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CBD X antiepilépticos: Há interação medicamentosa? 



04/07/2025


Conversamos com um especialista para entender se há riscos na interação ou se é seguro usar canabidiol e antiepilépticos juntos 

CBD X antiepilépticos Há interação medicamentosa 

CBD X antiepilépticos Há interação medicamentosa

O CBD (canabidiol) se popularizou no Brasil por ajudar a tratar epilepsia, principalmente aquelas resistentes a medicamentos convencionais. A sua regulamentação em 2015 foi fortemente pressionada por mães de pacientes que precisavam importar o óleo de cannabis, mas não podiam. 

Desde então, o uso do CBD tem crescido anualmente, assim como a ampliação das suas aplicações. Segundo a Kaya Mind, só em 2024, mais de 600 mil pessoas já aderiram a algum tipo de tratamento com produtos à base de cannabis. 

Contudo, como ocorre com qualquer medicamento, as interações medicamentosas com a cannabis podem potencializar ou reduzir os seus efeitos. E isso acontece também quando falamos de antiepilépticos. 

Para entender mais, conversamos com o neurologista André Millet que nos ajudou a entender mais sobre isso: 

Como a cannabis age na epilepsia 

Para entender quais são as interações medicamentosas com a cannabis, é importante compreender como a planta trabalha no corpo. Diferente dos medicamentos tradicionais, o mecanismo de ação do canabidiol na epilepsia ocorre pelo chamado Sistema Endocanabinoide.  

Ele está presente em boa parte do organismo e pode influenciar outros sistemas, como o sistema imune e claro, o sistema nervoso central, modulando as funções neurológicas. Além de atuar em outros sistemas, como a regulação de canais iônicos e processos anti-inflamatórios. 

Basicamente, o CBD é capaz de modular a atividade elétrica do cérebro, ajudando a reduzir a frequência e a intensidade das crises de convulsão, especialmente em casos de epilepsia refratária, ou seja, resistente a remédios. 

Interação medicamentosa 

Segundo o médico, o CBD interage com alguns antiepilépticos ao inibir as enzimas hepáticas (CYP3A4 e CYP2C19), responsáveis por metabolizar esses medicamentos. 

Isso pode aumentar os níveis dos remédios no organismo, potencializando seus efeitos e, em alguns casos, até os efeitos colaterais. Porém, o neurologista destaca que isso nem sempre é negativo:  

“É possível, com supervisão, usar o aumento da concentração de outro medicamento para melhorar o controle das convulsões.’ Ainda assim, essas interações variam conforme o antiepiléptico e exigem monitoramento cuidadoso.” 

Quatro antiepilépticos que podem interagir com o CBD 

O Dr. André Millet elenca alguns antiepilépticos que podem interagir com o CBD e que possuem evidências científicas, como: 

  • Clobazam 

Utilizado principalmente para ansiedade aguda e crônica, o medicamento também é aprovado como um tratamento complementar para convulsões em crianças com 2 anos de idade ou mais. Além de adultos com tipos de convulsões que podem estar associadas à Síndrome Lennox-Gastaut. 

Contudo, se for utilizar a cannabis em conjunto, é preciso entender que pode existir uma interação. Isso porque revisões sistemáticas confirmam que o CBD eleva os níveis de clobazam em 60 e 300% a inibição das enzimas hepáticas CYP3A4 e CYP2C19. 

Isso quer dizer que o CBD pode aumentar bastante a quantidade de clobazam no corpo e pode chegar a 300% a mais do que o normal. Ainda assim, os profissionais consideram seguro o uso do canabidiol junto com a medicação. É até recomendado. 

  • Valproato 

Também conhecido como Depakene ou Depakote, os pacientes utilizam o medicamento principalmente para epilepsia, embora também seja útil em condições como transtorno bipolar e prevenção de enxaquecas. 

Contudo, alguns estudos observacionais, já associam a combinação ao risco de hepatoxicidade. Dessa forma, por falta de estudos mais robustos, a recomendação de utilizar os dois juntos é de cautela e monitoramento hepático 

  • Carbamazepina e Fenitoína 

A Carbamazepina é outro medicamento utilizado para tratar tanto a epilepsia quanto dores neuropáticas. Com uma ação bastante parecida ao Valproato, a interação com o CBD é ainda menos explorada.  

Da mesma forma, os registros sobre a interação com a Fenitoína, um dos antiepilépticos mais antigos que existem, também foi pouco investigado. 

Até agora, o que se tem são relatos de casos e modelos pré-clínicos, que sugerem alguma influência. Dessa forma, a recomendação para o uso dos dois remédios juntos é menor ainda.  

Na dúvida, pergunte ao médico 

É importante ressaltar que a introdução ou o desmame de remédios como anticonvulsivantes precisa ser orientado e acompanhado de perto por um médico, que poderá entender se esse é o melhor caso.  

Portanto, antes de perguntar o que não se pode tomar com canabidiol, é necessário avaliar com o profissional para entender até se a cannabis é o melhor caminho para o caso em questão.  

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Tainara Cavalcante

Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.