É muito comum associarmos a cannabis com o aumento de apetite, dessa forma, falar sobre cannabis e emagrecimento, parece contraditório. Porém, muitos estudos têm constatado, na verdade, que a cannabis pode exercer um papel na manutenção e na perda de peso.
O THC (tetrahidrocanabinol), no geral, é um fitocanabinoide oroxígeno, isto é, ele estimula o apetite. É daí que vem a famosa “larica”, aquela fome ou vontade de comer insaciavelmente que surge após o consumo.
Esse efeito estimulante do apetite ocorre porque o tetrtahidrocanabinol possui uma interação específica com os neurônios responsáveis pelo controle do fome e, ao invés de ativar os receptores que sinalizam a saciedade, há uma maior produção de endorfinas, que acabam por estimular a vontade de comer.
Além disso, o THC também apura os receptores do bulbo olfatório, onde acontece a captura e elaboração de sinais olfativos, sendo fundamental para o funcionamento do olfato, aumentando ainda mais o apetite e tornando os alimentos mais saborosos.
É por isso que o tetrahidrocanabinol é um composto bem indicado para o tratamento de pessoas que vivem com HIV/aids e indivíduos que estão tratando doenças oncológicas – condições em que há falta de apetite e costumam cursar com uma baixa ingesta calóricoproteica.
Apesar disso, pesquisas têm mostrado que, mesmo com o consumo do THC e o aumento da ingestão de calorias, usuários de cannabis costumam ter um IMC (índice de massa corporal) menor em comparação aos não usuários.
Os fatores envolvidos nesses dados, que soam opostos, ainda são pouco esclarecidos. Porém, há outros fitocanabinoides cujo papel no controle do apetite e na regulação do peso têm sido bem estudados.
O CBD (canabidiol) tem sido apontado como um aliado na perda de peso devido a seus efeitos moduladores no organismo, por meio de suas interações com o SEC (Sistema Endocanabinoide) levando nosso corpo à um estado de equilíbrio. Há diversos mecanismos que explicam o papel do CBD na manutenção e perda de peso.
O primeiro se dá pela inibição aos receptores canabinoides presentes nas células de gordura, o tecido adiposo. Com esse bloqueio, o canabidiol inibe a leptina, hormônio produzido pelas células de gordura, que controla o apetite saciedade. Dessa forma, há uma redução do apetite significativa.
Ainda, o CBD é capaz de melhorar o metabolismo energético, ao converter tecido adiposo branco – muito associado com o sobrepeso e a obesidade – em marrom.
As células de gordura marrom são especializadas em queimar energia, agindo como um termogênicas, deixando o metabolismo mais acelerado, e, como resultado, influenciando no metabolismo de gorduras e de açúcar no sangue, atuando assim, na perda de peso e sendo um fator protetor para diabetes.
Além disso, em outras pesquisas, o canabidiol tem mostrado reduzir a resistência à insulina – que é uma condição que ocorre em pacientes com diabetes e, muitas vezes, leva à síndrome metabólica, aumentando o risco cardiovascular.
O THCV (tetrahidrocanabivarina) é outro fitocanabinoide tem sido considerado promissor na inibição do apetite e perda de peso.
Indicado nos últimos estudos como um suplemento capaz de promover a perda de peso devido à sua capacidade de suprimir o apetite, sem causar qualquer efeito colateral negativo, permitindo, dessa forma, um maior controle sobre a ingestão de alimentos.
A cannabis é uma planta muito rica e repleta de substâncias com efeitos ainda em estudo. O que sabemos é que o uso de alguns fitocanabinoides pode ser utilizado como um complemento às diversas terapias para emagrecimento existentes.
O processo de emagrecimento, saudável, envolve uma mudança completa de estilo de vida e um acompanhamento multidisciplinar. Médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, são alguns dos profissionais que devem atuar em conjunto no auxílio ao emagrecimento.
E estratégias medicamentosas com poucos efeitos colaterais podem e devem ser utilizadas em alguns casos.
O CBD não só é promissor no processo de emagrecimento pelo controle do apetite e pela homeostase energética que provê, mas também por controlar a ansiedade – muito relacionada à compulsão alimentar e aos fatores que levam ao sobrepeso e obesidade –, por diminuir a inflamação sistêmica, por melhorar a qualidade do sono e por trabalhar no
nosso corpo nessa busca de bem-estar.
E com o avanço da medicina no campo da cannabis, mais estudos seguirão na busca de demonstrar esses efeitos positivos do canabidiol e dos outros fitocanabinoides como possíveis tratamentos farmacológicos para o emagrecimento.
As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo e de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.
Jessica Durand
Médica graduada pela Universidade Cidade de São Paulo, pós-graduada em Medicina Esportiva pelo Instituto Vita e em Cannabis Medicinal pela Unyleya. Possui certificação internacional em terapias à base de cannabis pela Green Flower. Atleta amadora, enxerga na prática clínica o potencial da cannabis medicinal na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes, com foco especial em praticantes de atividades físicas e atletas amadores, semiprofissionais ou profissionais. Compõe o núcleo de medicina esportiva da Gravital, atuou como consultora de assuntos médicos do Atleta Cannabis.
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