabis através do Sistema Único de Saúde
Apesar de sua utilidade para a saúde humana nas mais diversas situações, a cannabis e seus derivados ainda não são indicados pela rede pública para quaisquer condições.
Isto porque, para algumas entidades brasileiras, como o Conselho Federal de Medicina, não há evidências científicas robustas o suficiente para atestar a eficácia da cannabis em uma série de doenças.
Ao passo que a lei foi sancionada, um grupo de trabalho formado por 32 entidades médicas, políticas e da sociedade civil para definiu quais doenças poderiam ser tratadas com esta terapia com o aval do Sistema Único de Saúde.
O conselho escolheu começar por três enfermidades: síndrome de Dravet, síndrome de Lennox-Gastaut e esclerose tuberosa.
Tal grupo ainda não foi extinto e, segundo reportagem da revista Veja, outras indicações poderão entrar no rol de distribuição gratuita, como dor crônica refratária (deverá ser a próxima da lista), epilepsia e autismo.
As três síndromes têm em comum seu efeito convulsivo, ou seja, causam convulsões nos pacientes. Neste caso, a cannabis tem uma larga evidência de atuação positiva. Conheça cada uma delas:
A doença é uma condição genética, que acontece por causa da mutação dos genes e afeta uma em cada 40 mil pessoas no mundo. O problema acarreta convulsões, principalmente antes do primeiro ano de vida, como crises tão intensas e frequentes, que há a possibilidade de induzir ao coma.
Contudo, a doença é difícil de ser identificada. E mesmo com o diagnóstico, as informações chegam de forma incompleta aos familiares. Esta foi a síndrome que sensibilizou o governador a assinar a sanção da lei.
No evento solene da assinatura da sanção, Tarcísio de Freitas (Republicanos) testemunhou um caso envolvendo um familiar com Dravet.
“Meu sobrinho ganhou qualidade de vida quando começou a usar o canabidiol. Isso me motivou a assinar a sanção”, contou o governador, emocionado. “Deus sabe a fortaleza e resiliência que os pais destas crianças devem ter para enfrentar este desafio.”
Esta síndrome também é uma condição neurológica, e frequentemente atribuída a crianças e jovens. Com quadros convulsivos graves, a Síndrome de Lennox-Gastaut pode trazer graves complicações no desenvolvimento motor das crianças, além de cognitivos e comportamentais.
Por ser resistente às abordagens convencionais, a doença tem difícil tratamento, mas tem boa repercussão quando tratada com cannabis.
Trata-se de um crescimento anormal de tumores benignos em diferentes partes do corpo, podendo afetar o cérebro, coração, olhos, pulmões e a pele. Embora os tumores sejam benignos, eles podem causar diversos distúrbios cognitivos, como autismo e epilepsia, além de trazer sintomas respiratórios e cardíacos.
A esclerose tuberosa é uma patologia genética e não transmissível. Sua única chance de aparecer em uma pessoa é se ela nascer com os genes que causam a doença.
A eficácia da planta para quadros convulsivos é uma evidência irredutível porque foi uma das primeiras descobertas do bioquímico Raphael Mechoulam, na década de 1980, associado a uma equipe de cientistas brasileiros liderados pelo professor Elisaldo Carlini, da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).
Em um cenário duplo-cego, os pesquisadores testaram pacientes epiléticos e voluntários saudáveis, aplicando canabidiol ou placebo durante 135 dias, e submetendo os pacientes a exames clínicos e laboratoriais a cada 15 ou 30 dias.
No trabalho, o professor descobriu o potencial anticonvulsivante do CBD com resultados significativos. “Ficamos felizes em notar que, de fato, eles não tinham convulsões enquanto estavam tomando o canabidiol”, disse o próprio Mechoulam, em um documentário biográfico chamado “O Cientista”, lançado em 2015.
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Lucas Panoni
Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.
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