Cannabis no esporte: o melhor aliado dos campeões

Cannabis no esporte: o melhor aliado dos campeões

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As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.​

Seja para a boa recuperação de lesões, para o rendimento na performance ou para o equilíbrio mental, o canabidiol pode ser o maior parceiro dos atletas profissionais

Foto: Reprodução

Você já deve ter ouvido a expressão “campeões não usam drogas”, uma frase atribuída a um diretor do FBI (Federal Bureau of Investigation). Essa citação é usada para argumentar que para vencer na vida não cabe o uso de drogas. Mas, o que é droga no conceito dessa fala?

Você já parou para pensar na quantidade de drogas que são necessárias para a recuperação de um atleta lesionado?

O renomado skatista Bob Burnquist já.

Em uma entrevista para o Papo Cannabis, em 2021, com a head de Educação da Cannect, Viviane Sedola, o skatista trouxe uma notória preocupação: o uso exacerbado de medicamentos para o alívio de dores causadas pelas quedas de skate, como o caso dos opioides, que se tornou uma ‘epidemia’ nos EUA.

“Ter que usar remédio forte não é legal, porque mesmo um ibuprofeno pode ser agressivo. Eu ando todo dia e caio o dia inteiro e, mesmo se não quebrar um osso, no outro dia posso acordar bem dolorido.” 

Bob é um verdadeiro colecionador de títulos, e seu testemunho é altamente crítico ao recurso alopático. “Os opioides me ajudavam, mas me faziam mal e eu não conseguia competir porque [o medicamento] tirava o equilíbrio”, relatou.

Burnquist ainda se preocupa bastante com o vício.

“Realmente é viciante. Dá pra ver claramente quando você começa a utilizar que pra sair é difícil. Tenho muitos amigos que se machucam de skate, moto, etc. e estão pegos no opioide, e isso é algo que eu acho muito triste, porque tem como se lidar de outra maneira.”

A outra maneira à qual Bob se refere é a cannabis. (Assista o vídeo e veja mais.)

Cauan Madona, atleta tetracampeão brasileiro de BMX Freestyle, faz tratamento com canabidiol.

Leia também: “Uma das melhores decisões da minha vida” Cauan Madona conta a sua experiência com a cannabis medicinal

Madona conheceu o lado terapêutico da planta através do atleta norte-americano Nick Bruce, que tinha o patrocínio de uma marca de CBD há alguns anos. “Ele me contou que funcionava como um ‘suplemento alimentar’ que o deixava mais focado e mais resistente, e meus olhos encheram de alegria.”

Hoje a cannabis faz parte da rotina do biker. Ele toma o óleo de canabidiol duas vezes por dia e conta que isso mudou sua vida. Ou seja, se a saúde é assunto entre os atletas, qual é o ponto crítico do consumo da cannabis? 

Uso medicinal da cannabis é mais seguro e eficaz

Assim como Bob Burnquist, Cauan Madona é conhecido por manobras radicais ousadas, como quando pulou do alto de um mezanino direto para o pool da pista de skate Cittá Di Maróstica, em São Bernardo do Campo, em janeiro deste ano.

“Esse drop que eu fiz na pista de skate, na primeira tentativa, eu caí. Mas consultei meu médico, ele pediu um raio X do cóccix e mandou passar o creme de canabidiol e dobrar a quantidade de óleo ingerido. Em uma semana eu já estava andando.”

Para a médica do esporte e colunista da Cannalize Jéssica Durand, os canabinoides são ótimos aliados na recuperação dos atletas.

“Diversos estudos também demonstraram o papel do canabidiol na recuperação muscular, modulando a inflamação e diminuindo as dores osteomusculares pós-treino. E o CBD tem se firmado como um suplemento esportivo muito adequado”, comenta a médica.

Leia também: Cannabis e esporte em 2023 – algo mudou?

E o biker concorda. “Antes de me tratar com cannabis medicinal, quando eu caía, me sentia muito mal, ficava deitado na cama, demorava muito para me recuperar, sentia dor em tudo. Hoje ainda dói, mas não é a mesma intensidade de dor. Hoje a recuperação é muito mais rápida.”

A médica explica que existem dois tipos de dor, a inflamatória, que é efeito da própria lesão, e a neuropática, que está relacionada à percepção da dor, e o canabidiol tem a vantagem de conseguir agir em ambos.

“Na dor inflamatória os fitocanabinoides modulam a inflamação, fortalecendo a regeneração tecidual, cicatrização de feridas e recuperação muscular. No caso da dor neuropática eles também controlam pois modulam alguns receptores no sistema nervoso central, ligados ao controle de dor”, explica.

Cauan também conta que antes do canabidiol ele recorria muito aos anti-inflamatórios, o que o levou a ter pedras nos rins. A médica do esporte explica que isso acontece devido ao funcionamento destes remédios.

“Quando inflamações acontecem, liberam uma série de substâncias que pro rim tem uma função. Muitas vezes, para funcionar, os anti-inflamatórios bloqueiam o acesso do rim a essas substâncias. Isso pode prejudicar muito agudamente a função renal dessas pessoas.”

“O remédio funcionava mas me dava vários outros problemas”, conta Cauan. “Quando comecei a usar a cannabis, não precisei mais tomar esses remédios porque me sinto mais forte, mais resistente. É algo natural.”

Clareza mental e criatividade aliadas ao desempenho

Se os benefícios parassem por aí, já seriam bastante válidos para o bem-estar e para a recuperação dos usuários de cannabis medicinal. Mas Cauan gosta de citar os efeitos benéficos do canabidiol em sua saúde mental.

“O principal é o corpo, a mente, o emocional. Antes eu me via como qualquer outro atleta. Mesmo focado e dedicado, ainda ‘normal’. Depois que eu conheci a cannabis medicinal, comecei a me sentir mais criativo e pensar diferente dos outros. Comecei a me entender melhor.”

Para o atleta, o tratamento com cannabis promove mais clareza mental, foco e iniciativa, o que lhe traz vantagens. 

Isto porque, nas competições de BMX, os participantes devem fazer o máximo de manobras possível dentro de um tempo estipulado, num espaço determinado, com rampas e obstáculos. Para isso, os atletas precisam estar muito focados e ter poder de decisão e iniciativa muito rápidos.

“Quando você está num campeonato com 130 atletas, é normal você querer fazer a mesma coisa que um monte de gente, e quando você não faz a mesma coisa, você já tem um ponto positivo para os juízes”, comenta.

Cauan explica que não é necessário executar determinada manobra melhor do que outros competidores, mas sim encaixá-las melhor dentro da sua sequência de apresentação, o que gerará uma nota melhor e, consequentemente, melhor desempenho.

“Se eu pegar essa manobra e fizer de um jeito diferente do que todo mundo fez, isso vai me gerar mais resultados positivos, é aí que está o meu destaque”, afirma o atleta.

Mas, e o doping?

Entretanto, uma das maiores preocupações dos competidores profissionais atualmente é o exame antidoping, ou seja, o teste de presença de substâncias químicas capazes de aumentar artificialmente a resistência ou o desempenho dos competidores.

Felizmente, o canabidiol não é proibido pelas regras da Wada (Agência Mundial Antidoping).

Leia também: Wada mantém proibição ao THC em atualização de regras antidoping

Segundo a agência, em sua lista atualizada de substâncias proibidas durante os períodos de competição só estão vetados os outros produtos de origem de cannabis, inclusive o THC (tetrahidrocanabinol), seja natural ou sintético, que imitam os efeitos deste psicoativo.

Atualmente, há uma discussão sobre as permissões concedidas pela agência. A Wada criou um comitê para investigar este entendimento e concluiu que o uso do THC “é um risco para a saúde, principalmente neurológica, que tem um impacto significativo na saúde dos jovens”, acarretando assim numa “violação ao espírito do esporte”.

Isto significa que os atletas não podem usar THC, mas o canabidiol está liberado para ser usado até mesmo durante as competições, sem que sejam punidos por isso.

Mas Madona pondera. “Um mês antes de qualquer competição, eu entro em contato com o médico e converso sobre os cuidados para não cair no doping.”

No fim das contas, para Madona, as contribuições da cannabis estão para além do esporte. “A cannabis medicinal tem me ajudado muito em rendimento, recuperação e criatividade. Ela ajuda meu corpo a se reconstituir mais rápido, além de me fazer enxergar diferente dos outros atletas.”

Para o biker, a cannabis é mais que um remédio, é um recurso de motivação. “Aquele drop parou meu mundo! Fui chamado de destemido, apareci na mídia mundial, foi muito bom, e agradeço à BMX e à cannabis por ter tido essa iniciativa. Você tem que acreditar para que as coisas aconteçam. E quando é algo natural, feito de coração, a tendência é dar mais certo.”

Consulte um médico 

É importante ressaltar que qualquer produto feito com a cannabis precisa ser prescrito por um médico, que poderá te orientar de forma específica e indicar qual o melhor tratamento para a sua condição.

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