Se você pesquisar, vai ver que até cola de sapato pode prejudicar a mente, mas é verdade que a maconha mata neurônios? Entenda como funciona a erva mais usada do mundo.
Você já deve ter ouvido falar que maconha mata neurônios, mas a história não é bem assim. A derivação da cannabis sativa gera um certo efeito no cérebro humano, que pode influenciar até nos sonhos, mas não tem o poder de fritar a sua mente.
Primeiro que a cannabis é muito mais que a erva. Segundo a maconha é uma droga que está entre as mais consumidas do mundo e até hoje ninguém nunca teve uma overdose.
Mas, qual droga afeta os neurônios? Substâncias com altas taxas de toxicidades, que são encontrados em éter, benzina, lança-perfume, solventes e até no álcool, mas não no uso de maconha. Você nunca verá alguém tendo uma overdose da planta e dificilmente um viciado em uma busca desesperada pelas ruas. Entenda como ela funciona:
Para compreender melhor a ação da maconha no cérebro é preciso entender primeiro o que são canabinóides. O nosso corpo possui um sistema chamado Sistema Endocanabinóide, ele é responsável por manter o equilíbrio do organismo. Neste processo, os receptores canabinóides transmitem informações para as células se algo está errado, então os canabinóides são liberados no cérebro e no corpo a fim de corrigir e gerar estabilidade.
No cérebro os canabinóides funcionam para controlar a passagem de proteínas para as células, no corpo geralmente ajudam a moldar a resposta do sistema imunológico.
Quando o nosso organismo fica debilitado de canabinóides e precisamos de suprimento de fora, que são conhecidos como fitocanabinóides, pois é encontrado em alimentos, como plantas, vegetais e até leite materno.
Sabendo disso, agora podemos continuar. A maconha também possui centenas de canabinóides, que são responsáveis por gerar efeitos psicoativos e alguns são usados até para a fabricação de remédios.
Quando ela é consumida, libera um dos canabinóides mais conhecidos: o Tetrahidrocanabinol ou mais comumente chamado de THC. Trata-se da substância presente na cannabis que dá a sensação de “barato”, fazendo com que o cérebro libere dopamina, o hormônio que dá a sensação de bem-estar. Ele é parecido com a anandamida, que regula o nosso humor, sono, memória e apetite.
É por isso que a pessoa que consome maconha fica “feliz”, sonolenta, não se lembra de muita coisa ou até com fome.
Uma coisa curiosa é que os efeitos são ambíguos, enquanto alguns sentem sonolência e diminuição da atividade motora, muitos tem uma reação contrária, sentirão euforia e intensificação dos movimentos. Sempre vai depender do indivíduo e da quantidade que ele ingere.
No cérebro a maconha afeta também o equilíbrio, a coordenação motora, a postura e a noção do tempo, por um curto período em que o indivíduo está fumando. Por isso, é muito importante que o indivíduo não dirija depois de consumir a maconha.
Quanto tempo vive um maconheiro? Foi descoberto em 1988 que para ter uma overdose o indivíduo precisa consumir cerca de 680 kg de maconha em no máximo 15 minutos, o que equivale a mais ou menos de 20 mil a 40 mil cigarros de maconha.
Portanto, é praticamente impossível morrer por uma overdose de maconha, então não é ela que vai definir a quantidade de dias de vida. E fumar, queima neurônios? Também não. Embora a combustão do cigarro seja prejudicial também.
Outro fator é que a maconha tem os benditos canabinoides, por isso, o corpo absorve melhor.
No entanto, é importante lembrar que o exagero é perigoso. Você pode não morrer, mas as consequências são sérias. Consumir uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar pode levar a vômitos, náuseas, ansiedade paranoia e uma série de outras reações indesejáveis.
Sem contar com a procedência do produto. No Brasil o uso recreativo é proibido e por não ter uma regulamentação, toda a formulação é duvidosa, assim como a origem da maconha. A não ser que você plante, mas também é proibido.
Sim, a maconha pode prejudicar a memória, principalmente a de curto prazo. Efeito que acontece durante o uso, mas se a droga é consumida todos os dias, pode até reter informações.
Mas a memória pode voltar se ficar sem usar a substância em até sete dias, a maioria dos efeitos prejudiciais da maconha não são permanentes.
Outro efeito da maconha é a “falsa memória”. Um estudo realizado na Holanda pelo professor de psicofarmacologia Johannes Ramaekers, da Maastricht University, descobriu que pessoas que fumam maconha podem desenvolver ideias que pensem ser lembranças.
A suspeita é a ativação dos receptores no hipocampo, é como se fosse uma central da memória. O que pode produzir fragmentação do pensamento, desconexão de associações e aumento na distração.
Os efeitos da maconha sempre vão depender das características do indivíduo. Quando uma pessoa tem ansiedade, por exemplo, a chance de ficar angustiada ou ter emoções negativas e maior. Sem contar a concentração de THC. Quanto maior é a quantidade da substância na maconha, mais chances de aumentar a ansiedade.
Isso acontece também com a depressão, a ansiedade e até esquizofrenia, pois os principais problemas de saúde relacionados à cannabis estão no sistema nervoso central.
Não vou mentir para você, a maconha pode sim causar dependência, se consumida em grandes quantidades. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificação da planta para induzir à dependência está entre leve e moderada.
Isso quer dizer que se alguém consumir em grandes doses e por muito tempo, pode sim levar a um tipo de dependência, mas certamente não é maior que álcool ou heroína. Dificilmente haverá uma busca desenfreada por maconha.
Não há estudos que afirmam de forma clara o porquê a planta vicia, quais são os mecanismos que levam a dependência. Mas o que se sabe é que a porcentagem de pessoas que ficam dependentes varia de 5% a 8%, uma porcentagem baixa se você for comparar com outras drogas como o cigarro, por exemplo.
No entanto, os sintomas de abstinência não passam de irritabilidade, falta de apetite e insônia.
Não devemos demonizar o canabinoide THC, pois ele combate várias doenças comprovadas cientificamente de forma bastante útil. Com por exemplo, o câncer: a maconha pode diminuir os efeitos da quimioterapia e até reduzir a necessidade de usá-la.
O canabinóide é usado até para a fabricação de medicamentos, mas na maioria das vezes, só utiliza 0,2% de Tetra-hidrocanabinol. Com exceção à esclerose múltipla, onde o Mevatyl, medicamento utilizado para a doença, pode chegar a uma taxa de até 50% de THC.
Inclusive, este é o único medicamento aprovado no Brasil para a compra sob prescrição médica.
Para quem acha que a maconha mata neurônios, é porque não sabe do alto nível de toxicidade do álcool. Sem contar que é a droga que mais mata no Brasil e no mundo, pois predispõe uma série de outras doenças.
Outro canabinóide potente para várias doenças, principalmente no tratamento de epilepsia refratária é o canabidiol (CBD), mas aí já é história para outro artigo.
E não. Assim como a maconha, não é possível ter uma overdose de canabidiol.
É importante lembrar que a maconha é apenas uma variação da espécie de cannabis sativa. A planta cannabis tem três tipos de espécies: sativa, indica e ruderalis. Em cada uma delas, uma grande quantidade de variações, que servem para as mais diversas funções, desde remédios até a fibra para cordas, materiais de construção e combustível.
Os growers até modificam geneticamente algumas plantas cannabis para ter as substâncias desejadas mais intensificadas. As alterações podem alterar o gosto, o cheiro e até o nível de propriedades psicoativas. Mas em nenhuma espécie a maconha mata neurônios.
Em junho do ano passado, os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) formaram maioria para descriminalizar a maconha para uso pessoal. Os ministros ainda definiram uma quantidade de 40 gramas para diferenciar o traficante do usuário.
Isso quer dizer usuários não são mais punidos com prisão, mas terão medidas administrativas. Lembre-se que a maconha é uma droga que não foi legalizada, mas descriminalizada.
Por outro lado, se houver indícios de tráfico, como balanças e quantidades fracionadas, mesmo que seja menos de 40g, pode resultar em cadeia.
É possível comprar cannabis no Brasil, mas apenas para fins medicinais no Brasil, e com receita. Você pode adquirir através de importações, nas farmácias e até por associações de pacientes.
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Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduada na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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