Sativa ou indica? Entenda as reais diferenças entre os tipos de cannabis, seus efeitos, usos terapêuticos e mitos populares.
Cannabis sativa vs. indica: diferenças reais e mitos
Por muito tempo, usuários e até profissionais da saúde dividiram a maconha entre dois tipos: Cannabis sativa e Cannabis indica. Essa distinção — popular em dispensários e no vocabulário de quem consome — associa a sativa à energia e à criatividade, enquanto a indica seria relaxante e sedativa.
Mas será que essas diferenças são reais? Ou seriam apenas um mito moderno?
Neste artigo, você vai entender:
A origem botânica das espécies Cannabis indica e Cannabis sativa
Os quimiotipos (tipos químicos) da planta
As diferenças reais entre as maconhas sativas e indicas
O que dizem os estudos sobre os efeitos e aplicações terapêuticas
A situação legal no Brasil
Como isso afeta a escolha de produtos com cannabis medicinal
Do ponto de vista taxonômico, o gênero Cannabis pode ser dividido em três espécies principais:
Cannabis sativa sativa (ou simplesmente C. sativa)
Cannabis sativa indica (C. indica)
Cannabis ruderalis
Essas categorias são baseadas em características morfológicas, como:
Espécie | Altura | Folhas | Ciclo de floração |
---|---|---|---|
Cannabis sativa | Alta | Longas e finas | Floração mais demorada |
Cannabis indica | Baixa | Largas e curtas | Floração mais rápida |
Cannabis ruderalis | Baixa | Pequena e robusta | Autoflorescente, rápida |
As Cannabis sativa sativa são originárias de regiões equatoriais (como Tailândia, Colômbia e México), enquanto as Cannabis indica vêm das regiões montanhosas do sul da Ásia, como Afeganistão, Paquistão e Índia.
A divisão popular entre sativa e indica vem de observações empíricas sobre os efeitos:
Sativas seriam energizantes, boas para o dia
Indicas causariam relaxamento e sedação
Mas hoje sabemos que o efeito da maconha depende mais da composição química (canabinoides e terpenos) do que da espécie em si.
Por isso, especialistas preferem usar termos como:
Quimiotipo 1 – Alto teor de THC
Quimiotipo 2 – THC e CBD em equilíbrio
Quimiotipo 3 – Rico em CBD
A maconha sativa pode sim ser sedativa se tiver um perfil de terpenos e canabinoides compatível com esse efeito — e vice-versa.
Além dos canabinoides como THC e CBD, os terpenos são compostos aromáticos que contribuem para os efeitos percebidos. Alguns exemplos:
Terpeno | Aroma | Efeito principal |
---|---|---|
Mirceno | Terroso, cravo | Sedativo, relaxante |
Limoneno | Cítrico | Estimulante, ansiolítico |
Pineno | Pinheiro | Alerta, broncodilatador |
Linalol | Lavanda | Calmante, anticonvulsivo |
A predominância de certos terpenos pode fazer com que uma pot sativa (cannabis sativa rica em THC) tenha efeito mais “corporal” ou mais “mental”.
No Brasil, a maioria dos produtos com cannabis medicinal vem de cultivares ricos em CBD, geralmente do tipo sativa ou híbrido sativa-dominante. As opções mais comuns incluem:
Óleos de cânhamo (CBD isolado ou broad spectrum)
Extratos full spectrum importados (CBD + terpenos)
Flor seca para vaporização (em estudos clínicos ou via liminares)
Muitas dessas variedades são híbridas, e o termo “tipos de cannabis sativa” pode incluir cultivares com características indicativas, especialmente em híbridos equilibrados.
A distinção entre sativa e indica tem algum valor na escolha do tratamento?
Sim, desde que acompanhada da análise de quimiotipos e perfil de terpenos. Veja alguns exemplos:
Condição clínica | Preferência comum | Justificativa |
---|---|---|
Ansiedade e estresse | Sativa leve ou híbrida | Maior alerta sem sedação excessiva |
Dor crônica | Indica ou híbrida | Efeito relaxante e analgésico |
Depressão leve | Sativa | Estimulante e melhora do humor |
Insônia | Indica | Sedação promovida por mirceno e linalol |
Epilepsia, autismo | Sativa (CBD) | Alto teor de CBD, independente da cepa |
Poucos produtos disponíveis no país são oficialmente rotulados como Cannabis indica, mas muitos extratos full spectrum de importadoras usam cultivares híbridos dominantes em indica.
A terminologia “maconhas sativas” também aparece em comunidades recreativas, mas não é comum no vocabulário médico brasileiro.
A Anvisa não regula o uso com base em “sativa” ou “indica”, e sim no teor de THC:
Produtos com menos de 0,2% de THC podem ser prescritos para qualquer condição
Acima disso, só em casos paliativos ou esgotadas outras opções terapêuticas
Não importa se o produto vem de Cannabis indica ou Cannabis sativa sativa — o importante é a concentração dos ativos e a via de administração.
❌ “Sativa sempre desperta, indica sempre relaxa”
Nem sempre. O efeito depende mais dos terpenos e do equilíbrio entre THC e CBD.
❌ “Indica é medicinal, sativa é recreativa”
Falso. Há cultivares sativa com alto CBD e efeitos terapêuticos validados.
❌ “Cannabis indica é mais perigosa”
Sem fundamento. Nenhuma espécie é “mais perigosa”; tudo depende da dose, da via e do paciente.
A decisão sobre usar uma variedade de cannabis sativa, indica ou híbrida depende de:
Objetivo terapêutico
Histórico clínico do paciente
Disponibilidade legal e prescrição médica
O ideal é que a escolha seja feita junto a um profissional prescritor, com base em análises laboratoriais do produto, incluindo canabinoides e terpenos.
A divisão entre Cannabis sativa e Cannabis indica ainda tem valor na botânica e na indústria, mas os efeitos sentidos dependem de muito mais do que o nome da planta. O perfil químico, especialmente os terpenos e o equilíbrio entre THC e CBD, é o que determina a real experiência do paciente.
No Brasil, tanto pot sativa quanto híbridos ricos em CBD estão em uso crescente, principalmente para quadros como ansiedade, epilepsia, dor e insônia.
A chave para o sucesso no tratamento é a individualização da terapia canabinoide — mais ciência, menos mito.
Lucas Panoni
Jornalista e produtor de conteúdo na Cannalize. Entusiasta da cultura canábica, artes gráficas, política e meio ambiente. Apaixonado por aprender.
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