A internet foi um importante instrumento para democratizar o acesso à informação. No entanto, ela também potencializou algo bem ruim, as notícias falsas (fake news). E no mundo canábico não seria diferente.
Embora os estudos sobre a planta estivessem acontecendo há anos, o “boom” sobre o conhecimentode das propriedades medicinais vieram com casos reais na última década. Só assim as pessoas começaram a perceber os benefícios da cannabis.
No entanto, a falta de informação no século XX acabou em uma proibição, que consequentemente gerou o preconceito e depois a desinformação, e até hoje carregamos os resquícios do que sobrou resultados em fake News.
Você pode perguntar para a maioria das pessoas mais velhas sobre “maconha” que aquela ideia de droga “diabólica” para viciados ou desocupados vai surgir na mente. Uma desinformação muito atrelada ao preconceito.
Quantos de nós já não acreditamos que a cannabis mata neurônios, que é a porta de entrada para outras drogas ou até que os remédios à base da planta causam dependência?
A verdade é que o mundo acabou construindo uma “ideia ruim” da cannabis que se perpetuou, e agora, não é necessariamente culpa nossa. Por outro lado, a decisão de estar aberto para entender melhor é responsabilidade de todos.
O ruim é quando isso influencia as ações de quem está no poder. Sobre o Projeto de Lei 399/15, que visa o cultivo de cannabis medicinal e cânhamo, a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, já se manifestou terminantemente contrária e sem embasamentos.
Ou até mesmo o polêmico Osmar Terra, que é uma voz contrária a cannabis há tempos. Ele insiste em dizer que a cannabis não é uma planta medicinal e que na verdade, só faz mal, mas nunca apresenta fatos concretos.
O problema é que os dois são vozes na política, que infelizmente acabam influenciando o público aumentando a falta de informação.
Pensamentos que podem chegar até o judiciário. Como o caso de Gilberto Castro, que foi pedir o habeas corpus e a juíza achou que ele era traficante. A sua casa foi revistada e ele correu o risco de ser preso.
Foi difícil até para a classe médica assumir as propriedades da planta. Apesar de aprovada em muitos países, foram poucos os prescritores que arriscaram indicar a cannabis, que só começou a crescer pela insistência dos pacientes.
Apesar do Sistema Endocanabinóide ser descoberto há anos, as Universidades brasileiras só foram introduzir matérias sobre isso, há pouco tempo.
Para o advogado Ladislau Porto, que dá assistência jurídica para a associação APEPI, as consequências dessa dificuldade em introduzir a cannabis medicinal na sociedade são sempre piores para os pacientes.
“Infelizmente, não dificulta o meu trabalho, dificulta toda uma sociedade, que busca uma melhora na sua qualidade de vida, que precisa da informação e do acesso ao remédio.” Acrescenta.
A militância dos pacientes foi crucial para o momento da virada. Foi por causa deles que as coisas começaram a mudar.
Pequenos passos são importantes e devemos comemorar, como:
Ainda há grandes etapas para desmistificar a planta e democratizar o seu acesso, que só deve acontecer com uma re-educação embasada em fatos, ciência, estudos e pesquisas, aliado a informação de qualidade curada por pessoas, projetos, profissionais e causas íntegras.
“Estamos falando de uma semente, uma planta e uma flor. Se isso não é de Deus, o que seria? Precisa do esforço da sociedade como um todo, para desmistificar essa planta que foi demonizada por 1 século. Quanto mais se discute, acredito que melhore.” Acrescentou o advogado.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Facom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós doutoranda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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