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Cannabinologia

Cannabis sativa vs. indica: diferenças reais e mitos



13/06/2025


Sativa ou indica? Entenda as reais diferenças entre os tipos de cannabis, seus efeitos, usos terapêuticos e mitos populares.

Cannabis sativa vs. indica: diferenças reais e mitos

Cannabis sativa vs. indica: diferenças reais e mitos

Por muito tempo, usuários e até profissionais da saúde dividiram a maconha entre dois tipos: Cannabis sativa e Cannabis indica. Essa distinção — popular em dispensários e no vocabulário de quem consome — associa a sativa à energia e à criatividade, enquanto a indica seria relaxante e sedativa.

Mas será que essas diferenças são reais? Ou seriam apenas um mito moderno?

Neste artigo, você vai entender:

A origem botânica das espécies Cannabis indica e Cannabis sativa

Os quimiotipos (tipos químicos) da planta

As diferenças reais entre as maconhas sativas e indicas

O que dizem os estudos sobre os efeitos e aplicações terapêuticas

A situação legal no Brasil

Como isso afeta a escolha de produtos com cannabis medicinal

Origens botânicas: o que são Cannabis sativa e Cannabis indica?

Do ponto de vista taxonômico, o gênero Cannabis pode ser dividido em três espécies principais:

  1. Cannabis sativa sativa (ou simplesmente C. sativa)

  2. Cannabis sativa indica (C. indica)

  3. Cannabis ruderalis

Essas categorias são baseadas em características morfológicas, como:

Espécie Altura Folhas Ciclo de floração
Cannabis sativa Alta Longas e finas Floração mais demorada
Cannabis indica Baixa Largas e curtas Floração mais rápida
Cannabis ruderalis Baixa Pequena e robusta Autoflorescente, rápida

As Cannabis sativa sativa são originárias de regiões equatoriais (como Tailândia, Colômbia e México), enquanto as Cannabis indica vêm das regiões montanhosas do sul da Ásia, como Afeganistão, Paquistão e Índia.

Sativa dá “barato criativo” e indica “trava no sofá”? Nem sempre.

A divisão popular entre sativa e indica vem de observações empíricas sobre os efeitos:

Sativas seriam energizantes, boas para o dia

Indicas causariam relaxamento e sedação

Mas hoje sabemos que o efeito da maconha depende mais da composição química (canabinoides e terpenos) do que da espécie em si.

Por isso, especialistas preferem usar termos como:

  • Quimiotipo 1 – Alto teor de THC

  • Quimiotipo 2 – THC e CBD em equilíbrio

  • Quimiotipo 3 – Rico em CBD

A maconha sativa pode sim ser sedativa se tiver um perfil de terpenos e canabinoides compatível com esse efeito — e vice-versa.

O papel dos terpenos nos efeitos da cannabis

Além dos canabinoides como THC e CBD, os terpenos são compostos aromáticos que contribuem para os efeitos percebidos. Alguns exemplos:

Terpeno Aroma Efeito principal
Mirceno Terroso, cravo Sedativo, relaxante
Limoneno Cítrico Estimulante, ansiolítico
Pineno Pinheiro Alerta, broncodilatador
Linalol Lavanda Calmante, anticonvulsivo

A predominância de certos terpenos pode fazer com que uma pot sativa (cannabis sativa rica em THC) tenha efeito mais “corporal” ou mais “mental”.

Tipos de cannabis sativa no mercado: o que chega ao Brasil?

No Brasil, a maioria dos produtos com cannabis medicinal vem de cultivares ricos em CBD, geralmente do tipo sativa ou híbrido sativa-dominante. As opções mais comuns incluem:

Óleos de cânhamo (CBD isolado ou broad spectrum)

Extratos full spectrum importados (CBD + terpenos)

Flor seca para vaporização (em estudos clínicos ou via liminares)

Muitas dessas variedades são híbridas, e o termo “tipos de cannabis sativa” pode incluir cultivares com características indicativas, especialmente em híbridos equilibrados.

Aplicações médicas: sativa, indica ou híbrida?

A distinção entre sativa e indica tem algum valor na escolha do tratamento?

Sim, desde que acompanhada da análise de quimiotipos e perfil de terpenos. Veja alguns exemplos:

Condição clínica Preferência comum Justificativa
Ansiedade e estresse Sativa leve ou híbrida Maior alerta sem sedação excessiva
Dor crônica Indica ou híbrida Efeito relaxante e analgésico
Depressão leve Sativa Estimulante e melhora do humor
Insônia Indica Sedação promovida por mirceno e linalol
Epilepsia, autismo Sativa (CBD) Alto teor de CBD, independente da cepa

Cannabis indica no Brasil: existe?

Poucos produtos disponíveis no país são oficialmente rotulados como Cannabis indica, mas muitos extratos full spectrum de importadoras usam cultivares híbridos dominantes em indica.

A terminologia “maconhas sativas” também aparece em comunidades recreativas, mas não é comum no vocabulário médico brasileiro.


Legalidade da sativa e da indica no Brasil

A Anvisa não regula o uso com base em “sativa” ou “indica”, e sim no teor de THC:

  • Produtos com menos de 0,2% de THC podem ser prescritos para qualquer condição

  • Acima disso, só em casos paliativos ou esgotadas outras opções terapêuticas

Não importa se o produto vem de Cannabis indica ou Cannabis sativa sativa — o importante é a concentração dos ativos e a via de administração.


Mitos comuns sobre os tipos de cannabis

“Sativa sempre desperta, indica sempre relaxa”
Nem sempre. O efeito depende mais dos terpenos e do equilíbrio entre THC e CBD.

“Indica é medicinal, sativa é recreativa”
Falso. Há cultivares sativa com alto CBD e efeitos terapêuticos validados.

“Cannabis indica é mais perigosa”
Sem fundamento. Nenhuma espécie é “mais perigosa”; tudo depende da dose, da via e do paciente.


Como escolher o melhor tipo de cannabis?

A decisão sobre usar uma variedade de cannabis sativa, indica ou híbrida depende de:

  • Objetivo terapêutico

  • Histórico clínico do paciente

  • Disponibilidade legal e prescrição médica

O ideal é que a escolha seja feita junto a um profissional prescritor, com base em análises laboratoriais do produto, incluindo canabinoides e terpenos.


Conclusão

A divisão entre Cannabis sativa e Cannabis indica ainda tem valor na botânica e na indústria, mas os efeitos sentidos dependem de muito mais do que o nome da planta. O perfil químico, especialmente os terpenos e o equilíbrio entre THC e CBD, é o que determina a real experiência do paciente.

No Brasil, tanto pot sativa quanto híbridos ricos em CBD estão em uso crescente, principalmente para quadros como ansiedade, epilepsia, dor e insônia.

A chave para o sucesso no tratamento é a individualização da terapia canabinoide — mais ciência, menos mito.

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Lucas Panoni

Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.