Especialista comenta as melhores formas de tratar o Burnout com a cannabis medicinal
Em novembro de 2023, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças de trabalho depois de 24 anos. Entre os 165 novos diagnósticos, a Síndrome de Burnout entrou como uma das condições de saúde mental adquiridas no ambiente de trabalho.
Também chamada de Esgotamento, a condição é caracterizada como um sentimento de exaustão excessivo, afetando diretamente a falta de energia em relação ao trabalho.
De acordo com a Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), a doença afeta aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros, colocando o país lá em cima no ranking mundial. Para se ter uma ideia, o Brasil só perde para o Japão.
Mas quando o esgotamento do trabalho vira uma doença?
Para falar sobre isso, conversamos com o psiquiatra especialista em traumas e memórias João Victor Lorenzetti, que nos ajudou a entender melhor.
De acordo com o médico, além do esgotamento e exaustão física e emocional, a Síndrome de Burnout é acompanhada de uma diminuição significativa do desempenho profissional. O trabalhador se sente desmotivado, ansioso e por vezes até desenvolve aversão pelo que faz.
Outros sentimentos como sensação de despersonalização ou cinismo em relação ao trabalho também podem ser sinais. Mas no geral, para saber quando a exaustão no trabalho virou uma doença, há três pontos principais:
Exaustão emocional. Sensação de sobrecarga e cansaço extremo, que não melhora com o descanso. Ou então, é necessário tempo maior para “recarregar” as forças.
Sentimento de incapacidade: Sensação de ineficácia, de culpa e aumento da cobrança pessoal. Pessoas com Burnout também não se sentem realizadas ou competentes no que fazem.
Despersonalização. Aqui, há uma atitude negativa ou um distanciamento emocional em relação às tarefas e às pessoas no ambiente de trabalho.
O psiquiatra ainda explica que, quando isso não ocorre, pode acontecer episódios de crises de pânico, ansiedade e ou ataque paroxístico.
Lorenzetti explica que há vários fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome, como por exemplo, a sobrecarga de trabalho, com excesso de tarefas e de responsabilidades.
Ou então, o sentimento de descontrole sobre o trabalho. A falta de autonomia sobre o serviço prestado pode gerar uma certa ansiedade, que quando não é tratada, pode se transformar em Burnout.
Outro fator que tem o seu peso para o desenvolvimento da condição é a falta de apoio ou suporte dos colegas e superiores. O médico ainda destaca que a questão da adaptação individual e produtividade flutuante também podem contribuir.
Outro fator destacado é a falta de recompensas suficientes. Como omissão de reconhecimento ou compensação pelo trabalho realizado, ou até mesmo a desmotivação e o propósito, que é altamente desvalorizado em um ambiente que exige produtividade constante e extrema.
Ao que parece, até os conflitos de valores também podem gerar a Síndrome de Burnout, que acontece quando o serviço exercido entra em conflito com os valores pessoais.
Por último e não menos importante, outro fator que influencia o Burnout é o ambiente de trabalho. Quando o clima ou a empresa é abusiva, tóxica ou mesmo negativa, pode levar ao desenvolvimento da doença.
Felizmente o Burnout é completamente tratável.Tanto através de abordagens imediatas para amenizar o problema por hora, quanto com medidas comportamentais para que a condição não se intensifique e vire uma doença crônica.
O psiquiatra Victor Lorenzetti exemplifica alguma delas:
Psicoterapia. O famoso TCC ou Terapia cognitivo comportamental é particularmente eficaz para tratar a síndrome, assim como vários problemas relacionados à saúde mental. “Ou ainda terapias de processamento de trauma, caso questões traumáticas/abusivas forem um deflagrador”, acrescenta o médico.
Mudanças no ambiente de trabalho. Ajustes nas demandas, melhoria de condições de trabalho, aumento do suporte e redes de apoio, podem ser um diferencial para amenizar o Burnout. Até a troca de emprego pode ser um fator determinante para a melhora.
Técnicas de relaxamento. Algumas atividades como meditação, exercícios físicos e técnicas de respiração podem ajudar a controlar o estresse.
Conhecimento. Entender a Síndrome de Burnout, os seus sintomas,como ela está te afetando e a responsabilidade da empresa, podem ser fatores essenciais para a melhora.
O médico ainda explica que, se necessário, é possível pedir um atestado médico para um eventual afastamento
Medicação. Assim como em outros problemas relacionados à saúde mental, em alguns casos, é necessário entrar com remédios para controlar os sintomas. A depender do caso e da intensidade, é possível introduzir fitocanabinoides ou psicotrópicos.
O Dr. Victor Lorenzetti explica que a medicação é normalmente introduzida quando os sintomas do Burnout já estão graves e interferindo de forma significativa na capacidade da pessoa de funcionar no dia a dia.
“Geralmente a ajuda só é procurada quando está grave. Antes disso, é comum o paciente ‘burnoutado’ ir acumulando, aguentado, até esgotar por completo”, acrescenta o médico.
Mas no geral, os medicamentos podem incluir:
Antidepressivos. Os sintomas de ansiedade e a depressão quase sempre estão acompanhados do Burnout. Dessa forma, os antidepressivos podem aumentar o recurso interno para lidar com a sensibilidade aumentada e a resiliência diminuída.
Ansiolíticos. Estes, por sua vez, assim como benzodiazepínicos podem ser um resgate para crises de ansiedade.
Sedativos. Medicações para insônia como antidepressivos com potencial sedativo ou as chamadas “drogas z” e, casos graves, podem ajudar por um tempo determinado.
Fitoterápicos. Remédios feitos com plantas, como adaptógenos, podem ajudar em casos leves.
Fitocanabinoides. Medicamentos feitos com a fitocanabinoides podem ser um importante aliado. Principalmente quando falamos do CBD (canabidiol), CBG (canabigerol), THC (tetrahidrocanabinol) e CBN (canabinol).
Eles podem ser usados em casos moderados a graves, avaliando a necessidade de tratamento coadjuvantes.
A cannabis medicinal tem sido de grande ajuda para uma série de condições médicas, o que inclui ainda, problemas como depressão, ansiedade e TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).
O médico explica que há evidências preliminares e evidências levemente robustas que sugerem que a cannabis medicinal pode ajudar em alguns sintomas de Burnout. “Principalmente devido às suas propriedades ansiolíticas e de alívio do estresse.”, acrescenta.
Por outro lado, a eficácia e a segurança ainda são estudados. Por isso que, em muitos casos, continua sendo a última opção de tratamento. Principalmente para pacientes com má aderência ou com muitos efeitos colaterais no tratamento tradicional.
“A cannabis medicinal se alia muito bem ao descanso, e com o tratamento funcional de uma Síndrome de Burnout.”, acrescenta o Dr. Victor Lorenzetti.
Até agora, as evidências científicas mostram que a cannabis pode:
Reduzir a ansiedade. Canabinoides como o CBD tem propriedades ansiolíticas que ajudam a diminuir a ansiedade.
Um estudo clínico realizado em 2004, por exemplo, mostrou que o efeito ansiolítico do canabidiol altera algumas atividades na região do cérebro que controla processos emocionais, no sistema límbico e paralímbico.
Melhora do sono. A cannabis pode ajudar a melhorar a qualidade do sono, que é frequentemente comprometida em pessoas com Burnout.
O psiquiatra explica que compostos CBD e CBN podem ajudar nisso. “Pode-se associar o THC para diminuir a latência do sono, mas sempre tomando cuidado”, acrescenta.
Em abril de 2020, uma pesquisa publicada no periódico Experimental and Clinical Psychopharmacology, mostrou que a cannabis pode ser eficaz no tratamento da insônia crônica.
O resultado foi uma melhora de 36% nos voluntários que receberam cannabis.
Regulação do humor. A cannabis trabalha através do chamado Sistema Endocanabinoide, um sistema que trabalha ajudando a regular várias funções do organismo. Entre elas o humor.
Para pacientes com Burnout, isso pode ser útil para reduzir sentimentos de desânimo e desespero.
Mas lembre-se: É importante que o uso de cannabis medicinal seja supervisionado por um profissional de saúde especializado, para garantir que seja utilizado de maneira segura e eficaz.
O médico também vai considerar os possíveis efeitos colaterais, interações com outros medicamentos, e principalmente avaliação de contra indicações.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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