Cannabis pode ajudar no tratamento de dependentes químicos

Cannabis pode ajudar no tratamento de dependentes químicos

Sobre as colunas

As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

A planta age diretamente nos neurotransmissores e ajuda a diminuir gradativamente a compulsão pela sensação de prazer, provocada pela droga. 

O título pode te causar estranheza, mas isso é porque a cannabis, por muito tempo, foi estigmatizada justamente pelo preconceito ao uso recreativo, que realmente pode causar dependência. Então como a planta pode ajudar com vícios?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso da planta em forma de cigarro pode causar dependência leve ou moderada, isso quer dizer que nunca terá alguém correndo atrás da maconha como um usuário de cocaína ou crack por exemplo.

Arte: PorGuide

O componente que traz os efeitos alucinógenos, chama-se tetra-tetraidrocanabinol (THC). Ele é um canabinóide, ou seja, uma pequena célula da planta que a ajuda a se proteger do sol e de insetos. Fora ele, há também muitos outros canabinóides que podem ou não causar efeitos na mente, mas que também podem trazer benefícios para o organismo.

Um deles é o canabidiol (CBD). Ele não possui efeitos alucinógenos, e também pode ser isolado da planta. Desde a década de 1960, quando foi descoberto, as propriedades medicinais não pararam de aparecer. Até o próprio THC pode ser usado para uma série de doenças.

Estudos sobre a dependência química

Se você não está totalmente convencido, vamos te mostrar alguns estudos realizados sobre o tema. Segundo uma pesquisa feita no ano passado (2019), o canabidiol pode ajudar na luta para vencer os vícios em drogas. No estudo, os participantes foram divididos em dois grupos: os que receberam o óleo extraído da planta e o outro, uma espécie de placebo.

O teste clínico foi feito com 42 homens e mulheres dependentes em heroína. Durante uma semana eles tiveram que tomar doses do CBD ou do placebo sem saber qual estavam ingerindo. Os cientistas ainda estimularam as mentes dos participantes com vídeos mostrando drogas, seringas e sacos de pó.

O estudo analisou o efeito do medicamento por três ângulos:

  •         Imediatamente após o uso do canabinóide;
  •         Um dia depois do uso de CBD;
  •         Uma semana depois.

Os resultados nos três cenários foram os mesmos: os dependentes químicos sentiram menos necessidade de consumir a heroína que antes, comparados aos que receberam o medicamento falso.

O estudo mostrou outro resultado positivo: os participantes também estavam mais calmos e menos ansiosos.A descoberta ainda precisa de mais estudos para entender se o efeito pode ser permanente ou se permite recaídas.

Tratamento contra o crack

Outro estudo que ainda está em andamento, também usa o CBD, mas dessa vez, para a luta contra o crack. A pesquisa é feita aqui no Brasil pela pesquisadora Andrea Gallassi da Universidade de Brasília (UnB). Em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) de Ceilândia no DF, a pesquisa conseguiu uma autorização da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) para importar o extrato e testá-lo.

O objetivo principal do estudo é substituir os vários medicamentos usados para tratar o vício, reduzindo apenas a solução 100% natural. O método da cientista envolve ainda, a não internação, para que o paciente tenha uma rotina comum e siga a sua vida.

Ao todo, serão 80 pacientes que estão recebendo o tratamento alternativo até outubro, onde metade do grupo recebe os medicamentos convencionais para comparação.

A análise inicial do estudo, que começou no ano passado (2019), mostrou que os participantes estão mais calmos e com mais apetite.

Estes são um dos poucos exemplos, mas existem muitos outros estudos sobre a ação da planta para o combate de drogas.

Em entrevista ao canal do youtube Cannalizando do Cannalize, a cientista médica e especialista em cannabis, Dra. Janaína Barboza comentou que a planta é segura para tratar não apenas drogas pesadas como heroína e crack, mas também cigarros e álcool.

“A gente escutou por umas quatro gerações que a cannabis é a porta de entrada para outras drogas, mas é mentira. Nós temos um sistema que para usar esta substância, isso é seguro, foi testado.” Complementa.

Como funciona

O nosso cérebro funciona com um sistema de recompensa, onde estão concentrados os estímulos de prazer. Estes por sua vez, são responsáveis por mandar as sensações para o resto do corpo.

As drogas tem a capacidade de causar uma influência gigante nesta área, e o uso contínuo faz o corpo querer cada vez mais, perdendo o interesse em outros prazeres ou funções, como comer.

A cocaína, por exemplo, pode agir como um facilitador das descargas dos neurotransmissores na fenda sináptica do cérebro, ou seja, após o efeito da droga nesta área, acaba acontecendo um esgotamento destes transmissores, que estão ligados ao comportamento compulsivo.

No entanto, há uma esperança para este caso. Isso porque o nosso corpo possui um sistema chamado Sistema Endocanabinóide, ele trabalha a nível celular ajudando a regular alguns efeitos do nosso organismo, como a fome, sono e humor.

Quando os canabinóides da cannabis entram no nosso corpo e interagem com os nossos, chamados de endocanabinóides, juntos podem recuperar o equilíbrio, fazendo as coisas voltarem ao normal. Ele vai reduzindo gradativamente a compulsão pelos efeitos químicos, porque auxilia na regularização dos neurotransmissores.

Isso explica também porque não é possível uma pessoa ter uma overdose de maconha, por exemplo.

Cannabis como tratamento

Como os canabinóides podem atuar por todo o corpo, a cannabis acaba ajudando a combater várias outras doenças. Atualmente o canabidiol é muito utilizado para tratar doenças convulsivas, principalmente epilepsia refratária, síndrome conhecida por resistir aos medicamentos. Só no Brasil, são pelo menos, 5 mil pacientes que utilizam a cannabis como tratamento.

A planta como única solução não está apenas em doenças degenerativas, mas também como solução para a crise de opioides, muito usados para controlar a dor. O extrato da planta conseguiu reduzir o uso consideravelmente, uma vez que a utilização de medicamentos fortes pode causar dependência para o resto da vida.

A planta também se mostrou tão eficaz quanto medicações pesadas, como opióides e até morfina.

O lado bom é que por ser um fitofarmacêutico, ou seja, um medicamento à base de plantas que por vezes é extraído e consumido sem adicionais, os efeitos colaterais são mínimos, pelo menos muito mais toleráveis que os sintomas das doenças.

Sabemos que ainda existem inúmeras pesquisas e estudo sendo feitos ao redor de todo o mundo sobre o tema, mas não há dúvidas que a cannabis pode auxiliar no tratamento de dependentes químicos.  

E então, precisa de mais justificativas?

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