Você já deve ter ouvido falar que maconha queima neurônios, mas a história não é bem assim. A derivação da cannabis sativa gera um certo efeito no cérebro humano, que pode influenciar até nos sonhos, mas não tem o poder de fritar neurônios.
O que pode matar neurônios são substâncias com altas taxas de toxicidades, que são encontrados em éter, benzina, lança-perfume, solventes e até no álcool, mas não na maconha. Você nunca verá alguém tendo uma overdose da planta e dificilmente um viciado em uma busca desesperada pelas ruas. Entenda como ela funciona:
Para compreender melhor a ação da maconha no cérebro é preciso entender primeiro o que são canabinóides. O nosso corpo possui um sistema chamado Sistema Endocanabinóide, ele é responsável por manter o equilíbrio do organismo. Neste processo, os receptores canabinóides transmitem informações para as células se algo está errado, então os canabinóides são liberados no cérebro e no corpo a fim de corrigir e gerar estabilidade.
No cérebro os canabinóides funcionam para controlar a passagem de proteínas para as células, no corpo geralmente ajudam a moldar a resposta do sistema imunológico.
Quando o nosso organismo fica debilitado de canabinóides e precisamos de suprimento de fora, que são conhecidos como fitocanabinóides, pois é encontrado em alimentos, como plantas, vegetais e até leite materno.
Sabendo disso, agora podemos continuar. A maconha também possui centenas de canabinóides, que são responsáveis por gerar efeitos psicoativos e alguns são usados até para a fabricação de remédios.
Quando ela é consumida, libera um dos canabinóides mais conhecidos: o Tetrahidrocanabinol ou mais comumente chamado de THC. É ele que dá a sensação de “barato”, fazendo com que o cérebro libere dopamina, o hormônio que dá a sensação de bem-estar. Ele é parecido com a anandamida, que regula o nosso humor, sono, memória e apetite.
É por isso que a pessoa que consome maconha fica “feliz”, sonolenta, não se lembra de muita coisa ou até com fome.
Uma coisa curiosa é que os efeitos são ambíguos, enquanto alguns sentem sonolência e diminuição da atividade motora, muitos tem uma reação contrária, sentirão euforia e intensificação dos movimentos. Sempre vai depender do indivíduo e da quantidade que ele ingere.
No cérebro a maconha afeta também o equilíbrio, a coordenação motora, a postura e a noção do tempo, por um curto período em que o indivíduo está fumando. Por isso, é muito importante que o indivíduo não dirija depois de consumir a maconha.
Foi descoberto em 1988 que para ter uma overdose o indivíduo precisa consumir cerca de 680 kg de maconha em no máximo 15 minutos, o que equivale a mais ou menos de 20 mil a 40 mil cigarros da erva. Por isso é praticamente impossível morrer por uma overdose de maconha.
Outro fator é que a maconha tem os benditos canabinóides, por isso, o corpo absorve melhor.
No entanto, é importante lembrar que o exagero é perigoso. Você pode não morrer, mas as consequências são sérias. Consumir uma quantidade maior do que o corpo pode aguentar pode levar a vômitos, náuseas, ansiedade paranoia e uma série de outras reações indesejáveis.
Sem contar com a procedência do produto. No Brasil o uso recreativo é proibido e por não ter uma regulamentação, toda a formulação é duvidosa, assim como a origem da maconha. A não ser que você plante, mas também é proibido.
Sim, a maconha pode prejudicar a memória, principalmente a de curto prazo. Efeito que acontece durante o uso, mas se a droga é consumida todos os dias, pode até reter informações.
Mas a memória pode voltar se ficar sem usar a substância em até sete dias, a maioria dos efeitos prejudiciais da maconha não são permanentes.
Outro efeito da maconha é a “falsa memória”. Um estudo realizado na Holanda pelo professor de psicofarmacologia Johannes Ramaekers, da Maastricht University, descobriu que pessoas que fumam maconha podem desenvolver ideias que pensem ser lembranças.
A suspeita é a ativação dos receptores no hipocampo, é como se fosse uma central da memória. O que pode produzir fragmentação do pensamento, desconexão de associações e aumento na distração.
Os efeitos da maconha sempre vão depender das características do indivíduo. Quando uma pessoa tem ansiedade, por exemplo, a chance de ficar angustiada ou ter emoções negativas e maior. Sem contar a concentração de THC. Quanto maior é a quantidade da substância na maconha, mais chances de aumentar a ansiedade.
Isso acontece também com a depressão, a ansiedade e até esquizofrenia, pois os principais problemas de saúde relacionados à cannabis estão no sistema nervoso central.
Não vou mentir para você, a maconha pode sim causar dependência, se consumida em grandes quantidades. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificação da planta para induzir à dependência está entre leve e moderada.
Isso quer dizer que se alguém consumir em grandes doses e por muito tempo, pode sim levar a um tipo de dependência, mas certamente não é maior que álcool ou heroína. Dificilmente haverá uma busca desenfreada por maconha.
Não há estudos que afirmam de forma clara o porquê a planta vicia, quais são os mecanismos que levam a dependência. Mas o que se sabe é que a porcentagem de pessoas que ficam dependentes varia de 5% a 8%, uma porcentagem baixa se você for comparar com outras drogas como o cigarro, por exemplo.
No entanto, os sintomas de abstinência não passam de irritabilidade, falta de apetite e insônia.
Não vamos demonizar o canabinóide THC, pois ele pode ser bastante útil no combate de várias doenças comprovadas cientificamente. Com por exemplo, o câncer: a maconha pode diminuir os efeitos da quimioterapia e até reduzir a necessidade de usá-la.
O canabinóide é usado até para a fabricação de medicamentos, mas na maioria das vezes, só utiliza 0,2% de Tetra-hidrocanabinol. Com exceção à esclerose múltipla, onde o Mevatyl, medicamento utilizado para a doença, pode chegar a uma taxa de até 50% de THC.
Inclusive, este é o único medicamento aprovado no Brasil para a compra sob prescrição médica.
Já o álcool tem o poder de queimar neurônios por causa do alto nível de toxidade. Sem contar que é a droga que mais mata no Brasil e no mundo, pois predispõe uma série de outras doenças.
Outro canabinóide potente para várias doenças, principalmente no tratamento de epilepsia refratária é o canabidiol (CBD), mas aí já é história para outro artigo.
É importante lembrar que a maconha é apenas uma variação da espécie de cannabis sativa. A planta cannabis tem três tipos de espécies: sativa, indica e ruderalis. Em cada uma delas, uma grande quantidade de variações, que servem para as mais diversas funções, desde remédios até a fibra para cordas, materiais de construção e combustível.
Algumas plantas cannabis são até modificadas geneticamente para ter as substâncias desejadas mais intensificadas. As alterações podem alterar o gosto, o cheiro e até o nível de propriedades psicoativas.
Tainara Cavalcante
Jornalista pela Fapcom (Faculdade Paulus de Comunicação) e pós graduanda na FAAP (Fundação Armando Alves Penteado) em Jornalismo Digital, atua como produtora de conteúdo no Cannalize, Dr. Cannabis e Cannect. Amante de literatura, fotografia e conteúdo de qualidade.
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